segunda-feira, 7 de maio de 2012

PARECE QUE FOI ANTEONTEM

Por Ricardo Alcântara (*)
A política está obsoleta. Obsoleta nos termos em que se definia até o final do século passado – já tão remoto, embora tão recente. Antes revestimento, os ritos públicos são agora a própria substância do fazer – praxis virtualizada.
Contra o charme niilista hoje muito em voga – servidor involuntário do ideal conservador de estagnação – ofereço o absurdo da minha esperança e justifico: não há precedentes históricos para impasses permanentes.
Algo se move, mesmo que não o possamos ainda perceber. Mesmo no limite do pessimismo, ainda veria um ponto de inflexão na aparente imobilidade: sem que mais sejamos o que já fomos, ainda não somos o que seremos.
O ocaso dos partidos políticos como grupos de representação de classe e concepção acabada do mundo coincide com a emergência de uma nova dinâmica social sustentada pelos avanços tecnológicos recentes.
Se aqui falo de redes sociais – sim, é disso que se trata – estou movido menos pelo que elas são e muito mais pelo potencial do que virá: o presente é apenas a pré-história de um futuro insondável. Facebook (quase) já era.
Agora, quando escrevo este novo parágrafo, sou como um velho marinheiro que, embora não consiga enxergar o horizonte em meio ao nevoeiro, tem suficientes milhas de navegação para saber que ele sempre estará lá.
A obsoletização da política não é um desarranjo. Há conexão lógica entre partidos que não representam e democracias que não acolhem a vontade popular com nações sem soberania, geridas por um Capital sem face.
O fenômeno não deveria surpreender. Ele se move sobre um mundo físico onde se ara o chão sem lavradores e fábricas prescindem de operários. Agora, a força política se desloca dos que trabalham para os que consomem.
O mundo está de cabeça para baixo? Não, apenas mudou, e tão rápido que nos fez perder o senso de direção. Mas é momentâneo, o impasse. A radical plasticidade do novo tempo atordoa, mas logo revelará sua metaestrutura.
Como já disse o poeta que um dia decidiu desaparecer, “o novo sempre vem”. Enquanto houver gente em pé, será tempo de fazer. E mesmo que não saibamos o quê, faremos: humanos, estamos condenados a agir.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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