Mostrando postagens com marcador Rússia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rússia. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 10 de março de 2022

BRIGAS DE FAMÍLIA: a Rússia versus a Ucrânia

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Para a perplexidade de muitos observadores, Putin tornou-se um historiador amador e começou a inventar notícias sobre o passado da Rússia, fundando-se em que russos e ucranianos são pertencentes à mesma “Nação Eslava”, ignorando que os conflitos entre os dois grupos são tão irreconciliáveis quanto as rixas familiares.

Os presságios são especialmente ruins quando um dos “irmãos” acredita ser seu direito natural estar no comando de toda a família e o outro não aceita. Ocorre que poucos conflitos são tão profundos e irreconciliáveis quanto as rixas familiares.

As tensões entre a Rússia e a Ucrânia são agravadas por uma disputa sobre heranças. Senão vejamos.

As tradicionais batalhas russas — seja contra os poloneses no século XVII, os suecos no 18, os franceses no 19 ou os alemães no 20 — seguem idêntico padrão. Putin parece estar explorando essa tradição, invocando, segundo imagina, intrigas do Ocidente ou da passada Guerra Fria. A reunificação da nação eslava, trazendo Bielorrússia e Ucrânia de volta à proteção da Grande Rússia seria o sonho imaginado pelo atual autocrata e seu desejo histórico, como ex-membro que é da (KGB) (o serviço secreto da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS).

Na verdade, os líderes da Rússia nunca aceitaram a ideia da Ucrânia como nação independente. Após o colapso da União Soviética, eles culpam o Ocidente, que teria rompido os laços familiares russo-ucranianos. A Rússia acusou os poloneses de serem seduzidos, primeiro pelo Vaticano em relação à igreja Ortodoxa. Hoje a Polônia é predominantemente percebida na Rússia como apenas mais um país estrangeiro desde que foi convertida ao catolicismo.

No entanto, tal como aconteceu com a Polônia no século XIX, a animosidade ciumenta que muitos russos experimentam hoje em relação a seus “irmãos” desleais em Kiev é psicossocial. Não se pode esquecer de que a vida é possuidora de recursos ilimitados para ensinar suas lições até mesmo para os alunos mais teimosos, contudo as famílias às vezes se separam e nada mais sangrento que as brigas intrafamiliares.

Infelizmente, esta análise será de pouco conforto para aqueles que hoje têm de arcar com o custo de uma obstinação arcaica.

Os russos veem os ucranianos como irmãos, apesar do sangue derramado e do contágio com um mundo informatizado e com ogivas nucleares.

Tenho quase certeza de que a maioria dos russos e seus líderes acabarão aprendendo a aceitar a independência da Ucrânia e passarão a viver no presente.

O mundo mudou e a China está aí – de olho!

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

domingo, 27 de setembro de 2020

REVIVENDO A CORRIDA ESPACIAL EM TEMPOS DA COVID-19

      A quase bicentenária revista médica The Lancet, cuja credibilidade científica fora duramente arranhada recentemente, a reboque de um polêmico e malfadado artigo sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, publicou em 4 de setembro de 2020 um trabalho contendo os achados iniciais de um estudo com uma vacina russa, denominada Sputnik V, testada contra o novo coronavírus.

O imunizante em apreço encontra-se em desenvolvimento no Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia pertencente ao Ministério da Saúde da Rússia, cujo governo prometeu começar em outubro próximo a vacinação em massa dos seus cidadãos.

A Sputnik V é uma vacina de vetor em que o material genético do vírus é transportado por um vírus inócuo, que não consegue se replicar, com o propósito de estimular a produção de anticorpos contra o Sars-CoV-2. Ela usa dois vetores de adenovírus: um é o adenovírus humano recombinante tipo 26 (rAd26-S) e o outro é o adenovírus humano recombinante tipo 5 (rAd5-S), que foram alterados para expressar a proteína S do novo coronavírus, uma proteína utilizada pelo vírus para ingressar nas células e infectá-las.

As vacinas foram elaboradas em formato congelado, já considerando a necessidade da produção e da distribuição em larga escala, e na versão liofilizada, para permitir que a vacina seja remetida a locais remotos e se mantenha estável em baixas temperaturas.

