sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

AOS VIVOS: "Uma bodega chamada mercearia" ... e outros causos


Uma bodega chamada mercearia
Dr. Neve conta que um primo por nome Solano era conhecido pela espirituosidade e por "melar o bico" além conta. Na idade dos 20 anos, em um forró no colégio local, evidentemente "truviscado", começa a dançar com uma moça no ambiente mais escuro. Após aplicar aquela cantada, a jovem responde:
- Ô, Solano! Tu tá é bebo, macho! Nesse estado, não dá pra decidir. Vou pensar mais e amanhã te respondo.
Dia seguinte, Solano lascado de ressaca. Mas, o bravo parceiro da pôde lava o rosto e vexado ganha a lapa do mundo. E já se vê o homem descer a calçada da rua em direção ao bar mais próximo. Coincidentemente, a tal jovem indecisa da noite anterior vem em sentido contrário ao dele, na mesma calçada. Os dois se encontram e ela desembucha:
- Solano, eu decidi!
O caba véi, olhando pra cara dela, sem a maquiagem de ontem, dispara:
- Pois eu desisti, minha fía!
Dormir de dois, só se for sozinho
"Rapai véi", Solano se manda pro Centro-Oeste do Brasil, terra onde seus irmãos já moravam e eram comerciantes. Lá arranjou uma namorada, noivou e casou. A lua de mel foi em casa mesmo. Na primeira noite, ele arma uma rede por cima da cama de casal e se deita. Estranhando a arrumação, a mulher chama Solano pra ficarem os dois juntinhos, na cama. No que ele responde entre invocado e brabo:
- Dá certo não! Eu não tenho costume de dormir de dois, me deixa aqui mesmo!
Uma coisa é ela pedir...
De volta ao Ceará, Solano já está no segundo casamento. O primeiro acabara porque a mulher queria dormir juntinho do marido e ele, naquela desculpa de não saber dormir de dois. Não deu outra: babau, casório. Juntou-se com uma moça da própria fazenda onde morava. Sobre o novo relacionamento, tempos mais tarde, conversa com o irmão Santino:
- Tô preocupado com essa minha nova esposa.
O mano, sem entender, pergunta ingênuo qual a preocupação. Solano, calmamente, responde:
- Rapaz, quase todo dia ela me pede 50 reais!
Santino fica realmente sem entender, já que na fazenda as pessoas têm o costume de consumir tudo que é produzido ali - arroz, carnes, feijão, milho frutas e legumes. Não carecia de fazer compra na cidade. Santino questiona:
- Pra que diabo tua mulher te pede esses 50 reais?
- Rapaz, eu não sei! Eu nunca dei!...
Um pau de lata chamado bodega
Amante do carteado, tipo indolente, Doquinha tinha uma bodega nos anos 50. Praticamente único no lugar - a mais próxima ficava a duas léguas. Certa vez, agarrado ao baralho com Mané Felício e outros companheiros, nem percebe que um jovem chega ao estabelecimento para fazer comprinhas de casa. "Intirtido" nas cartas, Doquinha nem deu bolas pro freguês. Uma hora sem atendimento e Mirandulina, mulher do comerciante, sai aos gritos, em defesa do rapaz:
- Ô, Doquinha! Venha despachar esse homem! Tem uma hora que ele tá aqui!
Doquinha queria que o freguês fosse perturbar noutro lugar. Mas, como não havia bodega por perto, levanta-se resmungando e atende. De volta à mesa de baralho, Mané Felício fala sério:
- Eu já lhe disse: Doquinha, se o diabo dessa bodega tá atrapalhando o nosso jogo, é melhor você fechar ela!
Fonte: O POVO, de 8/03/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog