domingo, 25 de agosto de 2024

TRIBUTO AO DR PAULO MARCELO MARTINS RODRIGUES (1933-1989)

Por José Maria Bonfim (*)

“Ergue-te! eu vim por ti e pela tarde, pelos campos a errar, sentir o vento respirando a vida. e livre suspirar.” (Álvares de Azevedo).

Em 1994 os 3 tenores fizeram um belo tributo a Gene Kelly e a Frank Sinatra. Em 2014 estivemos na Jordânia, fomos a Petra, onde houve um tributo ao Luciano Pavarotti, morto em 2007. Hoje dia 23 de agosto celebramos o aniversário de Gene Kelly o grande artista e dançarino de dançando na chuva. Marcelo com uma cultura refinada tirava certa admiração por talentos, embora que encantasse com os mais simples dos humanos. Num dos seus poucos poemas, lembra Woody Allen expressão vitoriosa no cinema. Marcelo gostava dele.

Mesmo com a pequenez, que não desgruda, do meu ser pequenino lá do Crateús, achei que algo faltava na minha alongada, vida de médico. Vi partindo um a um, os muitos colegas, que comigo caminharam nesta longa e gratificante jornada. Havia um imenso vazio, que parecia se aprofundar a cada dia que os meus dias eram retirados. Encurtavam os meus dias, e sobre mim um enorme peso.  Ainda havia caminho. Ainda havia estrada. Ainda, nem a penumbra ameaçava as minhas últimas horas. Mas senti que o sol corria. Desabava a luz que dele irradiava. Foi quando vi ressurgirem as alvoradas. Balancei os últimos orvalhos que ainda restavam e dediquei com extremado amor a memória sagrada de PAULO MARCELO MARTINS RODRIGUES. Era o que faltava, na minha vida, para nunca esquecer que sou feliz. Daí nasceu este livro, com suas falhas, seus erros, suas limitações e seus acertos. Porém em cada esquina de cada página está o grande amor, que deitava sobre este ser tão divino que Deus quis que ficasse pouco tempo entre nós. Foram 29 anos de convivência profícua. Momentos grandiosos. Momentos graves e solenes. Momentos de lágrimas e saudades. Momentos de mares bravios, com tsunami e procelas. Momentos questionáveis, pois não sabia onde findava o magistral esculápio. Nem também sabia onde se plasmava o homem digno. Decente. Ético. Amigo. Cheio de aflição. Cheio de cuidado. Parecia carregar a dor do mundo. Homem como Paulo Marcelo, Deus o fez nas poucas alvoradas divinas que o sol se liquefez, sobre os alcantis da terra. Paulo Marcelo é o sorriso mais belo de Deus. Eis a finalidade desta homenagem. Paulo Marcelo é o abraço amoroso de Deus, em cada paciente. Levava a Medicina de maneira solene. Ritualística. Uma liturgia que professava com alegria.

Escolhemos como local o Conselho Regional de Medicina, templo onde se zela pela ética. Sócrates afirmava que sem ética o ser humano nada é. Paulo Marcelo Martins Rodrigues, que nos deixou tão precocemente, nos doou este legado de um MÉDICO perfeito. Vocês três filhos são as pérolas que Paulo e Claudia nos legaram. Representam a continuação de tanta honradez e decência que o Dr. Paulo Marcelo legou ao mundo.

 O livro faz parte desta singela homenagem. Convidamos todas as entidades de classe para juntos cantar um Te Deum pela vida e o legado de Marcelo como médico, como pai, como esposo extremado, como filho, como irmão e como cidadão amigo. Como colega de classe.  Aqui trago os rogos daqueles pacientes que ele cobriu de esperanças. Trago os rogos daqueles que sufocados pelos gemidos da doença, viram vozes de salmodias de agradecimentos. Um tributo despido de vaidade. Desnudo de orgulho. Simples como Paulo. Mas imenso de fervor e amizade, como o era o inesquecível esculápio. Não é uma paga. Não é uma dívida resgatada. É um reconhecimento. É uma relembrança. É uma memória que nunca esmaeceu da minha mente do meu coração. Agradeço a DEUS a graça de ter a estrada da minha vida, tão pobre e tão simples, ter sido iluminada por este clarão cheio de saber. Esta luz vigorosa cheia de luz. Cheia de vida. Jamais poderíamos esquecer, de quem jamais esqueceu de nossas dores. De nossas febres que não cediam. Jamais poderíamos esquecer que cada paciente era uma história. Tinha um nome próprio. Tinha um lar. Tinha uma família.  Era o paciente o altar divino de sua oração de médico. Uma oração feita com imensa piedade. Uma oração polvilhada da Fé. Levava tinturas da esperança.  Erros sim. Aconteceram. Falhas sim. Mas o que nos marcou foi a sua humildade frente a doença e o doente. Sabia se conduzir e conduzir o paciente. Mas o mais belo de tudo isso, Paulo não desistia de lutar. De caminhar nos meandros do pensamento e do diagnostico lógicos. Não inventava. Não tangenciava. Não escapulia como a fuga dos fugazes e sem compromisso.

