Por Priscila Figueiredo (*)
A violência doméstica permanece como uma
chaga social que afeta milhares de mulheres brasileiras diariamente. No Ceará,
dados revelam uma realidade preocupante que exige ação coordenada entre
diversos setores. Neste contexto, o acesso aos serviços de saúde emerge como
ferramenta fundamental na prevenção e combate a este tipo de violência.
Profissionais de saúde são frequentemente
os primeiros a identificar sinais de violência doméstica. Uma consulta de
rotina pode revelar marcas físicas ou comportamentos que indicam abuso.
Hematomas em locais específicos, fraturas recorrentes, ansiedade excessiva ou
relutância em falar sobre ferimentos são indicadores que merecem atenção
especial. Quando adequadamente capacitados, esses profissionais tornam-se
agentes essenciais na rede de proteção, oferecendo acolhimento, orientação e
encaminhamento às vítimas.
A Agenda 2030 da ONU reconhece esta
interconexão. O ODS 5, especificamente a meta 5.2, visa eliminar todas as
formas de violência contra mulheres e meninas. Para alcançá-la, o ODS 17
destaca a importância das parcerias: unidades de saúde trabalhando com
delegacias especializadas, centros de referência, assistência social e o
sistema de justiça.
O acolhimento humanizado nos postos de
saúde e hospitais cria ambiente seguro para que vítimas relatem suas
experiências. A privacidade durante consultas, a escuta sem julgamentos e o
respeito ao tempo da vítima são elementos fundamentais nesse processo. Quando
uma mulher encontra no posto de saúde um ambiente seguro para relatar sua
situação, inicia-se um processo de ruptura do ciclo de violência.
No entanto, ainda enfrentamos desafios. A
subnotificação dos casos, a falta de recursos adequados e a necessidade de
melhor articulação entre os serviços representam obstáculos a serem superados.
É necessário investir na formação continuada dos profissionais de saúde, criar
protocolos claros de atendimento e fortalecer a articulação entre os serviços.
A saúde pública não pode ser vista isoladamente, mas como parte de uma
estratégia integrada de proteção.
A redução da violência doméstica passa,
inevitavelmente, pelo fortalecimento do SUS e pela construção de pontes entre
saúde, segurança e justiça. Cada unidade básica de saúde pode ser um ponto de
apoio na construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as
mulheres.
(*) Médica
e ex-prefeita de Quiterianópolis.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 30/08/2025.
Opinião. p.16.
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