Uma bodega chamada mercearia
Dr. Neve conta que um primo por nome Solano era
conhecido pela espirituosidade e por "melar o bico" além conta. Na
idade dos 20 anos, em um forró no colégio local, evidentemente "truviscado",
começa a dançar com uma moça no ambiente mais escuro. Após aplicar aquela
cantada, a jovem responde:
- Ô,
Solano! Tu tá é bebo, macho! Nesse estado, não dá pra decidir. Vou pensar mais
e amanhã te respondo.
Dia seguinte, Solano lascado de ressaca. Mas, o
bravo parceiro da pôde lava o rosto e vexado ganha a lapa do mundo. E já se vê
o homem descer a calçada da rua em direção ao bar mais próximo.
Coincidentemente, a tal jovem indecisa da noite anterior vem em sentido
contrário ao dele, na mesma calçada. Os dois se encontram e ela desembucha:
- Solano,
eu decidi!
O caba véi, olhando pra cara dela, sem a
maquiagem de ontem, dispara:
- Pois eu desisti, minha fía!
Dormir de dois, só se for sozinho
"Rapai véi", Solano se manda pro
Centro-Oeste do Brasil, terra onde seus irmãos já moravam e eram comerciantes.
Lá arranjou uma namorada, noivou e casou. A lua de mel foi em casa mesmo. Na
primeira noite, ele arma uma rede por cima da cama de casal e se deita.
Estranhando a arrumação, a mulher chama Solano pra ficarem os dois juntinhos,
na cama. No que ele responde entre invocado e brabo:
- Dá certo não! Eu não tenho costume de dormir de
dois, me deixa aqui mesmo!
Uma coisa é ela pedir...
De volta ao Ceará, Solano já está no segundo
casamento. O primeiro acabara porque a mulher queria dormir juntinho do marido
e ele, naquela desculpa de não saber dormir de dois. Não deu outra: babau,
casório. Juntou-se com uma moça da própria fazenda onde morava. Sobre o novo
relacionamento, tempos mais tarde, conversa com o irmão Santino:
- Tô preocupado com essa minha nova esposa.
O mano, sem entender, pergunta ingênuo qual a
preocupação. Solano, calmamente, responde:
- Rapaz, quase todo dia ela me pede 50 reais!
Santino fica realmente sem entender, já que na
fazenda as pessoas têm o costume de consumir tudo que é produzido ali - arroz,
carnes, feijão, milho frutas e legumes. Não carecia de fazer compra na cidade.
Santino questiona:
- Pra que
diabo tua mulher te pede esses 50 reais?
- Rapaz, eu não sei! Eu nunca dei!...
Um pau de lata chamado bodega
Amante do carteado, tipo indolente, Doquinha
tinha uma bodega nos anos 50. Praticamente único no lugar - a mais próxima
ficava a duas léguas. Certa vez, agarrado ao baralho com Mané Felício e outros
companheiros, nem percebe que um jovem chega ao estabelecimento para fazer
comprinhas de casa. "Intirtido" nas cartas, Doquinha nem deu bolas
pro freguês. Uma hora sem atendimento e Mirandulina, mulher do comerciante, sai
aos gritos, em defesa do rapaz:
- Ô,
Doquinha! Venha despachar esse homem! Tem uma hora que ele tá aqui!
Doquinha queria que o freguês fosse perturbar
noutro lugar. Mas, como não havia bodega por perto, levanta-se resmungando e
atende. De volta à mesa de baralho, Mané Felício fala sério:
- Eu já lhe disse: Doquinha, se o diabo dessa
bodega tá atrapalhando o nosso jogo, é melhor você fechar ela!
Fonte: O POVO, de 8/03/2019.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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