Por Gabriela Félix
(*)
Às margens da praia da Leste Oeste, em
Fortaleza, ergue-se a imponente Igreja Matriz de São Francisco de Assis de
Jacarecanga. O templo guarda nas paredes a história de uma obra que vai além da
fé. Após 81 anos, a entrega da construção do santuário será celebrada com uma
missa a ser celebrada hoje, 3, a partir das 18 horas.
Inaugurada no Ano Jubilar da Esperança,
a paróquia contará com uma escultura de São Francisco de Assis, medindo mais de
sete metros e pesando cerca de três toneladas. A obra, assinada pelo artista
plástico e escultor Edismar Arruda, ficou pronta em nove meses.
A ideia inicial da imagem surgiu do
padre Francisco Bezerra do Carmo e do arcebispo de Fortaleza, dom Gregório
Paixão. Descartando a sugestão primária da escultura ser feita de bronze,
optou-se por materiais recicláveis.
A escolha pela sucata de aço reciclável,
segundo conta Arruda, alinhou-se à figura de São Francisco, Patrono da
Ecologia: "Consegui fazer essa escultura com todas as ferramentas que eu
tinha, mas só usei duas: a fé e a coragem".
Vizinha da paróquia e frequentadora do
templo desde os oito anos de idade, a assistente social Ione Arruda, 69, conta
que a finalização da obra representa um sentimento de segurança e
pertencimento. Ela descreve o monumento como um refúgio que reforça a sensação
de estarem "na casa de Deus".
Para ela, a entrega da construção é
vista como a realização de um sonho longamente esperado pelos moradores, tanto
os atuais quanto os antigos que já faleceram e não tiveram a oportunidade de
vê-la pronta: "Faltava o teto, embora romanticamente tinha o teto do céu, com
as estrelas e a lua quando ela assim permitia. Mas, agora sim é um lugar que
acolhe muita gente e as pessoas se surpreendem ao ver a altura dela e a largura".
Ainda entre escombros, o santuário
abrigou sonhos, famílias e a memória de uma comunidade. Em entrevista ao O
POVO, o pároco Francisco Bezerra do Carmo rememora a história do edifício.
Desvinculada da Paróquia do Patrocínio,
a Paróquia de São Francisco de Assis (Jacarecanga) foi instalada oficialmente
com a posse, aos 6 de fevereiro de 1944, do padre Abelardo Ferreira Lima.
Apesar disso, foi somente no ano de 1952
que teve início a construção efetiva da obra, liderada por monsenhor Hélio
Campos, que era pároco do Pirambu e dava assistência à região, permanecendo no
pastoreio até 1958.
Sem teto, a estrutura da paróquia
permaneceu inacabada por décadas. A exposição contínua ao sol, à chuva e à
maresia comprometeu a infraestrutura do local. Apesar disso, o espaço se tornou
morada para oito famílias, que residiram no prédio inacabado durante 18 anos.
Todas posteriormente foram cadastradas e receberam moradias por meio do
programa Minha Casa, Minha Vida, mudando-se para um condomínio na avenida
Francisco Sá.
A chegada do padre Bezerra à paróquia se
deu no ano de 2007 para auxiliar os trabalhos de padre Mirton, que se
encontrava com a saúde debilitada.
"São Francisco, patrono da ecologia, da
natureza, nos ajudou esses anos todos a preservar esse ambiente e somar forças
para poder fazer hoje o término dessas obras. O equipamento que a gente está
apresentando, entregando à comunidade, é um marco na fé, não só do povo do
Jacarecanga, mas de toda a Cidade, de todos aqueles que passam aqui e
contemplam esta obra", celebra o pároco.
Em 2010, a igreja ainda estava sem teto.
Nesta época, o padre Bezerra solicitou um laudo da Defesa Civil e do Corpo de
Bombeiros sobre a situação estrutural do prédio. O relatório mostrou que os
danos na infraestrutura representavam riscos.
A construção maior teve início em 2014.
Padre Bezerra conta que foi necessário refazer todas as bases da estrutura e
somente no ano de 2018 o teto foi finalmente instalado.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: O Povo, de 3/10/2025. Cidades. p.17.
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