sexta-feira, 25 de maio de 2012

“SÓ LULA SALVA”

Por Ricardo Alcântara (*)
Tão logo colocou seu candidato Elmano Freitas na cabeceira da pista para decolagem, a prefeita Luizianne Lins foi, por iniciativa dos próprios aliados, alvejada pela publicação de uma pesquisa eleitoral que lhe trouxe as piores notícias.
A prefeita, diante do fato negativo, criou uma versão. A que lhe restou foi desqualificar a pesquisa por ser “encomenda de partido”. Poderia ter acrescentado que, em outra ocasião, o presidente do instituto, Ibope, já fora acusado de “vendido” pelo mesmo contratante.
A seu ver, não deveria admitir publicamente que o resultado não é diferente do exposto nas pesquisas que ela mesma contrata. Na perspectiva de seu interesse, está certa em dizer que a pesquisa está errada, mesmo sabendo que a pesquisa está certa e o que ela diz, errado.
Com aliados assim, quem precisa de adversários? E sequer pode reclamar: trata-os mal, igualmente. Certo é que quando um terço dos eleitores diz que não aprova a sua gestão, isto se chama oposição. Quando dois terços dizem o mesmo, é melhor mudar de direção.
As más notícias não se resumem ao fato de que em seu partido nenhum candidato é forte na largada (Artur Bruno, o melhor, tem 5% contra 8% de Renato Roseno) e sua gestão é muito mal avaliada (80% deseja mudança, 66% a desaprova, 36% a considera “péssima”).
Somadas as indicações dos candidatos já definidos – e todos se colocam numa perspectiva de mudança – obtém-se 89% das intenções de voto. Mais. Partem de um patamar elevado de reconhecimento (somente Renato Roseno é desconhecido para mais de 20% dos eleitores).
A seu favor, poderia contabilizar a rejeição acentuada dos adversários (Inácio, 34%, Moroni, 38%, Cals, 39%), mas seu candidato, Elmano Freitas, já bate nos 29%. Motivado pelo nível de desconhecimento? Nem tanto: Artur Bruno, bem conhecido, ostenta o mesmo índice.
A influência negativa de seu apoio consegue a proeza de superar um campeão olímpico (40% para Tasso Jereissati, 56% para ela), enquanto seu potencial agregador (18%) não chega a dois terços dos índices de um político cuja geração já entrou em declínio (Lúcio Alcântara pontua com 33%).
Nisso tudo, o pior é que nem mesmo a hipótese de aliança com o governador animaria. Ao contrário, 68% dos consultados desejam vê-los separados. Significa dizer que, em provável acordo, há maior potencial para acumular rejeições do que conciliar fatores positivos.
Em uma fala – política, ainda mais – às vezes o significado está mais no que foi ocultado do que naquilo que foi dito. Foi o que aconteceu quando o deputado José Airton disse que o PT de Fortaleza tem chances eleitorais com base no prestígio popular da presidente Dilma.
Com isso, admite ele, e reforça quando o diz, a percepção de que seu partido não tem, como força eleitoral, nem prefeita, nem candidato. Sim, é verdade: a ação da máquina municipal, somada aos mísseis balísticos de longo alcance Lula e Dilma, pode decidir a batalha.
Ao se admitir a excepcional capacidade de influência deles, a pergunta é: ainda assim, somente por eles, o cidadão de Fortaleza aceitaria mesmo fechar os olhos para o que vê e deixar de sentir o que sente? Para o PT, uma aposta de alto risco.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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