A obra que escrevemos, fruto de sedimentação, que foi se processando, dias após dias. Daquele dia que me fiz lágrimas de dor e de tristeza, se foram 35 anos. Foi uma vigília prolongada que se finda neste monumento de eterna gratidão. Eu o faço por mim, em primeiro lugar. Mais achegado o desfecho daquela manhã que nunca se findou. Preferia não estar presente naquele domingo cinzento e triste, que derrubou a minha alma e destroçou os horizontes que sonhava conquistar. Chorei tanto. Chorei muito com dó de mim. A minha vida se transformou.

Desarrumaram-se as estantes da minha alma. Letárgico e perdido. Custei muito a acertar meus passos. Mesmo assim fui momento a momento semeando esperanças com as sementes que Marcelo me ofereceu. E hoje já nos prelúdios da noite que se aproxima. Temendo a escuridão da velhice e da doença. Tropeçando nas próprias fimbrias do meu jaleco desbotado, trago esta tocha grandiosa. Este facho inapagável. Esta chama que nunca se consome. Esta sarça, na qual, coloquei todas as fichas da minha esperança. Trago a vida de Paulo Marcelo lapidada, esmiuçada, desenhada de amor e ternura. E não me achego só. Chego com todos que sentem a presença de Paulo, quando o mundo ensaia uma fátua esperança. Marcelo transpira raio do Éden, cheiro de cor divina.

Agradeço a todos os familiares do Dr. Paulo Marcelo. Minha mãe teve um quadro de vômitos e febre. Tinha 97 anos. Lucida. Pedi o Dr. Cabeto para vê-la. Ele não somente consultou, como a levou para o Hospital, onde ela se operou de colecistite. Ela perguntou quem era este médico. Respondi que era o Dr. Cabeto, filho do Dr. Paulo Marcelo. Aquele seu amigo? Ele sabe que vc amava tanto o pai dele? Então estou em boas mãos. Agradeço ao Aluisio que foi meu colega na Faculdade Católica. Agradeço a Mirella que a vi tão pequenininha. Agradeço a todos desta família maravilhosa.

Agradeço aos professores Dr. Martinho e Dr. Flávio Leitão, pelo apoio. Agradeço a família Dias Branco, na pessoa de Graça da Escossia pelo vigoroso apoio. Agradeço a Professora Francisca Ayla, da Academia Ipuense de Letras e Artes. E ao Dr. Euribes, sua esposa. Ao Dr. Josué de Castro que sempre nos ajudou.

Agradeço o apoio e sustentáculo nesta empreitada a minha esposa Dra. Eliane Barbosa, aos meus filhos que cultuam este meu amor Martiniano Rodrigues.

Agradeço a minha colega de turma Dr. Mary Neide Romero, que me trouxe a presença de minha conterrânea a brilhante, Dr. INES Melo, pelo apoio.

Agradeço ao Dr. Ulisses Cabral, presidente da SBC, pela disposição. Ao Dr. Gentil Barreira, Presidente da Sociedade Norte e Nordeste de Cardiologia.  As demais arcádias, Acemes, Sobrames, AILCA, ALC.

E um agradecimento especial a Deus que nos guia e nos alerta nas caminhadas da vida. Deus é bom.

(*) Discurso lido pelo autor no lançamento do seu livro “Paulo Marcelo Martins Rodrigues”, na sede do CREMEC em 23 de agosto de 2024.

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