terça-feira, 7 de outubro de 2025

"REALPOLITIK"

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Discordo da estratégia que justifica a forma pragmática que perpetuamos o poder em nosso país. Refiro-me a escolha de estratégias de poder em detrimento de noções ideológicas, ou seja, às custas do sacrifício do bem comum. Faz-se, frequentemente, com políticas coercitivas e imorais. Para Nietzsche, trata-se de um tipo de ceticismo moral, onde as relações de poder tendem a destruir todas as pretensões de fundamentação moral.

No pragmatismo desprovido de qualquer conceito ideológico se estabelece uma relação promíscua entre os poderes, visto que a lei rege as relações entre o poder e a sociedade. Sócrates afirmava que a ruína de uma sociedade acontece pela sujeição da lei ao governante e sua salvação pela imposição da lei sobre os governantes, tornando-se, a si mesmos, obedientes à lei. Infelizmente, nos dias atuais, continuamos a assistir a implantação de leis formuladas para manter os interesses dos governantes.

Assim, a “Realpolitik” é aplicada para assegurar interesses, requerendo o sacrifício de princípios ideológicos. Um dos exemplos, aconteceu nos EUA durante as administrações de Nixon e Reagan, as quais, frequentemente, apoiaram governos que violavam os direitos humanos, em princípio, para assegurar o interesse nacional norte-americano.

No Brasil, podemos citar a proposta da reeleição e, principalmente, a governabilidade obtida pela cooptação do legislativo através de favores e emendas parlamentares desprovidas de qualquer critério de eficiência em sua aplicação. Assim sendo, formam-se concepções diferentes. Pois, para os opositores são atitudes imorais, enquanto para os situacionistas um argumento de que estariam operando nos limites práticos.

Pois bem, o que fazermos para reverter esse destino social perverso?. A meu entender, alguns pontos devem ser lembrados para uma análise mais crítica. Em primeiro aspecto foi a vida em comunidade que permitiu a expansão da civilização humana, e através da preservação da sua identidade, dos seus conceitos e valores. Em segundo, entendemos o mundo como comunidades, países sem fronteiras.

Dessa forma, seria conveniente pensar sobre uma outra proposta de organização de sociedade, ou seja, revertendo o modelo atual e de séculos passados. Luc Ferry propôs uma "política de civilização" que norteia-se em questões práticas, fundamentadas no coletivo a serviço das pessoas. Trata-se de uma mudança de paradigma, pois modifica a atual visão de Estado e volta-se para o binômio família e empresas, propondo estratégias objetivas, econômicas e sociais, como meio de mudança da realidade atual.

Mas, para tal, precisamos crer na possibilidade de mudar, como dizem realizar um “Turnaround”, ou seja, romper com a “realpolitik”. Creio ser a única forma de restabelecer a credibilidade e fortalecer a democracia. Provavelmente, uma saída inexorável. Espero que aconteça de forma espontânea, inteligente e justa. Se não, vamos assistir ao aumento da barbárie em que já vivemos.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/09/2025. Opinião. p.21.


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