sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Crônica: "Altamente qualificado pra dizer besteira" ... e outros causos

 Altamente qualificado pra dizer besteira

Por "pessoa braba" entenda o "casca grossa estrutural", ignorante das coisas, mas sem malícia. O "canto de cerca" que mela a vara por insipiência. É o caso de uma rica viúva por nome Tota, moradora da zona rural de Apuiarés, ignorante de pai, mãe e parteira, como diziam os provençais.

Contou-lhe uma vizinha interesseira que a Mesbla vendia o mais monumental lançamento da época: o videocassete. Que numa propaganda o aparelho "amostrava" imagens bacanas numa "telona". Que podia parcelar em 12 vezes. Tota embarcou na onda e veio bater em Fortaleza. Podia não ter marido, mas um videocassete em casa ia ter. A vizinha falou! E ela já tá é na loja, mesmo! Vendedor testa o aparelho comprado, "aprovado". De volta ao sítio...

Vizinha se coçando de ansiedade pra ver a novidade sugerida. Mas o videocassete dá "poblema", e Tota vem se reclamar. Vendedor crê que tenha sido "os catabilhos" da viagem. Por via das dúvidas, entrega aparelho novo à cliente. Máquina testada e aprovada. Ao ligar o bicho, em casa, no sertão, nova frustração. "Tá pifado". À Mesbla regressa, exibindo grosseria das boas, do alto dos tamancos. Vendedor horrorizado. Pra evitar imbuança maior, a gerência torna a liberar aparelho zerado.

Em Apuiarés, com cuidado, Tota liga pela terceira vez o videocassete. Necas! A tal vizinha então se enfeza: "Vá 'dicretada' ao Decon". Em face de tanto mal-entendido, o promotor chama as partes querelantes pra acareação.

Após o tête-à-tête (loja se dizendo inocente, querelante anuindo prejuízo), a conclusão: Ministério Público e Mesbla irão à casa de dona Tota, com técnico, pra ver in loco que fulerage é essa. Lá foram todos...

... Tão somente pra constatar que não havia problema algum com o videocassete. Tota simplesmente não tinha aparelho de TV em casa.

Menino x cachorro

Eita mundo véi mudado. Fui comprar pão perto de casa, e porque fosse cedo demais (era feriado), portas da padaria ainda cerradas, e os fregueses na entrada à espera de tibungar dentro. Bem uns 20. Observávamos a movimentação de dentro do carro - eu, a mulher e o neto de um ano, bem bonitinho, simpático. Faltando dois minutos pras sete, descemos.

No mesmo instante se achega à porta de entrada da padaria chique, prestes a abrir, moça bonita com um cachorrinho de balaio na coleira. Quanta surpresa a nossa! Pensando que o povaréu todo fosse fazer graça com meu netinho, correram pra acarinhar o cachorrinho da beldade, perguntando-lhe pedigree e número do celular, dando a mínima pro meu bichinho.

Quando acabar a depressão pega um cachorro desses de proa e ninguém sabe o porquê.

Fala Cearense

O estudante Milton Jackalope pergunta e somente daqui a quinze dias direi os significados das expressões:

- Pessoa pensa pruma banda; tô querendo gripar; fulano tá chiquerado; cair de c. trancado; esse menino véve me empalhando; vogou não!, mêi pão e tem é Zé!

Fonte: O POVO, de 18/10/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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