Cármen Lúcia (DIVULGAÇÃO O POVO) |
Por Arlen Medina Néri
Ela é a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas
abdicou de todos os rapapés e salamaleques. Cármen Lúcia Antunes Rocha, mineira de Montes Claros, chegou ao
STF em 2006. Logo na solenidade de posse mandou que servissem apenas água,
refrigerante e café. Abriu mão da residência oficial e também não usa o carro,
com escolta de segurança, a que teria direito. Todos os dias chega ao prédio do
STF dirigindo o próprio carro (e quase sempre com tanque de combustível na
reserva). É uma magistrada que advoga por paixão a simplicidade - seja em todos
os públicos a que tem de conviver, seja em detalhes da vida pessoal. E não
perde a oportunidade de contar histórias. “Causos” de
arrancar gargalhadas. Outro dia pegou o ônibus para ir ao oculista. Na volta,
pupilas dilatadas, pergunta a uma mulher sentada na parada: “a senhora pode me dizer o nome desse
ônibus que vem ai? É que eu voltei agora do oculista e não tô enxergando bem”. A mulher retrucou: “E a senhora acha que é a única aqui que
não sabe ler?” Acabou
tomando um taxi.
Noutro episódio, relata a aventura de levar o próprio carro ao
mecânico. A definição do problema: um barulho no lado esquerdo, próximo do
pneu. O mecânico olhou, examinou e tascou um bocado de termos que a ministra
nada entendeu. Mas não se fez de rogada. E devolveu: “olha, me disseram que eram os embargos
infringentes incidentais”.
O mecânico ficou atônito: “eu
não entendi foi nada do que a senhora disse”. Num sotaque mineiro típico, ela emendou - “uai, e você acha que eu entendi o que
você falou?” Aí tiveram de
se entender! Este é o ponto. Para Cármen Lúcia as pessoas precisam ser mais
simples no viver para saber bem conviver. Em Brasília, semana passada, ao sair
de um almoço promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), antes de
entrar em seu carro, acompanhada da secretária de Comunicação Social do STF,
Mariangela Hamu, ela falou ao Dois
Dedos de Prosa:
O POVO -
Qual o significado da simplicidade para a senhora, ministra?
Cármen Lúcia
- Eu não sei muito bem o que é que é isso. Mas acho que é o jeito normal de ser
das pessoas.
OP - Mas
a senhora preside a maior Corte do País. E abriu mão de uma série de símbolos
do Poder. Que mensagem que está por trás disso? O Judiciário precisa ser mais
simples?
Cármen Lúcia
- Eu não penso muito nisso não, com toda a honestidade do mundo. Eu vivo desse
jeito, independente do cargo.
OP -
Qual sua definição para poder?
Cármen Lúcia
- Poder quem tem é o povo. É o cidadão, que pode atuar, que pode falar, que tem
o direito, o dever e a responsabilidade de falar. O poder é verdadeiramente do
povo. E cada vez mais.
OP - E o
que é o Supremo para a senhora?
Cármen Lúcia
- É uma grande oportunidade na vida que tenho de fazer alguma coisa dentro dos
meus ideais de professora de direito constitucional, de uma cidadã que quis
sempre o melhor para o Brasil. Então a vida me deu uma oportunidade que quero
saber honrar.
OP -
Qual deve ser a relação entre justiça e imprensa?
Cármen Lúcia
- Sempre de absoluta transparência e de comunicação intensa e permanente, para
que haja o aperfeiçoamento das instituições, como o Supremo.
Fonte: O Povo, de 29/04/2017. Dois
dedos de prosa com... p.3.
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