Por Marcello M. Veiga,
P.Eng., PhD Professor
Norman B. Keevil Institute of Mining Engineering but University
of British Columbia, Vancouver, Canada, V6T1Z4.
Como professor de Engenharia no
Canadá, tomo a liberdade de fazer alguns comentários, talvez simplistas, sobre
o que escutei recentemente quando estive no Brasil!: "o Canadá tem 14
prêmios Nobel porque tem muito menos gente que o Brasil... assim tem mais
dinheiro para cada instituição". Certíssimo e comento... no Brasil os
estudantes universitários aprendem ideologias em vez de ciências... por isso
que o Brasil ficou em penúltimo lugar no PISA.
Estive em novembro no Brasil
dando palestras sobre sustentabilidade da mineração no mundo e participei de
vários eventos. Fiquei surpreso pelo baixo nível das pesquisas na minha área de
mineração, ambiente e sustentabilidade. Realmente o país caiu numa desgraça
ideológica que faz com que as pessoas não avancem mais na ciência das coisas
mais simples e locais e acabam travados numa gaiola de discussões ideológicas
sem sentido. Sem falar da completa falta de imaginação e inovação dos
pesquisadores brasileiros. Querem matar mosquito com bazucas. Já dizia meu
primo, passarinhos criados em gaiolas não conseguem voar depois de soltos.
Assim quando os estudantes saem das Universidades vão reclamar ao governo por
não terem empregos. O problema não é a falta de empregos, mas a baixa
qualificação dos candidatos. É claramente um problema de qualidade e não de
quantidade como creem vários colegas brasileiros. Um engenheiro de minas do
Peru tem muito mais experiência hands-on que um do Brasil. Fiz uma palestra no Brasil onde mostrei os
níveis de pobreza do país... Sem saneamento básico (somente 34% dos municípios
têm coleta e tratamento de esgoto). Lixo por toda parte (cerca de 42% dos
municípios não coletam lixo e os que coletam não dão fim adequado). Reciclagem?
Quem sabe o que é isto!? Só 19% dos municípios têm sistemas de coleta e reciclagem.
Isto sim é um problema para os engenheiros, médicos, ambientalistas,
sociólogos, e cientistas de todas categorias se envolverem. Mas isto não dá
Ibope. Talvez mandar um foguete para o Sol para resolver o problema climático
do planeta deve estar nas prioridades dos "pesquisadores" brasileiros
que clamam que o país não investe em pesquisa. Claro que mandariam o foguete a
noite para não derreter.
O Brasil tem um custo por
estudante em sistema público de US$4450 (https://www.fundacred.org.br/site/2019/04/16/quanto-e-como-e-o-gasto-do-brasil-com-educacao/).
Em 2020, o Brasil vai ter uma
queda de fundos para educação de R$ 122 bi para R$101 bi (US$ 25 bilhões)
Talvez, R$ 115 bi (US$28.75 bi) após revisões do MEC. Uma redução sensível mas
acredito que isso irá acontecer no ensino superior e na pesquisa. Quando o
cobertor é curto, temos que escolher entre cobrir a cabeça ou os pés. Daí a
gritaria por mais recursos. De onde viriam? E para que? A culpa é dos nossos
pesquisadores que não mostram resultados e se distanciam cada vez mais das
empresas e do cenário mundial.
O Canadá tem um orçamento em
educação, que não está nem entre os 15 países da OECD, de US$ 50 bi/a (sendo
50% para ensino básico e médio). Dá US 8000 por estudante/ano de jardim da
infância a grade 12. Claro que muito mais que o Brasil, que tem no orçamento de
educação US$ 28,5 (ou $28.75) bilhões e 26% vão para universidades federais, 17,5%
transferidos para educação básica, 10.5% para ensino técnico e o resto para
sustentar a máquina administrativa. Também haverá cortes no orçamento da
pesquisa no Brasil, mas serão seletivos...espero eu. Quem não produz algo
relevante, não leva... É o que deveria ser, pois existe muita falta de
objetividade nas pesquisas em universidades brasileiras.
Realmente este ano de 2020, o
problema orçamentário brasileiro se fará sentir na educação, mas não no
Congresso Nacional, é claro. Mas no
ensino básico e médio, o orçamento prevê aumentar em 1% o investimento
federal... quero ver os municípios repassarem isto para as escolas.
No Canadá os Estados (províncias)
são basicamente os principais encarregados da educação superior e gastam US$
9.7 bi/a. Esses governos provinciais
contribuem com 78% do orçamento das universidades e o federal com 22%. As
mensalidades representam entre 25 e 30% do orçamento das universidades públicas
(universidades são públicas, mas são pagas...quem não tem dinheiro o governo
ajuda... se merecer ser ajudado). O dinheiro dos governos federal e provinciais
representa cerca de 27% do orçamento das universidades. As universidades têm
que ir atrás de $ de doações, trabalhos para companhias, estudantes
internacionais que pagam mais, e geram recursos com restaurantes,
estacionamentos, moradias para estudantes e professores, etc.
