segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O MELHOR REMÉDIO CONTRA A VELHICE


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
No balanço, temos mais ganhos do que perdas ao chegar às terceiras idades. Chega de rancores das coisas que nos fizeram, das posições que não fomos capazes de alcançar ou realizar
A velhice tem início a partir dos 75 anos segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso acontece porque muitas pessoas que possuem 60, 65 anos ainda estão no mercado de trabalho e apresentam expectativa de vida maior do que a anos atrás. A idade é um dos assuntos mais comuns de nossas conversas: “Ela nem parece ter a idade que tem”. “Qual a idade desta criança?” “Ela é muito inteligente para sua idade”. Até as mais variadas publicações costumam por a idade entre parênteses, após o nome das pessoas.
… além das três idades citadas, deveria haver uma idade mental, uma idade intelectual e uma idade cultural. Trocado em miúdos, nessa época das malhações…
Considera-se na existência humana três idades: a idade legal, a idade fisiológica ou biológica e a idade social. Alguns preferem considerá-la apenas a partir da certidão de nascimento (cartorial), a da saúde e a da idade profissional. Não importa qual seja o método ou a denominação, vale tudo para vencer a luta contra o envelhecimento.
Mas, além das três idades citadas, deveria haver uma idade mental, uma idade intelectual e uma idade cultural. Trocado em miúdos, nessa época das malhações, das/nas academias de ginásticas dos narcisos, creio que é melhor exercitar os neurônios que lutar contra a perda da massa muscular. Sem desmerecer a importância da saúde corporal, acredito ser o exercício mental mais importante que os exercícios físicos.
Quando jovens sofremos carências e enfrentamos desafios. Tudo começa com o trauma do nascimento, o desmame, o dos mais diversos abandonos, o de suportar as neuroses dos pais, o da adaptação social; temos medo de deixar a infância para traz. Ao chegar à vida adulta, urgem os mais variados temores.
A necessidade de vencermos na vida, trabalho, emprego, conflitos de relacionamento, cônjuges, pressa, correrias, disputas mais acirradas, chefes, patrões. Tantos são os desafios que somente posso terminar com um grande ETECETERA.
No entanto, na medida em que envelhecemos nos livramos dessas responsabilidades, dos deveres, das obrigações, e tudo vai se acalmando – lentamente. Algumas aspirações que tínhamos foram realizadas e, quanto às que não o foram, delas esquecemos ou com sua perda nos conformamos.
No balanço, temos mais ganhos do que perdas ao chegar às terceiras idades. Chega de rancores das coisas que nos fizeram, das posições que não fomos capazes de alcançar ou realizar.
Os medos diminuíram. Agora temos mais tempo para nós mesmos. As invejas e as ansiedades amainaram-se. Vale lembrar que a alegria de viver com saúde e paz poderá ser desfrutada por mais tempo. No contemporâneo, o aumento da longevidade é um fato. Não tolero os velhos ranzinzas e relembro aos da minha idade que o humor provoca riso e que a inteligência provoca humor.
A prescrição que faço como médico é que ao lado dos exercícios físicos, cultivem os exercícios mentais. Manter o cérebro ativo: esse é o segredo da juventude.
Acredito ser a prescrição que acabo de fazer o melhor remédio contra a velhice. Não valeria chegar aos setenta anos, se toda a sabedoria do mundo fosse tolice (Goethe-1749-1832). Agora chegamos aos 80 e trá-lá-lá, devemos é aproveitar a vida. Repito: exercitem o corpo, mas não se esqueçam de exercitar a mente.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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