sábado, 2 de julho de 2011

1º UNIMEDLIT

Por Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Fartas vezes comprovamos serem Medicina e Literatura irmãs contemporâneas e quase siamesas. Realmente, as primeiríssimas descrições de ferimentos cirúrgicos foram feitas, presumivelmente pelo poeta Homero, na “Ilíada” e na “Odisseia”, os maiores poemas épicos da Grécia antiga.
Estou em que a Medicina parece mesmo influenciar a Literatura. Shakespeare, sogro de um médico – este também filho de médico – introduziu oito esculápios em sete de suas peças teatrais e usou matéria médica para delinear psicologicamente suas personagens, mormente aquelas psicopatas. Autores célebres como Dostoievsky, Proust, Sinclair Lewis, Hemingway, filhos de médicos, seguramente foram contaminados pela atividade profissional de seus pais. Em verdade, as duas são sócias na arte da ciência e na ciência da arte. Em artigos anteriores neste jornal (“Há que ler, há que ler”, 10/11/2007, e “Literatura para médicos?”, 11/3/2009) aludimos às congênitas ligações entre ambas.
Anton Chekhov (“A Enfermaria Número Seis”), A.J. Cronin (“A Cidadela”), Axel Munthe (“O Livro de San Michele”), Claude Bernard, Jules Romain, Alexis Carrel, Maranõn, William Carlos Williams, Conan Doyle (do Sherlock Holmes) eram igualmente médicos, como os houve, famosos, em Portugal: os Júlios, Dantas e Diniz, Miguel Torga, Fernando Namora.
No Brasil sobressaíram Manoel Antonio de Almeida (“Memórias de um Sargento de Milícias”), Joaquim Manoel de Macedo (“A Moreninha”), Graça Aranha (“Canaã”), Gastão Cruls, Arnaldo Vieira de Carvalho, Franco da Rocha, Martins Fontes, Guimarães Rosa, Pedro Nava, o recém falecido Moacyr Scliar (“História da Medicina na Literatura”), e tantoutros. Destarte, o convívio com a literatura abre as janelas d´alma dos nossos pacientes, melhora nossa competência humana, e nos reabilita a melhor entender e tratar seus males físicos e mentais.
Tão histórica, tamanha e tão fértil é a relação entre ambas que o Romantismo Literário brasileiro foi criado pelo médico José Gonçalves de Magalhães (Suspiros poéticos e saudades, 1836).
Por que tanta afinidade? Quiçá o médico, íntimo da vida e da morte (esta, ao fim a grande vencedora), leitor e escritor de prontuários, ciente das dores orgânicas e espirituais dos seus doentes, rende-se à sedução da literatura e desanda a cometê-la, em verso e prosa (revista “Literapia”, n° 12, junho, 2005).
O estudo das “humanidades médicas”, ou do binômio Medicina e Literatura iniciou-se nos EUA, em 1972, e aqui, em Santa Catarina e São Paulo, em 2011. Neste sentido, a Unimed Fortaleza (leia-se Mairton Lucena) reconhecendo esta encravada afinidade e valorizando ainda mais seus cooperados e clientes resolveu, prioritariamente no Norte e Nordeste, criar um curso semelhante a partir de agosto vindouro. Outra prova da mania de pioneirismo dos cearenses, do seu pirronismo (teimosia).
Aliás, como afirmou Mario de Andrade “O que existe deve ser tomado a sério. Porque existe”.
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
ph.saraivaleao@bol.com.br
* Publicado In: O Povo, Opinião, de 22/06/11. p.4.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/06/22/noticiaopiniaojornal,2258969/1-unimedlit.shtml

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