segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O verdadeiro gigante está nas ruas



Por Ricardo Alcântara (*)
Duas atitudes mentais extremas muito contribuem para o fracasso: o medo de perder e a certeza de ganhar. E – é comum observar – os que sentem o primeiro costumam ocultar tal emoção sob o uso dissimulado de argumentos do segundo.
Não tem outra pulsão, a declaração de João Santana, assessor de Marketing do governo petista, de que a presidente Dilma é um “gigante” eleitoral e seus adversários “não passam de anões”: é puro temor disfarçado de onipotência.
O jogo é jogado e o eleitor não joga a favor de ninguém, senão de si mesmo. Sim, a presidente entra na pista com o crédito residual de um ciclo promissor, mas leva nas costas a geladeira de nada de mais significativo ter acrescentado a ele.
Os ganhos mais expressivos do ciclo – crescimento econômico e pleno emprego, base de crédito e bolsa família – já deixam de ser percebidos pela população como benefícios emergentes e passam a ser vistos como obrigações públicas.
Das manifestações populares deste ano guardamos um recado claro: “foi bom, mas foi pouco”. Ou, numa versão mais generosa: “foi muito, mas não foi o bastante”. O que parecia a explosão inicial de um processo emancipatório logo perdeu força.
E, assim, não seria suficiente que Dilma fosse candidata apenas do muito que um dia fizeram: precisaria injetar na sociedade a crença de que continuará fazendo, ainda que a tudo que lhe fora legado nada tenha acrescentado de realmente novo.
Sem nada que possa pronunciar como mérito autoral e lhe faltando ainda carisma para produzir momentos mágicos que realizem as substituições simbólicas da esperança coletiva, Dilma se abre para uma disputa sem “gigantes” nem “anões”.
A seu favor, a fragilidade objetiva dos adversários: Aécio Neves e Eduardo Campos são desconhecidos e comprometidos – o primeiro, com a herança maldita do governo tucano; o segundo, com tudo aquilo que até aqui fora chamado de Lulismo.
O principal adversário – não da Dilma propriamente, mas dos símbolos que o governismo carrega – está nas ruas: a inquietude de uma nação que, tendo dado contundente prova de insatisfação, se mostra sensível aos novos experimentos.
Neste sentido, o maior risco foi superado quando Marina Silva desistiu da disputa: ela, sim, tinha o perfil das ruas e por mais ostensivo que seja o apoio dado agora a Eduardo Campos, não o fará encarnar tão bem o espírito do tempo quanto ela.
E como o eleitor só joga a favor de si mesmo, bocado servido é bocado comido: contaminar a população com o medo de perder conquistas recentes pode não ser suficiente para atropelar os anões. Porque o verdadeiro gigante está nas ruas.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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