Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Segundo o
Dicionário Aurélio (ed. 2010 Brasil), 'simpatia' tem entre outros significados,
o ritual quando posto em prática e um objeto supersticiosamente usado para curar
enfermidade ou mal estar. É uma forma de magia ou feitiçaria básica,
extremamente ligada ao povo, normalmente de origem campesina e geração
empírica. As simpatias são formadas da mesma substância da superstição e estão
a ela intimamente ligadas. É sinônimo de exorcismo, mandinga, crendice.
O uso de
“alívios” extraídos das flores, dos frutos, das folhas, das raízes ou dos
tubérculos de determinadas plantas data dos primórdios da história da
humanidade.
As
contribuições do pajé ameríndio, do feiticeiro negro e do bruxo europeu estão
de tal maneira amalgamadas que seria difícil distinguir a qual cultura pertence
a medicina popular das plantas, a medicina mágica, a medicina mística,
religiosa, a medicina que leva a ingerir fezes ou urina.
A
utilização das plantas medicinais, por meios de chás, lambedores, garrafadas,
unguentos, purgantes ou emplastros é feita como curativo, como remédio popular
– as mezinhas. São algumas dessas mezinhas: folha de pimenta em forma de
emplastro para picada de marimbondo; chá da folha do abacateiro para pedras nos
rins ou na bexiga; sumo de malva com mel para tosse seca; água adocicada de
arroz ou chá da folha de pitomba para hemorragias; ou ainda sumo de arruda para
convulsões.
Os
africanos trouxeram ervas nativas que se mesclaram com especiarias do Oriente.
Os portugueses disciplinaram os seus usos e investigaram com mais profundidade
as propriedades terapêuticas de cada planta, anotando tudo, o que fez com que a
fitoterapia fosse difundida através da Europa. E os índios transmitiram
preceitos mágicos da cura pela defumação.
Dos
escravos da Nação Malé, vindos da Nigéria, herdamos o conceito do mágico e dos
demônios como causadores de doenças. As técnicas empregadas na medicina mágica
são as benzeduras, conjunto de rezas, gestos ou palavras ditas por pessoas especializadas,
como curadores, rezadores e benzedores.
As
simpatias são também formadas da mesma substância da superstição e estão
intimamente ligadas a formas de benzedura como os patuás, os amuletos, os
santinhos, os talismãs, todos eles elementos materiais capazes de prevenir e
evitar doenças.
O ex-voto
(quadro, imagem, inscrição, ou órgão de cera, madeira, etc.) que se oferece em
igreja ou capela, em comemoração à graça alcançada (milagre) é uma forma
bastante difundida de agradecimento.
Na devoção
popular, alguns santos da religião católica romana são invocados como
especialistas em curar ou aliviar os padecimentos – ideia sincrética que provém
das religiões africanas ou ameríndias.
Temos até santos especialistas:
- Santa
Luzia cura doenças dos olhos.
- São
Sebastião cura as feridas.
- São
Roque evita as pestes.
- São
Lourenço alivia as dores dos dentes.
- São
Brás protege as enfermidades da garganta e salva as pessoas dos engasgos.
- São
Bento protege contra mordidas de cobra, insetos venenosos e cães hidrófobos.
- Santa
Ágata cura doenças dos pulmões e das vias respiratórias.
- São
Lázaro cura a lepra e as feridas mais sérias.
- São
Miguel cura os tumores malignos e benignos.
- Nossa
Senhora do Bom Parto protege a gestação e o parto.
Eis algumas das mezinhas e medicamentos genéricos:
- Formiga
saúva torrada com café - melhora as crises de asma.
- Chá de
fezes de cachorro embranquecidas pelo sol - corta o sarampo.
- Estrume
úmido friccionado na pele - cura frieira.
- Urina
de vaca adicionada ao leite - trata a coqueluche
- Saliva
de gente, logo ao se levantar, antes de falar qualquer palavra, passada na
ferida - garante a rápida cicatrização.
Desculpem-me
por acautelar a população, embora reconheça que não são poucas as contribuições
das observações populares na cura dos males que assolam a Humanidade. De
qualquer maneira advirto:
Medicina
é coisa muito séria e Folclore de um povo, também.
Saúde não
é brincadeira e simpatia não é cabo eleitoral.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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