Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A Síndrome de ‘Burnout’ é um distúrbio
psiquiátrico que se caracteriza pelo esgotamento físico, mental e psíquico do
indivíduo. Tal transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Considerado como manifestação depressiva,
acontece entre as mais diversas profissões e, em maior proporção, nos
profissionais da Saúde, principalmente entre estudantes, internos e médicos
residentes. As causas estão ligadas a uma percepção de desvalorização /
impossibilidade de atender a demanda profissional e ao colapso da Medicina.
A maioria das ocorrências, segundo os
estudiosos, não é causada por fatores pessoais, como personalidade ou herança
genética. Será pertinente lembrar, que paradigmas do tipo: médico é frio,
calculista, cético, descrente; que não acredita em nada; que tende a duvidar de
tudo; incrédulo; sem crenças e outras adjetivações deste tipo, não passam de
imputações superadas. Da mesma forma, o preconceito que julga o sofrimento
psíquico como fraqueza, deveria ser revisto pelos responsáveis pela formação
dos novos médicos como pessoas, cidadãos e – principalmente – como
profissionais.
Atualmente, na América Latina, o Brasil é
considerado o país com maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade. Dados
expostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro deste ano (2017),
dizem que 9,3% dos brasileiros vivem com algum tipo de transtorno de ansiedade.
Líder no ranking, o Brasil supera as taxas indicadas nos demais países da
região, que tem o Paraguai em segundo lugar, com 7,6%, e em terceiro o Chile,
com 6,5%. De acordo com as pesquisas, a ansiedade é uma das patologias mais
citadas e com maior número de alterações psíquicas no nosso país.
Quando a ansiedade persiste por muito tempo
leva, na maioria das vezes, à depressão que é uma das principais causas de
suicídio. O suicídio geralmente é causado pela convergência de múltiplos
fatores de risco, sendo os mais comuns ligados a perturbações da saúde mental
não tratadas, ou, inadequadamente gerenciadas.
Cerca de 300 médicos morrem por suicídio nos
EUA por ano. Nesse caso, a depressão é um fator de risco significativo,
que leva à morte, aproximadamente, na mesma proporção que as mortes por
suicídio não médicas; mas os médicos que tiraram a própria vida, foram menos
propensos a receber tratamento de saúde mental.
A taxa de suicídio entre os médicos do sexo
masculino é 1,41 vezes superior à da população masculina em geral. E entre os
médicos do sexo feminino, o risco relativo é ainda mais pronunciado: 2,27 vezes
maior do que aquele da população feminina geral. O suicídio é a segunda causa
de morte na faixa etária de 24 a 34 anos (os acidentes são os primeiros).
A prevalência de depressão entre os médicos
residentes, é maior do que entre indivíduos de idade semelhante na população
geral dos EUA: 28% desses médicos e residentes experimentam um episódio
depressivo expressivo durante a residência médica versus a taxa da população em
geral, que é de 7,8%.
O risco de suicídio entre os médicos aumenta,
quando as condições de saúde mental não são escondidas e, quando a
automedicação ocorre como uma forma de abordar ansiedade, insônia ou outros
sintomas aflitivos. Embora a automedicação possa reduzir alguns sintomas, o
problema de saúde subjacente, não é efetivamente tratado e, isso pode levar a
um desfecho trágico. Em um estudo prospectivo, 23% dos estudantes internos
tiveram pensamentos suicidas.
Em resumo, as perturbações da saúde mental não
atendidas são, em longo prazo, mais propensas a impactar negativamente a
reputação e prática profissionais do que quando se busca ajuda antecipada. Conferir:
American Foundation for Suicide Prevention (Fundação Americana de
Prevenção ao Suicídio).
Agora pergunto:
Como devem estar os jovens e as jovens
estudantes de medicina, internos, residentes, nessa atual explosão de números
de escolas médicas, aliada à falta de equipamentos de ensino e de atendimento
aos pacientes e, de um número compatível de professores competentes?
Perguntar é delito? Não é!
Acautelar é um dever de veterano do ensino
médico.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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