quarta-feira, 16 de setembro de 2020

COM A PALAVRA O BNB

Por Ariosto Holanda (*)

Em novembro de 1987, como Secretário de Indústria e Comércio do primeiro governo Tasso, recebi no meu gabinete, profissionais da empresa Natron Engenharia, para discussão de um plano estratégico de desenvolvimento industrial para o Ceará. Como exemplo, eles me apresentaram o estudo que fizeram em Minas Gerais na região do Triângulo Mineiro, quando o governador era Aureliano Chaves. Esse trabalho, que foi contratado pelo INDI (Instituto de Desenvolvimento Industrial) de Minas Gerais, me pareceu bem estruturado e adequado ao Ceará. A sua concepção era clara e lógica. Após a definição da região no Triângulo Mineiro eles fizeram o levantamento dos seus recursos naturais: minerais, vegetais e animais, dos produtos que deles seriam obtidos e dos mercados estadual, nacional e internacional. Feito isso a equipe de engenheiros e economistas definiram as tecnologias envolvidas nos processos de produção e os locais mais apropriados para a sua instalação. Uma parte relevante desse estudo foi a que definiu as ações de apoio, como: educação, infraestrutura de água, energia e comunicação e os municípios responsáveis. Enfim, era um plano de desenvolvimento sustentável que integrava todos os municípios daquela região. O resultado desse trabalho foi publicado em 10 volumes - que se encontra no INDI - onde o primeiro é o manual do empresário e os demais descrevem os processos produtivos das indústrias escolhidas como tecnicamente viáveis.

Fomos então motivados a elaborar um projeto piloto para o Vale do Jaguaribe que chamamos de Plano de Desenvolvimento Integrado do Vale com a participação de 25 municípios: desde Jaguaribe até Aracati e tendo como agente técnico-financeiro o BNB/Etene. Essa estratégia mudava a política que predominava e que ainda predomina, qual seja, a de definir, o local de uma indústria, com base em quem dá mais incentivos fiscais e financeiros. Pretendíamos também, não procurar a Sudene, já que com a saída de Celso Furtado, ela passou a aplicar os incentivos do Finor na capital deixando o interior esperando chuva para praticar uma agricultura de subsistência. Infelizmente, apesar do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) contar com um quadro técnico de alto nível, e sensível ao projeto, não encontramos o devido respaldo nas diferentes diretorias que por lá passaram.

Retomo essa discussão devida à conjuntura atual, principalmente quando vislumbro que, após essa pandemia da Covid-19, haverá uma explosão de pobres e desempregados. Aliás é um fenômeno estranho que as estatísticas não mostrem que classe de pessoas está morrendo. Mas sabemos que são aqueles trabalhadores pobres que precisam sair do confinamento para buscar o seu sustento e o da família. Por isso, é preciso pensar num desenvolvimento que contemple o homem e o seu meio, que tenha o formato de micro e pequenas empresas e que receba o apoio das instituições de ensino superior e da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará). A minha esperança para que esse projeto aconteça está na atual diretoria do BNB, e na liderança empresarial que a Fiec exerce junto à sociedade. BNB e Fiec juntos podem tornar esse projeto uma realidade. 

(*) Professor, engenheiro e ex-deputado federal.

Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 6/08/20. p.19.

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