A investigação foi aplicada em dois grupos de 38 adultos saudáveis, perfazendo 76 sujeitos, com idades entre 18 e 60 anos, acompanhados durante 42 dias, sendo um para medir a segurança da vacina e outro para avaliar a sua eficácia.

Os indivíduos assim que se voluntariaram a receber a vacina se isolaram, para evitar contágio prévio por coronavírus. Após a inoculação, eles foram seguidos, ao longo dos dias de acompanhamento, em dois hospitais russos. A versão congelada foi administrada no Hospital Burdenko, uma unidade do Ministério da Defesa, e incluía militares. A versão liofilizada foi testada na Universidade Sechenov, apenas com voluntários civis.

Os autores do estudo afirmaram ter identificado a eficácia da Sputnik V, interpretando que os resultados sugerem que a vacina produz uma resposta das células T dentro de 28 dias e que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas.

Cumpre salientar que o “n” amostral do estudo russo foi de pequeno tamanho, condição também reconhecida pelos próprios autores e ainda sofreu vicio de seleção, perceptível na sua proeminência de pessoas jovens, bem como pela presença de muitos militares entre os recrutados do estudo.

Para esses autores, a segurança foi comprovada porque não teriam acontecido resultados adversos nas pessoas testadas, como consequência da Sputnik V. Contudo, essa vacina não ficou livre de efeitos colaterais, posto que, entre os investigados, cerca de metade deles teve febre alta (50%) e cefaleia (42%); além disso, aproximadamente um quarto se queixou de adinamia (28%) e de artralgias / mialgias (24%).

A bem da verdade, nenhum dos efeitos colaterais acima reportados é qualificado como efeito adverso grave, sendo eles usualmente semelhantes aos que são detectados no processo de desenvolvimento de vacinas similares.

Sabe-se que efeitos adversos graves de fármacos em estudo são, frequentemente, eventos de ocorrência rara, sendo, por conseguinte, muito baixa a sua probabilidade de ocorrer em pequenas amostras. Em geral, quando eles existem, apenas são verificados em estudos de fase III, como o que se constatou, recentemente, com a vacina ora em desenvolvimento, fruto da parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca, quando se diagnosticou um caso de mielite transversa, o que desencadeou a suspensão temporária da pesquisa, para se dirimir a causalidade, associando-a ou não ao uso dessa vacina. Por vezes, os efeitos adversos graves somente são aflorados quando o fármaco já está liberado para amplo emprego populacional e se acha em processo de vigilância pós-comercialização.

Os resultados do estudo russo foram acolhidos de modo entusiástico por governantes e pelo público em geral, porém apenas discretamente encorajadores na comunidade científica, diante da velocidade na realização da pesquisa e da sua subsequente publicação na The Lancet, e por ser ainda um estudo de fase II.

Há mais de uma centena de vacinas sendo desenvolvidas em laboratórios de vários países e algumas delas já vêm sendo testadas em estudos multicêntricos de fase avançada conduzidos em muitos países, a exemplo do Brasil, no esforço internacional de se dotar a humanidade de uma vacina que seja, ao mesmo tempo, eficaz e segura, e igualmente acessível e de baixo custo.

Há, claramente, uma disputa de mercado, marcado não tanto para gerar um benefício para a Humanidade, mas para garantir um lucro exacerbado aos fabricantes que se assenhorarem dessa cadeia de produção, comercialização, distribuição e aplicação da vacina contra o novo coronavírus. Dificilmente, o mundo se deparará com o altruísmo perpetrado por Albert Sabin, que renunciou ao seu inerente direito de patente da vacina antipoliomielite oral, para tornar a sua invenção algo inteiramente acessível aos povos e nações. A ele, no entanto, foi-lhe negado o Prêmio Nobel de Medicina, apesar de sucessivas indicações do seu nome para auferir essa honraria; entretanto, a despeito dessa injustiça, o cientista Albert Sabin figura no rol dos grandes benfeitores da humanidade.

Desperta especial atenção o fato do Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia nada ter publicado sobre os resultados laboratoriais com o patógeno e os ensaios pré-clínicos dessa pesquisa, tornando público os resultados da sua fase II.

