AMBULATÓRIO PARA TODOS

Eu estava com o Prof. Haroldo Gondim Juaçaba, em seu gabinete da UFC, quando entrou um R1 de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), portando uma nova escala de atividades dos residentes, com a qual parecia não concordar:

– Prof. Haroldo, o senhor, por favor, poderia examinar essa escala dos residentes?

– Pois não! Dei-ma, por favor.

O professor recebeu a escala pôs em seu birô e começou a examiná-la, observando detidamente a distribuição dos médicos-residentes nas várias atividades da semana-padrão. Logo, o cenho pareceu enrugado e passou a balançar, lateralmente, o rosto, demonstrando a sua desaprovação do que estava a ver.

– Quem fez essa escala absurda? – Indagou ele.

– Foi o Dr. Antunes, o R2 que, nesta semana, assumiu a chefia dos residentes de Cirurgia Geral e decidiu refazer a escala vigente.

Então, dirigindo-se ao R1, ele disse:

– Vá chamá-lo, por favor. Diga que preciso vê-lo agora.

Depois de alguns minutos, os dois residentes se apresentaram perante o Prof. Haroldo, que, por sinal, era o coordenador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral do HUWC.

– Foi o senhor, Dr. Antunes, quem fez essa escala?

– Sim, professor! E acho que está perfeita – respondeu o R2, expondo uma sobeja empáfia.

– Como perfeita!? – Por que você não entrou na escala fazendo Ambulatório?

– Ah, doutor, eu já sou R2 e ainda por cima estou na chefia dos residentes da Cirurgia. Acho que os R2 não devem atuar no Ambulatório; por isso, os distribuí apenas no Centro Cirúrgico, para participarem mais das cirurgias.

– Como é que é, caro doutor!? – Eu tenho quarenta anos de médico e, impreterivelmente, toda semana, faço o meu ambulatório da terça-feira de manhã. Acolho, com gratidão, a sofrida população cearense, tão desassistida e carente de recursos, que depende do atendimento prestado em nosso Hospital das Clínicas.

Em seguida, entrega a escala ao Dr. Antunes, despachando-o:

– Trate de refazê-la, ainda hoje. Todos, R1 e R2, têm que fazer dois expedientes semanais de Ambulatório. Todo cirurgião precisa fazer atividades ambulatoriais, o que inclui consultas e pequenos procedimentos cirúrgicos.

* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.32-33.

Fonte: SILVA, M.G.C. da. Ambulatório para todos. In: SOBRAMES – CEARÁ. A plenos pulmões. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2021. 340p. p. 229-230.