Antero Coelho Neto
(*)
De 5 a
7 de março será realizado, em Fortaleza, o importante evento “Congresso Sobre
Trabalho de Parto e Seus Desafios Clínicos”. Nele será prestada homenagem ao
nosso inesquecível médico obstetra, Galba Araújo (José Galba de Araújo, nascido
em Sobral, 1917) através de palestras por seus ex-auxiliares e amigos, Antero
Coelho Neto, Silvia Bonfim Hipólito e José Málbio Rolim ; por seus filhos
médicos Beatrice Madrazo e Galba Araújo Filho e um banner por sua filha Terry
Kay Araújo, com ilustrações de seus momentos de valorização. Galba tem vasto
currículo, onde se destacam graduação na Bahia com residência e pós-graduação
nos EUA, e títulos de desenvolvimento técnico e científico, mas, muito mais do
que isso, para todos nós, o seu grande espírito de médico, onde a obstetrícia
humanizada se destacava.
Para ele, o parto era ato de “amor-maior” que envolvia a
família, a parteira ou o parteiro e o ambiente. Em 1975, como diretor da
Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), verificou que grande número de
parturientes do interior do Estado procurava a maternidade acompanhadas por
parteiras empíricas ou tradicionais. Criou então o Programa Comunitário de
Saúde Familiar, com o treinamento das parteiras, para o parto normal domiciliar
e a identificação das gestantes de alto risco, através de trabalhoso e difícil
mecanismo de convencimento ao público, aos políticos, autoridades e, principalmente,
à classe médica. Começou a agir e a tentar convencer a muitos de suas verdades,
seus princípios e intenções. Guaiúba e Lagoa-Redonda ficaram famosas pelos
êxitos alcançados no início de suas atividades.
O sucesso do programa tornou-se reconhecido e autoridades
de diferentes comunidades carentes passaram a procurar o dr.Galba. Desejavam
participar do programa e, ao longo de algum tempo, dezenas de pequenas
maternidades e casas-de-parto surgiram em consórcio com as comunidades e
prefeituras. Centenas de parteiras foram treinadas e capacitadas para o
atendimento ao parto normal.
Em 1980, verificando a necessidade de ações médicas
complementares, o ajudamos na criação do Paps (Programa de Atenção Primária de
Saúde), e conseguimos o financiamento da Fundação Kellogg podendo, então,
estender as atividades para outras áreas de maneira lenta, eficiente e
constante. O programa passou a ser denominado Proais (Programa de Ações
Integradas de Saúde) tendo se desenvolvido com projeção internacional até 1985,
quando Galba faleceu.
Sua visão era maior do que a de uma obstetrícia
humanizada mas, a de toda uma medicina humanizada. A realização desse congresso
internacional, depois de tantos anos, reafirma a importância da humanização da
obstetrícia, tão bem aplicada pela Meac. E, neste momento, quando o Ministério
da Saúde aprova o indicado pela OMS sobre parto normal, torna-se necessário,
pelo seu aspecto humano e técnico, destacar o legado de Galba Araújo.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 25/2/2015. p.8.
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