Alguns elementos dessa investigação desencadeiam severas críticas e dúvidas sobre o presente projeto do Instituto Gamaleya. Um deles, naturalmente, é a pressa com que os russos buscaram se projetar nesse campo científico, mormente quando se desconhece uma contribuição de proa e deveras inovadora no âmbito da pesquisa imunológica oriunda das frias estepes russas.

Considerando o ambiente de concorrência, às vezes até um pouco inóspito, entre a Rússia e países do Ocidente, muitos acreditam que etapas possam ser suprimidas ou mitigadas para se anunciar um retumbante sucesso, antes mesmo que a eficácia vacinal seja ratificada.

Com efeito, o Instituto Gamaleya informou que o estudo da fase III da vacina foi aprovado em 26 de agosto passado e envolverá 40 mil voluntários, com idades e estados de saúde variados. Mas, por outro lado, o Presidente Putin anunciou que a vacinação em massa dos russos transcorrerá, paralelamente, à aplicação da fase III, e não na sequência desta, como seria o cientificamente recomendado.

Observa-se que diversos países ingressaram em uma espécie de corrida contra a Covid-19, assemelhada à corrida espacial, em que se busca exibir a supremacia científica e tecnológica sobre países rivais ou competidores.

A maneira como os russos se lançaram nessa disputa de mercado traz à mente a lembrança da corrida espacial, no período da guerra fria, do pós-II Grande Guerra, vencida pelos países aliados, quando os norte-americanos enfrentaram os soviéticos no campo do espaço, e os últimos assinalaram um tento à frente ao lançarem, em 4 de outubro de 1957, na órbita terrestre o primeiro satélite artificial, o Sputnik I, que culmina com o Sputnik V, quando em 1957 se projetou no espaço a cadela Laika. Pelo visto, não foi obra do mero acaso nomear de Sputnik V a vacina russa contra a Covid-19.

Parece estranho que governadores brasileiros se antecipem na adesão à vacina russa em epígrafe, como o estado do Paraná, que assinou um memorando de cooperação para ter acesso à Sputnik V, e o da Bahia, cuja Secretaria de Saúde fechou acordo com a Rússia para o fornecimento de 50 milhões de doses da vacina Sputnik V ao Brasil. O estranhamento ganha visibilidade quando não se sabe da real validade externa do estudo publicado em The Lancet e, de igual modo, se desconhece tanto o grau como a duração da imunidade proporcionada pelo produto russo.

Por fim, é recomendável não incorrer em maiores riscos e gastos impróprios ao se utilizar essa vacina russa, antes da mesma vir a ser submetida a um protocolo de fase III, no qual se comprove uma saudável relação custo-benefício.

Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Docente de Epidemiologia Clínica da Uece

*Publicado In: Jornal do médico digital, 1(5): 60-5, setembro de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

domingo, 20 de setembro de 2020

SPUTNIK EM TEMPOS DA COVID-19

A revista The Lancet publicou em 4/9/2020 um trabalho com os resultados preliminares de um estudo com uma vacina testada contra o novo coronavírus.

Denominada Sputnik V, o imunizante está sendo desenvolvido pelo Instituto Gamaleya, sob o patrocínio da Rússia, cujo governo promete iniciar em outubro vindouro a vacinação dos seus cidadãos.

A pesquisa envolveu a testagem em 76 sujeitos, acompanhados durante 42 dias, sendo metade para aferir a segurança da vacina e metade para verificar a eficácia vacinal.

O estudo anunciou que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas, garantindo assim a eficácia da vacina. Para eles, a segurança foi atestada porque "não houve resultados adversos" decorrentes da Sputnik V nas pessoas testadas.

Os resultados foram vistos de forma animadora por governantes e cidadãos em geral, mas despertaram ceticismo em cientistas e epidemiologistas pela celeridade na condução da investigação e por ser ainda um estudo de fase II.

A amostra estudada foi de pequeno tamanho e também padeceu de viés de seleção diante da sua predominância de jovens, com muitos militares entre os recrutados do estudo.

