Por José Nelson Bessa Maia (*)
A
história da inserção internacional do Ceará é oscilante. Ondas ascenderam e baixaram
em conjunturas diferentes. Ora é um caso de internacionalização exemplar
de paradiplomacia no Brasil, ora impera um olhar sonolento e equidistante das
possibilidades externas. Apesar dos avanços recentes (como o Ceará 2050), há
uma percepção de que o Estado deveria explorar melhor as oportunidades que se
abrem em um mundo que reconfigura os canais da globalização produtiva
e no momento em que o Brasil, após quatro anos de isolamento, volta a se
inserir de forma ativa na rede societária internacional.
O
Ceará foi pioneiro na busca de captação de recursos externos e assistência
técnica para ajudar a financiar seu desenvolvimento em 1963 quando o então
governador Virgílio Távora visitou o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) em Washington, assim como na promoção de exportação
quando criou-se o Promoexport em 1968. O Estado também foi um dos primeiros na
federação a atrair investimentos com a criação do Fundo de Desenvolvimento
Industrial (FDI) em 1979, a estabelecer sua secretaria de assuntos internacionais
(em 1995) e a formular uma vigorosa estratégia de inserção internacional com a
implantação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP)
em 1998.
O
Ceará mudou muito nos últimos 30 anos e transformou sua economia e gestão
pública. Os bons resultados estão aí em diversos campos, como a educação,
energias alternativas, logística, recursos hídricos e indústria de base. Mas
mesmo assim somos pouco mais de 2% da economia brasileira, contra 1,5% em 1987.
Uma economia ainda pequena (US$ 35,3 bilhões) e de baixo ritmo de crescimento
para superar de vez as chagas da pobreza e da vulnerabilidade às secas que
nos assolam desde os tempos da colonização portuguesa.
Os
avanços de internacionalização da economia cearense poderiam ter sido muito
maiores se não tivesse havido o desmonte feito nas instituições e organizações
voltadas para as relações externas durante os dois mandatos de
Cid Gomes (2007-2014). Com esse desmonte o Ceará perdeu participação nas
exportações nacionais e inúmeras oportunidades de negócios e investimento com a
Europa, África e China. Afortunadamente o governo Camilo Santana restabeleceu
o aparato de articulação paradiplomática e o Ceará voltou a atrair
investimentos externos e ampliar as exportações graças à Siderúrgica do Pecém.
No
entanto, agora é o momento de reforçar o desenvolvimento do estado e aumentar o
seu potencial de crescimento por meio de uma estratégia mais agressiva,
profissional e sustentada de paradiplomacia. A promoção de
exportações e de investimentos exige uma postura mais ativa das autoridades
estaduais para captar recursos em escala suficiente para atender as
necessidades do estado, reduzir a pobreza rural, diminuir as desigualdades
espaciais de renda e potencializar a geração de empregos. A nova secretaria de Assuntos
internacionais do governo do estado pode contribuir e muito nessa tarefa.
Avança Ceará!
(*) Mestre em
Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e rx-secretário de Assuntos
Internacionais do governo do Ceará.
Fonte: O Povo, de 5/1/23. Opinião. p.15.
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