segunda-feira, 8 de maio de 2017

DEPRESSÃO CÍVICA



Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
Na semana passada os Poderes Constituídos do Brasil, visivelmente, o Legislativo e o Judiciário, atuaram sem harmonia e independência, ferindo o art. 2º de nossa Lei Maior. Quanta tristeza! Por outro lado, o fato me fez lembrar, no final dos anos 1960, uma famosa mesa redonda que analisava futebol nas noites de domingo na TV Tupy do Rio de janeiro. Era composta pelos extraordinários cronistas: João Saldanha (Botafogo), Nelson Rodrigues (Fluminense) José Maria Skassa (Flamengo) e Armando Nogueira (Botafogo). Pois bem. Certa vez, o Fluminense estava à frente, no número de pontos, dos grandes do futebol carioca. Ia acontecer uma partida entre o Botafogo e o Flamengo definindo o campeonato. Quem vencesse seria campeão; havendo empate o Fluminense ganharia a taça. Nelson Rodrigues chega ao Maracanã e é provocado, com humor, pelo João Saldanha: “Por que está aqui se o Fluminense não vai disputar”? Respondeu Nelson: “Ah, meu caro amigo, vim para assistir a derrota dos dois”. Disse Saldanha: “Está sonhando, o Botafogo é imbatível”. As mesmas palavras foram ditas pelo Skassa com relação ao Flamengo. Final da partida; os dois perderam, pois o jogo foi empate. Voltando à extravagante disputa Judiciário X Legislativo, pode-se dizer que os dois perderam. Aliás, perdeu o Brasil. Creio que vários brasileiros tiveram uma crise de “depressão cívica”. Como disse o grande poeta Bandeira: “Ah! Como dói viver quando falta a esperança”. Se o Nelson Rodrigues fosse ainda vivo diria: nós continuamos com o “complexo de vira-lata”. Infelizmente, às vezes, a vida é assim.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 16/12/2016.

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