domingo, 20 de setembro de 2020

REABERTURA DO COMÉRCIO X ISOLAMENTO SOCIAL

Por Maria Helena Lima Sousa (*)

Considero equivocada a reabertura do comércio e a restrição do isolamento social, apenas a grupos de risco. É preciso entender que a Covid-19 não é uma “gripezinha”. Trata-se de um vírus de alto poder de disseminação e cada pessoa, mesmo assintomática, pode contaminar em média, outras quatro, resultando numa propagação em escala exponencial.

A falta de sincronização de ação entre as esferas decisórias dificulta a obtenção de resultados mais efetivos e a aberta oposição do presidente cria obstáculos ao entendimento da doença por grande parte da população.

Outro problema consiste na alta subnotificação dos casos. Estimativa do MS chega a 86%. Chama a atenção o aumento da proporção de internações por síndrome respiratória aguda que saltou de 3% em 2019, para 80% neste ano, sugerindo que 77% das mortes sejam atribuídas ao coronavírus sem diagnóstico.

Com isolamento severo, muitas vidas serão salvas, ainda que com retração da economia, mas em condições de recuperação no curto-médio prazo por meio de intervenção do Estado. Relaxar nas recomendações da OMS acarretará explosão do número de casos, além do colapso do sistema de saúde. Empresários defensores do fim do isolamento estão dando um tiro no próprio pé, pois o caos é sempre o pior cenário para a economia. Além disso, aos que minimizam a morte de idosos, além de cruel, saibam que eles são responsáveis por 19% do sustento das famílias brasileiras.

A vantagem do Brasil sobre outros países é o SUS, mesmo com o subfinanciamento histórico e o processo de desmonte em curso. Mas é nele que o MS está se ancorando pra enfrentar o coronavírus.

(*) Economista, doutora em Saúde Coletiva, Profa. Visitante da Universidade Estadual do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/3/2020. Confronto de ideias. p.18.

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