terça-feira, 10 de janeiro de 2023

O HIDROGÊNIO E O FUTURO

Por Henrique Soárez (*)

Está em curso uma batalha sobre o papel do hidrogênio no caminho até zerarmos a nossa pegada planetária de carbono. De um lado estão os que vêm a queima do hidrogênio produzir nada mais que energia e água. De outro lado, os que tomam notas sobre a quantidade e a origem da energia necessária para produzir o hidrogênio dito verde.

Uns creem que o hidrogênio será usado como combustível de navios, aviões e trens, para aquecimento residencial e até mesmo para a produção de cimento e aço sustentável. Outros alegam que a ineficiência energética da hidrólise e da posterior liquefação das pequenas moléculas de H2 restringirá suas aplicações finais a processos como a produção de fertilizantes. Entre os dois extremos encontraremos capitalistas apostando seus recursos em desfechos específicos. Governos e iniciativa privada precisam um do outro para chegarmos ao futuro sem CO2.

Empresários podem apostar (leia-se: multiplicar ou perder) seu capital. Andrew Forrest, por exemplo, fez fortuna minerando os desertos australianos e agora aposta que o hidrogênio possibilitará a produção de aço sem o uso do carvão. Forrest alega que a produção de aço pelos meios atuais utilizaria 100% do orçamento de carbono associado à meta de 1,5oC de aquecimento global. Para ele, a Austrália será a "Arábia Saudita do Hidrogênio Verde."

Governos, por sua vez, devem ser conservadores no uso dos recursos vindos do pagador de impostos. Vale oferecer infraestrutura, como linhas de transmissão de eletricidade, especialmente se essa tiver utilidade para outras indústrias. É indispensável oferecer segurança jurídica, pois o capital só virá se os eventuais ganhos forem capturáveis. Se os terrenos envolvidos forem abundantes e baratos é razoável que sejam dados como incentivo. Isenções fiscais também serão lícitas desde que compatíveis com aquelas dadas a outros setores produtivos.

O hidrogênio verde depende também de insumos como água doce e eletricidade renovável. Assim, importa que nossos governantes se abstenham de intervir na sua precificação. O bom funcionamento da economia em geral depende da sinalização cristalina dos preços para que o capital chegue ao seu destino correto.

(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/12/22. Opinião, p.14.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog