Por Emmanuel Furtado (*)
Thomaz
de Araújo Corrêa talvez haja sido quem mais tempo clinicou na história da
Medicina do Ceará. Buscou o canudo na Bahia, em 1948, pois à época não havia a
faculdade por aqui. Recebeu convites para ser professor no rincão baiano, mas
seu propósito era voltar ao Ipu e ajudar seu pai, farmacêutico prático da
cidade. E pelas terras de Iracema, de José de Alencar, iniciou carreira,
constituiu família, e de lá não mais saiu. Chegou a fazer 30 mil partos,
inclusive em municípios outros da região norte, cobrindo cidades circunvizinhas
ao Ipu.
Para
além das atividades com as parturientes, trabalhou a medicina sanitária e
realizou expressivas curas do tracoma, doença oftalmológica que assolava a
região na metade do século passado. Por muito tempo, atuou como único médico da
cidade, desenvolvendo-se com total devotamento.
De
uma cultura geral, exímio orador, e membro de academias médicas e literárias,
era muito prazeroso ouvi-lo discursar. Doutor honoris causa pela UVA
(Universidade Estadual Vale do Acaraú). Sua medicina foi prioritariamente
filantrópica, reconhecida pela associação nacional das entidades filantrópicas
do Brasil, da qual recebeu comenda em Porto Alegre, nunca tendo feito da
atividade médica ato de mercância.
Homem
honrado, pai exemplar e esposo dedicado, sua alegria contagiante afagava os
corações das centenas de amigos conquistados em sua caminhada. Fiel a
princípios religiosos, foi coerente até o fim com o que acreditou e pregou. De
consciência reta e justa, não era dado a falar mal dos outros, ou se voltar a
litígios, não se indispondo e sabendo respeitar as ideias e pensamentos
diferentes.
Fincou
sua vida no tripé da medicina, da família e da fé. Muitos trilharam os caminhos
hipocráticos por conta de seu exemplo. Buscava conhecer os males da alma e
depois cuidar dos achaques do corpo, enxergando o paciente no todo.
No
último dia de agosto, meu sogro fez sua passagem para outro plano. A Igreja, a
família e a Medicina perdem um grande membro, mas sua memória já está cravada
no mais reluzente ouro.
(*) Desembargador corregedor do TRT
e professor da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/9/2020. Opinião. p.20.
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