Por Daniel Bezerra de
Castro (*)
Soa
estranho quando sabemos que os Estados Unidos precisam apenas de 131 faculdades
Já ouviu falar sobre
Diretrizes Curriculares Nacionais? Esse é o nome dado no Brasil para o conjunto
de regras que controla a formação de profissionais do ensino superior das mais
diversas áreas. No dia 20 de junho de 2014, como parte do pacote de mudanças da
Lei dos Mais Médicos, foram lançadas as novas Diretrizes Curriculares Nacionais
no curso de graduação em Medicina.
Antes de falar das
diretrizes em si, permita-me contextualizar a atual formação médica no Brasil.
De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina entre 1990 e 2014 o número
de escolas de medicina subiu de 83 para 234. Isso é algo ruim? Não
necessariamente. Mas soa estranho quando sabemos que os Estados Unidos (país
com 150% da população do Brasil) precisam apenas de 131 faculdades.
Além disso,
diversos programas de Residência Médica (sim, também chamada especialização
médica) vêm sofrendo com cortes no custeio e dificuldades de abrir novas vagas,
vide o caso da Faculdade de Medicina de Marília que suspendeu as inscrições
para a prova de residência deste ano. E agora, parece ruim? Provavelmente,
visto que diversos especialistas deixariam de ser formados, mas um preço a se
pagar para a manutenção mínima da qualidade de formação do profissional que vai
atender o leitor na próxima vez que o mesmo for para um serviço de emergência
médica.
Mas, qual a relação
desse contexto com as novas diretrizes? Vistas sobre o olhar desinformado do
leitor leigo as diretrizes podem parecer centradas. Mas demonstram o total
desalinhamento entre os planos do partido do governo e a realidade da saúde no
país. E agora? Aparenta ser algo ruim? Sim. E muito. Diferente de outros cursos
de graduação onde a sala de aula é o palco-mor do ensino, na medicina o cenário
de atendimento é o ambiente de eleição para a formação de profissionais. As
diretrizes não sugerem que a infraestrutura física de hospitais, maternidades e
unidades básicas de saúde será ajustada para comportar os estudantes das 257
faculdades de medicina do país (Não eram 234? Esqueci de atualizar o leitor: 23
novas faculdades foram criadas no último ano). As diretrizes também não
mencionam que o quadro de médicos preceptores para todos esses alunos será
redimensionado assim como não fala em nenhuma medida para garantir à sociedade
que o médico formado possua o mínimo de qualificação para garantir a segurança
do paciente.
Por último, as
diretrizes obrigam que, a partir de 2018, a quantidade de vagas de residência
seja igual a de médicos formados no país. Quantos casos como o da Faculdade de
Marília vão ter que ocorrer para percebermos o abismo que existe entre a utopia
imaginada pelas diretrizes e a irônica distopia da formação médica no país?
(*) Professor
de Medicina da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/10/2015. Opinião. p.7.
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