Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
É impressionante a quantidade de filmes e livros lançados
sobre Maria Madalena. Alguns valem a pena pelo rigor teológico e histórico
inquestionáveis, outros para ver até onde chega a falsificação histórica e a
imaginação criativa de muitos.
Em tempos de abertura e
valorização do papel da Mulher na Igreja vale a pena a reconstrução histórica,
teológica e espiritual desta mulher, que marcou a história cristã e em alguns
momentos foi esquecida e desvalorizada. Chamava-se Maria, e era de Magdala. Já
no próprio nome está explícito seu perfil de mulher independente, à frente de
sua época. É nomeada pelo povoado de onde veio, e não em relação a um parente
do sexo masculino, isso indica que era mulher de recursos, não submetida a
outros e com autonomia para fazer parte do grupo de Jesus. É a mais citada nos
Evangelhos, 17 vezes, mais inclusive que a mãe de Jesus. Acompanha Jesus no
início de seu ministério, é a testemunha privilegiada da morte e Ressurreição.
Durante os primeiros séculos
existiram duas tradições sobre Maria Madalena: em comunidades cristãs, nas
quais as mulheres exerciam um ministério oficial, Maria era reverenciada como
primeira testemunha da Ressurreição. Irineu, Orígenes e João Crisóstomos a
nomearam como "Apóstola dos Apóstolos". No terceiro século, Agostinho a confundia e
identificava como a pecadora, porém foi o papa Gregório Magno, em uma de suas
homilias declarou "Maria Madalena,
Maria de Betânia e a pecadora citada por Lucas a mesma pessoa" a levando ao ostracismo e discriminações, no qual
a Igreja terá sido vítima de um patriarcalismo secular, ao assimilar Madalena à
prostituta, para a desonrar e recusar às mulheres o seu pleno lugar. A
verdadeira Maria de Madalena representaria muito mais: a solidariedade, a
lealdade mesmo perante a morte, a coragem, a criatividade, a perseverança.
O papa Francisco, em tempos de
renovação, ao declarar o dia de Maria Madalena (22 de julho) uma festa à altura
dos apóstolos, destaca o papel da mulher e desafia a Igreja a converter à
participação das mulheres como discípulas, em pé de igualdade no século XXI.
Como a Igreja ganharia com isso!!!
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em
Teologia.
Fonte: O Povo, de
14/9/2019. Opinião. p.16.
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