Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Discordo da estratégia que justifica a
forma pragmática que perpetuamos o poder em nosso país. Refiro-me a escolha de
estratégias de poder em detrimento de noções ideológicas, ou seja, às custas do
sacrifício do bem comum. Faz-se, frequentemente, com políticas coercitivas e
imorais. Para Nietzsche, trata-se de um tipo de ceticismo moral, onde as
relações de poder tendem a destruir todas as pretensões de fundamentação moral.
No pragmatismo desprovido de qualquer
conceito ideológico se estabelece uma relação promíscua entre os poderes, visto
que a lei rege as relações entre o poder e a sociedade. Sócrates afirmava que a
ruína de uma sociedade acontece pela sujeição da lei ao governante e sua
salvação pela imposição da lei sobre os governantes, tornando-se, a si mesmos, obedientes
à lei. Infelizmente, nos dias atuais, continuamos a assistir a implantação de
leis formuladas para manter os interesses dos governantes.
Assim, a “Realpolitik” é aplicada para
assegurar interesses, requerendo o sacrifício de princípios ideológicos. Um dos
exemplos, aconteceu nos EUA durante as administrações de Nixon e Reagan, as
quais, frequentemente, apoiaram governos que violavam os direitos humanos, em
princípio, para assegurar o interesse nacional norte-americano.
No Brasil, podemos citar a proposta da
reeleição e, principalmente, a governabilidade obtida pela cooptação do
legislativo através de favores e emendas parlamentares desprovidas de qualquer
critério de eficiência em sua aplicação. Assim sendo, formam-se concepções
diferentes. Pois, para os opositores são atitudes imorais, enquanto para os
situacionistas um argumento de que estariam operando nos limites práticos.
Pois bem, o que fazermos para reverter esse
destino social perverso?. A meu entender, alguns pontos devem ser lembrados
para uma análise mais crítica. Em primeiro aspecto foi a vida em comunidade que
permitiu a expansão da civilização humana, e através da preservação da sua
identidade, dos seus conceitos e valores. Em segundo, entendemos o mundo como
comunidades, países sem fronteiras.
Dessa forma, seria conveniente pensar sobre
uma outra proposta de organização de sociedade, ou seja, revertendo o modelo
atual e de séculos passados. Luc Ferry propôs uma "política de
civilização" que norteia-se em questões práticas, fundamentadas no
coletivo a serviço das pessoas. Trata-se de uma mudança de paradigma, pois
modifica a atual visão de Estado e volta-se para o binômio família e empresas,
propondo estratégias objetivas, econômicas e sociais, como meio de mudança da
realidade atual.
Mas, para tal, precisamos crer na
possibilidade de mudar, como dizem realizar um “Turnaround”, ou seja, romper
com a “realpolitik”. Creio ser a única forma de restabelecer a credibilidade e
fortalecer a democracia. Provavelmente, uma saída inexorável. Espero que
aconteça de forma espontânea, inteligente e justa. Se não, vamos assistir ao
aumento da barbárie em que já vivemos.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 6/09/2025.
Opinião. p.21.
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