Belchior chegou em casa depois de uma temporada de meu irmão
mais velho, em Fortaleza. Ele voltava pro sertão potiguar com um long play do
cantor cearense a tiracolo. Corria o ano de 1976 e eu tinha lá meus oito anos
de idade. Ele ficava cantando sem parar a canção “Apenas um rapaz latino-americano” dentro de casa e ainda hoje gosta de cantá-la sem errar um
verso.
Mas foi com 12 ou 13 anos que a música popular brasileira me
pegou de jeito. Aliás, foram as canções de Milton, Caetano, Gil, Chico, Zé
Ramalho, Fagner, Ednardo e Belchior que me levaram para a literatura. A música
me levou para a literatura e, desde meus 14 anos, imagino-me um pobre poeta. E
Belchior teve e tem uma influência enorme nessa jornada, pois a letra em mim
vem antes do que a música.
Belchior foi sempre literatura e música, poesia e canção.
Belchior é um trovador. Sua voz é a sua própria poesia. Belchior é um poeta
lírico, canta suas próprias paisagens interiores e as paisagens de seu povo que
se manifestam em suas canções.
A música-poesia-trova de Belchior é dele e nossa. Suas
canções habitam nossas memórias afetivas, nossas percepções políticas e estéticas
do mundo e nossos repertórios culturais. Habitam nossas mentes, corpos e
espíritos.
Estamos sempre cantando Belchior em nós com seu lirismo, mas
também com sua força guerreira, inquieta, insurgente e libertária. Sabemos de
cor suas canções e saber de cor é saber de coração. Noutras palavras, Belchior
canta em e para nossos corações.
Celebramos agora, e sempre, sua voz que ecoa e baila na
caixa craniana de nossas almas enquanto batem felizes e gratos nossos corações
pela existência desse poeta do sertão cearense, nordestino, brasileiro,
latino-americano e planetário. Belchior é de Sobral, de Fortaleza, do Ceará, do
Brasil, da América Latina, do mundo. Salve o Belchior!
(*) Secretário da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: O Povo, de 1/05/2017, Opinião
p.14.
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