quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LVIII



ORDEM DA ROSA
Visconde de Taunay - "Trechos de minha vida", pág. 168.
O retrato que Pedro I possuía da princesa Amélia de Leuchtenberg, tornara-o ansioso pela sua chegada ao Rio de Janeiro. A visita da filha do príncipe Eugênio quase que o enlouqueceu, pois que o original era mais lindo ainda que o retrato.
Ao vê-la, a bordo da embarcação que a trouxera, o Imperador não se conteve. A princesa vestia, para o desembarque, um delicioso vestido de gaze branco, salpicado de rosas meio abertas. E foram essas rosas que deram ao imperial noivo, de espírito cavalheiresco, a idéia súbita de criar uma Ordem honorífica.
- Será a Ordem da Rosa! - declarou.
E criou-a nesse mesmo dia, com a divisa:
- "Amor e Fidelidade".
O VIDIGAL
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro"
O major Miguel Nunes Vidigal, cujo nome atravessou o tempo e é citado hoje, depois de um século, como se tivesse passado há dois anos, era não só enérgico, severo na imposição dos castigos, mas, também, inteligente.
Com carta branca para restituir a segurança e o sossego à cidade, invadiu o major, certa noite, uma casa de pândega, encontrando aí, entre outros infratores da moralidade noturna, um cadete, filho de um seu amigo, a quem logo reconheceu. O rapaz, ele próprio, alegou essa qualidade, procurando escapar ao corretivo.
- O que?! trovejou Vidigal. Esse tratante, além de metido nestes lugares, ainda quer passar como cadete e filho de um amigo meu! Metam-lhe a chibata! O moço de quem ele fala não era capaz de tomar parte nestas reuniões tão ridículas!
E após a surra, baixo, para o rapaz:
- Eu o reconheci. O senhor é o cadete filho do meu amigo. Mas... para que os senhores fazem destas?
UMA INDISCRIÇÃO DE PEDRO I
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 40.
É nos dias tormentosos de 1830, quando a Câmara ferve, discutindo a eleição do ex-ministro da Guerra, Joaquim de Oliveira Álvares, eleito deputado pelo Rio Grande do Sul. Ansioso pela salvação do amigo, Pedro I chega a uma das janelas do Paço que dá para o edifício da Câmara, e é recebido com chufas e assobios pela população aglomerada na rua.
Nesse momento, chega alguém que vem da Câmara. O Imperador volta-se, aflito, indagando:
- Quem está falando neste momento na Assembléia?
- É o Ledo, - responde-lhe. - Está estupendo, quebrando lanças pelo Oliveira Álvares!
- Forte tratante! - exclama o soberano, contente.
E esfregando as mãos, feliz:
- É a terceira vez que o compro e de todas tem me servido bem!...
A CARIDADE
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 317.
O dr. Mateus Saraiva, que exerceu a clínica no Rio de Janeiro na primeira parte do século XVIII, e que escreveu A América Portuguesa Ilustrada, obra em que procurava demonstrar a passagem do apóstolo Tomé pelo Brasil, tornou-se veneradíssimo pela sua caridade.
Era sua esta frase:
- Se há alcaide que prenda a Deus, ou se Deus se pode deixar prender, é a caridade o único ministro que, sem sacrilégio, pode executar a diligência!


Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
 

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