sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA DE JOVENS LGBT - Postura Psicossomática

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
As pesquisas modernas sobre o desenvolvimento sexual demonstram ser a sexualidade humana uma construção dinâmica que deve ser entendida como uma combinação de atração sexual e identidade-gênero.
Os adolescentes gays, lésbicas, ou bissexuais estão propensos a maiores riscos, em comparação com os heterossexuais: abuso de drogas, depressão, suicídio, doenças sexualmente transmissíveis (DST).
A maioria dos estudos indica a prevalência da homossexualidade entre indivíduos adultos (5% a 10%). Estes números também parecem ser consistentes com os dados disponíveis sobre os jovens. Apesar de todos os avanços sócio jurídicos, ser LGBT (lésbica, gay, bissexual ou transexual), na fase de transição da infância para a idade adulta parece ser extremamente estressante, em especial se comparada ao estresse sofrido pelos heterossexuais do mesmo grupo etário.
Apesar disso, existem poucos estudos longitudinais nessa população, sobretudo sobre a questão do suicídio. Não possuímos estudos comparativos quanto ao aumento ou a diminuição do comportamento autocídio, na contemporaneidade. Os adolescentes que experimentam atração pelo mesmo sexo continuam a se rotular como heterossexuais.
O profissional de saúde que pergunte ao adolescente sobre a sua atração ou preferências sexuais não terá respostas sinceras. Perguntar ao adolescente sobre sua atividade sexual e as atrações que sofre, ao invés de perguntar se eles se rotulam como gays, é muito complicado e a maioria negará sua orientação sexual, que é algo que deve ser formulado na anamnese. Feita esta introdução, afirmo ser o suicídio a terceira principal causa de morte entre os adolescentes.
Jovens LGBT são duas vezes mais propensos a tentar o suicídio que seus homólogos heterossexuais. Estar ciente do risco de suicídio em pessoas com distúrbios de gênero é mandatório na política de prevenção. Compreender os fatores de risco e a ideação suicida é crucial para melhorar a prevenção e formular estratégias de conduta do profissional de saúde.
Em paralelo, um forte apoio social pode ajudar a proteger gays, lésbicas, bissexuais e transgenéricos contra os pensamentos suicidas, automutiladores ou de risco. O apoio dos familiares, do ambiente escolar, de programas para reduzir o bullying tem se mostrado alentadores. Atitudes sócio educacionais isentas de preconceito tem se mostrado de valia em algumas ocasiões, porém desconheço estudo sobre esse aspecto.
Para o adolescente, o primeiro contato com um profissional da área médica é com o pediatra, médico de família, ou internista. Se esses profissionais estiverem orientados, perceberão o perigo a que essa população enfrenta. Conhecimento do profissional e sensibilidade em relação às questões da sexualidade influenciam fortemente o nível de conforto do paciente na busca de cuidados de saúde, em futuro que se avizinha.
Eu creio que realmente temos de nos informar a respeito de quê caminhos podemos tomar para ajudar a reduzir o suicídio na juventude gay. Seria uma nova maneira de tratar o problema, para a qual a Psicossomática estaria apta a atuar nas diversas especialidades médicas.
Para maiores esclarecimentos consultar: 'Am J Prev Med. 2012; 42:221-228'. A outra mensagem para os profissionais de saúde é não fazer julgamentos e usar linguagem neutra e sem preconceito ao lidar com jovens LGBT. Preconceito é sentimento maléfico, mesmo quando positivo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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