terça-feira, 15 de outubro de 2013

DE ACADEMIAS MÉDICAS



Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Nunca me agradaram os cediços (antigos) sinônimos de “academia”, como arcádia, silogeu, sodalício. Prefiro associação, sociedade, congregação, corporação cultural, grêmio. Academias lembram-me sempre o “Royal College of Surgeons of England”, em Londres. Ali residi por dois anos, especializando-me em proctologia, nos anos 1970, e é onde pretendo morar quando morrer.
Na Ilha de John Bull foi fundado, no século XIV, o Grêmio de Cirurgiões, dentro da Cidade de Londres, durante a conhecida disputa entre barbeiros e cirurgiões. Dos aludidos embates vale recordar ter participado o famigerado rei Henrique VIII, fundador da Igreja Anglicana, e polígamo uxoricida (assassino das esposas), aquele da Ana Bolena e d’outras cinco “semsortes”.
No Brasil, cinco centúrias após, idealizada pelo dr. Joaquim Cândido Soares de Meireles, nascia a 30/6/1829, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, depois Academia Imperial, e logo Academia Nacional de Medicina. Convém salientar ser essa instituição médica dita nacional mais paulista (14 sócios), gaúcha (6) e mineira (2), enquanto a região Norte/Nordeste, com 17 estados, é representada por três médicos apenas.
Do Ceará ali são titulares os drs. Ernane Aboim, Mario Correia Lima e Manassés Claudino. Como membro honorário foi há pouco admitido o dr. Djacir Figueiredo. Há 35 anos (12/5/1978) surgia, por inspiração do dr. Antonio Alfredo da Justa, a Academia Cearense de Medicina. Esta foi concebida como braço da primeira faculdade estadual de Medicina aqui (UFC), sendo pois uma agremiação singular, de índole esotérica, para um grupo fechado de membros.
Contudo, as diretorias mais recentes vêm despojando-a de cacoetes estatutários ainda vigentes. Todas estas casas procuram preservar sua memória, assim resguardando-se da posteridade esquecediça e desdenhosa, além de aprimorar a cultura e a ética profissionais, promovendo a educação médica e a saúde. Nossa academia, à qual honra-me também pertencer, tirante reuniões científicas e administrativas mensais, empreende, a cada dois anos, encontros de maior vulto, as bienais.
Na penúltima discutiu-se a bioética médica, e revisitou-se a antropologia, filosofia e sifilografia. Sobremaneira mais relevante, de maior interesse social foi sua XV Bienal (9/10 de maio último) quando professores locais e visitantes abordaram amplamente a qualidade dos remédios comercializados no Brasil, tema por nós enfocado neste jornal a 22 daquele mês, Genéricos. Dessa reunião resultou a Carta de Fortaleza, sobre os medicamentos brasileiros.
Louve-se por igual a tocante homenagem ao estudante João Nogueira Jucá, pelo seu heroísmo em agosto de 1959. Destarte mostrou-se a ACM de inestimável utilidade pública, sendo já exotérica, agora com x, aproximando-se do povo, cercania esta tão apregoada pelo papa Francisco. Parabéns aos atuais dirigentes.
(*) Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 11/09/2013.

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