sexta-feira, 20 de novembro de 2015

De Zumbi herói à origem da feijoada: 7 mitos sobre a escravidão no Brasil


Reprodução de imagem, comum em livros de história, do líder negro Zumbi dos Palmares
No dia 13 de maio de 1888, a promulgação da Lei Áurea fez com que o Brasil se tornasse o último da América Latina a abolir a escravatura. Exatamente 127 anos após o país tornar ilegal a prática, mitos e polêmicas sobre como foi o período ainda persistem. Até hoje, algumas histórias que estão nos livros de história, senso comum e imaginário popular geram controvérsias.
O UOL separou sete mitos refutados por pesquisadores. Na lista, há elementos que mostram Zumbi dos Palmares  como uma figura diferente da descrita, por exemplo, no Livro de Heróis Nacionais. Louvado como defensor da dignidade e igualdade dos negros, ele é apresentado por alguns pesquisadores como escravocrata, truculento e centralizador.
A origem de elementos presentes na cultura brasileira também gera confusões. Enquanto o senso comum aponta a capoeira como uma dança trazida de africanos para o Brasil e a feijoada como um prato tipicamente brasileiro, a realidade aponta que a capoeira é brasileira e a feijoada foi criada por europeus.
O próprio fim da escravidão também gera controvérsias. Enquanto alguns livros, como o best-seller "O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", de Leandro Narloch, apontam que os ingleses tinham motivos ideológicos para pressionar pelo fim da escravidão, pesquisadores levantam que o interesse era econômico e estava relacionado com o preço do açúcar exportado da América Latina para a Europa. Entre tantas controvérsias, confira nossa lista:

Mitos 1 e 2 - Zumbi defendia o fim da escravidão e o Quilombo era um espaço de liberdade

Considerado um dos grandes heróis antiabolicionistas da história do Brasil, Zumbi dos Palmares é apontado como escravocrata  por pesquisadores. Descendente dos imbangalas, os "senhores da guerra" na África Centro-Ocidental, ele tinha os seus próprios servos. De acordo com Leandro Narloch, Zumbi mandava capturar escravos para trabalhos forçados no Quilombo dos Palmares. O autor aponta que Zumbi lutou mais pelos seus interesses do que por liberdade para negros.
Coautora do livro "Palmares, Ontem e Hoje", a pesquisadora Aline Vieira de Carvalho diz que é possível que Zumbi tivesse escravos, mas faz uma ressalva que eram outros tempos. "No século 17, a escravidão não é condenada.  O fato de essas interpretações serem polêmicas revela mais sobre os preconceitos da sociedade atual e da forma como nos representamos hoje do que sobre o quilombo".

Mito 3 – Escravos estavam fadados a ser escravos

Outro mito aponta para a impossibilidade de escravos não terem possibilidade de ascender socialmente. . Narloch aponta, em seu livro, que alguns tinham, inclusive, outros escravos e uma pequena fortuna. Como exemplo, ele cita o caso de Bárbara Gomes de Abreu e Lima, que revendia ouro, tinha propriedades e sete escravos. De acordo com o autor, ela "representava, certamente, um modelo que a ser seguido por outras escravas libertas".

Mito 4 – A capoeira veio da África

O senso comum aponta que a capoeira foi trazida da África por escravos. Porém, a história mostra que a mistura de dança e luta foi desenvolvida no Brasil. Tanto que o nome capoeira não é de origem africana. A palavra vem, na realidade, do tupi kapu'era (mata que foi). Apesar de brasileira, a dança realmente tem influência africana. Ela é descendente de uma dança africana chamada de n'golo (dança da zebra),

Mito 5 - A feijoada é um prato brasileiro

O senso comum também aponta a feijoada como um prato brasileiro e que foi criado por escravos. Esse é mais um engano. Na realidade, o prato nasceu na Europa e acabou sendo adaptado no Brasil. O historiador Henrique Carneiro aponta que um dos pratos que deu origem à feijoada é o cassoulet francês (feito com feijão branco). Ele diz que até mesmo na Polônia existe uma feijoada polonesa chamada tsholem. No Brasil, ela foi prato da elite na época da escravidão.

Mito 6 - Princesa Isabel é uma heroína e libertou escravos

Se Zumbi dos Palmares não é um heroi, a Princesa Isabel também não pode ser considerada. Apesar de ter dado o "canetaço" que aboliu a escravatura no Brasil, ela nada mais fez do que acatar pressões vindas da Inglaterra (nação mais poderosa da época). A preocupação dos ingleses era com o baixo preço do açúcar, que caia com ajuda da mão de obra barata. A prova de que ela não fez "nada de mais" é que o Brasil foi o último país da América Latina a acabar com a escravatura.