No Brasil R$30 bi ou US$ 7.5 bi/a
do orçamento de educação vão para as universidades públicas federais. (http://www.portaltransparencia.gov.br/funcoes/12-educacao?ano=2019). Mas contando com outros itens
para funcionamento das universidades, este valor deve chegar aos US$ 15 bi.
Muito do dinheiro é para pagar salários de professores e funcionários (65%).
Ninguém gera nada de dinheiro.
O Brasil tem 2.448 universidades
sendo 190 federais, 124 estaduais, 63 municipais e 2.071 privadas. O Canadá tem
96 universidades provinciais (estaduais) e 52 privadas.
O Brasil tem 8 milhões de
estudantes universitários. O Canadá tem 1,8 milhões.
Quando saí do Brasil em 1991,
haviam 6 universidades que tinham faculdades de Engenharia de Minas. Agora são
31.
O orçamento de 2019 de pesquisa
para universidades (tecnologia, medicina e social) no Canadá foi da ordem de US$
950 milhões/a, incluindo bolsas para estudantes e salários para assistentes,
equipamentos, reagentes, computador, etc. Não inclui infraestrutura ou salário
de professores. No Brasil, em 2020, o orçamento para pesquisa universitária
será de US$ 550 mi/a para CAPES e US$ 300 milhões/a para CNPq também para
bolsas e gastos operacionais que não incluem salários de professores. Se
incluirmos as agências de fomento à pesquisa dos Estados, como FAPESP e outras,
chegamos a cerca de US$ 1 bi em incentivos públicos a pesquisa. Bem parecido
com os valores do Canada. Contudo a contribuição das empresas no Canadá à
pesquisa universitária deve chegar a10 - 20% do orçamento. No Brasil isto é
insignificante.
Bem, voltando a crítica de que o
Canadá tem muito menos pessoas que o Brasil por isso tem mais fundos por
instituição que geram mais qualidade a pesquisa... por isso tem mais prêmios
Nobel (14 e o Brasil nenhum). Claro que é verdade este argumento. Mas o
conserto não é aumentar o dinheiro para a pesquisa, mas diminuir os gastos em
pesquisas inúteis.
Eu acho que o dinheiro existe no
Brasil, mas é mal gerido. As pesquisas são mal orientadas para setores sem
prioridades. Pouca pesquisa se dedica a diminuir a pobreza do Brasil ou mesmo,
no meu campo de conhecimento, contribuir para utilizar lixo e esgotos como
matéria prima (mineração urbana). Também minhas pesquisas na Internet revelam
que os artigos de brasileiros publicados internacionalmente são os mais baixos
em referencias, isto é, com algumas exceções, não atraem atenção internacional,
além de ter baixíssima contribuição das empresas. Culpa das empresas ou das
universidades?
Assim, verifica-se que o Brasil
deveria ter um desempenho muito melhor na ciência que o Canadá, se o
investimento fosse mais seletivo e favorecesse os pesquisadores de melhores
desempenhos. Proporcionalmente ao custo de vida, os salários de professores
universitários brasileiros são equivalentes aos do Canadá. Na área científica,
as universidades brasileiras estão tão bem equipadas como as canadenses. Mas
será que a dedicação a pesquisa é a mesma?
Universidades de engenharia e ciências
no interior do interior do Nordeste ou em cidadezinhas da Amazônia? Desculpem
os meus irmãos do agreste, mas para que serve um título de engenheiro com muita
teoria se o primeiro passo de saber fazer algo concreto pela região ainda não
foi dado? Talvez uma escola técnica seja melhor. O que traz desenvolvimento
para o interior são empresas com empregos e não universidades grátis e de má
qualidade. Aqui no Canadá as crianças no curso elementar aprendem primeiro a
fazer sua comida e costurar que são fundamentais para sobreviverem, antes de
saber as leis da relatividade. Sejamos práticos, está na hora de aplicar um
pouco de pragmatismo na educação brasileira pois o barco universitário está
indo à deriva.
Universidade e pesquisa são para
uma elite intelectual até nos países comunistas como China e Coreia do Norte. Não
adianta ter quantidade de universidades se não há qualidade. Já dizia o prof
Alberto Coimbra, um dos fundadores da pós-graduação da COPPE em uma palestra
que assisti em 1976: "a pesquisa no Brasil virou um grande poço, que é
preenchido com qualquer coisa... até lixo.". Se era assim em 1976... Deus
acuda o Brasil de hoje.
Fonte: Internet (circulando por e-mail
e i-phones).
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