A Sputnik V não foi isenta de efeitos colaterais, pois entre os testados foram relatados febre alta, cefaleia, adinamia etc.

Efeitos adversos graves são, comumente, eventos de rara incidência, sendo baixa a sua probabilidade de ocorrer em amostras pequenas e, amiúde, quando existentes, somente são identificados em estudos de fase III.

Enfim, é preciso cautela em se preconizar o uso da dita vacina russa contra a Covid-19 antes dela ser validada em um protocolo de fase III.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor universitário e médico

* Publicado In: O Povo, de 20/09/2020. Opinião. p.26.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

DIÁLOGOS DITATORIAIS: Rússia e Brasil



Conversam um russo e um brasileiro
- Como eu amo a liberdade!
- É. Não há nada pior que ditadura!
- Mm? Vocês também tiveram ditadura no Brasil?
- Ô! E como tivemos! Os militares deram um golpe e tomaram o poder.
- Mas como? Fuzilaram o congresso todo?
- Não exatamente. Foi o próprio congresso que instituiu.
- Mas você não disse que foi um golpe?
- Sim.
- Não entendi. Mas enfim... Quantos morreram, pelo menos?
- 357 pessoas!
- É... Para um dia só é bastante.
- Não, 357 no total.
- No total do quê?
- Da ditadura!
- Peraí, mas foi só uma coisa de uns dias e depois acabou?
- Que uns dias que nada! Foram 21 anos de opressão!
- E quem foi esse ditador "genocida" que matou 357 pessoas em 20 anos?
- Foram 5 ditadores!
- De uma vez só?
- Não, um depois do outro.
- Um depondo o outro?
- Claro que não! Terminava o mandato e vinha outro.
- Tipo presidente?
- É... Mas só que não. A gente não podia votar!
- Então ao invés de um ditador, vocês tiveram 5 representantes com mandato temporário e que matavam 17 pessoas por ano?
- Sim. Mas o povo se levantou e tirou eles de lá!
- Ah, no fim depuseram os militares?
- P ode se dizer que sim. Eles saíram do poder.
- Mas tá estranho isso. Eles não controlavam o exército? Como o povo conseguiu isso? Ou eles se armaram também, ou atacaram em grande número. De uma forma ou de outra deve ter sido a maior carnificina!
- Até que não. Os militares anunciaram eleições democráticas e deixaram o poder.
- Deixaram??? Como assim? Tipo, por conta própria?
- É que o povo, no fim, já tava meio contra também...
- No fim??? Mas péra! Para sair assim, na boa, só podem ter levado uma fortuna antes! Devem estar tudo ricos hoje!
- Hmm... Não exatamente.
- Cara, eu respeito sua história e tal, mas tá meio difícil de acreditar que vocês tiveram uma ditadura.
- Como assim?! A opressão era real! Morreram muitos heróis lutando pela nossa liberdade!
- Então havia até mesmo uma oposição?
- Ah, se havia! Eles matavam soldados, sequestravam gente importante, roubavam bancos, plantavam bomba em quartéis.
- Que horror! E os revolucionários, como combatiam isso?
- Não, caramba! Tô falando dos heróis, os revolucionários! Presta atenção!
- Tá bom, entendi. Mas esse lance de matar soldado, explodir bomba... Hoje em dia isso não seria terrorismo?
- Talvez. Não sei. Mas na época era justificado. Tinha que derrubar aquele governo cruel.
- Mas e roubo a banco, sequestro... Não é crime isso daí também?
- É... Talvez... mas eles tinham que tirar dinheiro de algum lugar para manter o movimento, né?
- Sim, mas do povo?
- Não tinha alternativa! A União Soviética não estava mais sustentando a revolução como antes...
- Opa! Um momento! A gente que estava financiando vocês contra os militares?
- Sim. Os comunistas soviéticos estavam nos ajudando a derrubar a ditadura instaurar a democracia no Brasil.
- E vc acreditou? Pois a nossa ditadura foi comunista! Matou 21 milhões, durou 74 anos e deixou o país afundado! Você nunca conheceu opressão, e por isso mesmo não entende o que é liberdade!
Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Sem autoria explícita.
 

Free Blog Counter
Poker Blog