Mito 7 - Lei Áurea acabou com a escravidão

Apesar de representar o fim de uma era, a Lei Áurea não resolveu o problema da escravidão. Apenas mudou a forma que era feita a atividade. "Livres", os negros passaram a contrair dívidas praticamente impagáveis e ficavam o resto das vidas para pagar as dívidas. Até hoje, é possível encontrar trabalhos análogos à escravidão em alguns locais do Brasil também relacionados a dívidas. Ou seja, não foi a Lei Áurea que resolveu o problema.
Fonte: Educação. UOL Notícias, de 13/05/2015.

Um comentário:

Candeeiro disse...

Sobre Zumbi no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (4/4)

Uma análise em quatro partes sobre aquilo dito de Zumbi nessa polêmica obra. Abordaremos aqui os principais trechos do livro relacionado ao líder negro do Quilombo dos Palmares principalmente no que diz respeito ao capítulo Zumbi tinha escravos. Temos na obra, entre outras coisas, o seguinte:

D) “Para obter escravos, os quilombolas faziam pequenos ataques a povoados próximos. ‘Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos’, afirma Edison Carneiro no livro O Quilombo dos Palmares, de 1947”. (Narloch, Guia Politicamente Incorreto da Historia do Brasil)

Se alguns escravos foram à força para o Quilombo dos Palmares, naturalmente podemos entender com isso que havia escravos dentro do Quilombo. Todavia, estes seriam, nesse caso, os escravos dos senhores de engenho, não necessariamente escravos do Quilombo. Além disso, em nenhum momento da obra de Edison Carneiro é dito que negros são lá (no Quilombo)

escravizados, pelo contrário, o autor diz logo na abertura do livro o seguinte:
“A floresta acolhedora dos Palmares serviu de refúgio a milhares de negros que se escapavam dos canaviais, dos engenhos de açúcar, dos currais de gado, das senzalas das vilas do litoral, em busca da liberdade e da segurança, subtraindo-se aos rigores da escravidão e às sombrias perspectivas da guerra contra os holandeses.” (Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares)

Logo, seria muito estranho enxergarmos negros sendo escravizados dentro do Quilombo, mas totalmente lógico compreender que havia negros escravos dos senhores de engenho naquelas terras que haviam sido roubados. Essa parte é condizente com outras partes da carta anônima de Fernão Carrilho em 1687, comandante de várias expedições aos Palmares. Trechos dessa carta são citados por Edison Carneiro quando este toca no constante estímulo dos mocambos dos Palmares para os escravos das redondezas. Acredito ser importante mostrar na integra o trecho do livro. Vejamos:

“Ora, na sua carta anônima de 1697, Fernão Carrilho, comandante de várias expedições aos Palmares, dizia, peremptoriamente que ‘os negros, o em que se fiam mais para obrarem maldades é dizerem que seus senhores o que lhes podem fazer é açoitá-los, mas que matá-los não, porque os brancos não querem perder o seu dinheiro’. Os escravos das vilas vizinhas eram, assim, recrutas potenciais dos Palmares, “uns levados do amor da liberdade, outros do medo do castigo, alguns induzidos pelos mesmos negros, e muitos roubados na campanha por eles”. (Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares)

Aqueles, por conseguinte, forçados em direção a Palmares não eram escravizados, mas recrutados para a luta. Não sem motivo diz o autor que bastava a esses escravos roubados libertar um negro cativo para voltar à casa do senhor de engenho, uma “alforria”, se assim eles desejassem. Tal como podemos ver aqui:

“Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos”. E continua: “Entretanto, tinham uma oportunidade de alcançar a alforria: bastava-lhes levar, para os mocambos dos Palmares, algum negro cativo”. (Edison Carneiro, O quilombo dos Palmares)

Em suma, foi uma maneira encontrada para fortalecer a campanha e ter a maior quantidade possível de negros libertos. Outros pontos são abordados por Leandro Narloch na obra dele, mas nada na obra que venha a fixar concretamente a ideia de Zumbi ter sido um escravocrata nos moldes dos senhores de engenho. O feito por estes visava à continuidade da exploração e o Quilombo dos Palmares e Zumbi a liberdade do seu povo.

 

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