Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)
A frase que dá
título a este artigo expressa uma relação de causalidade válida. Por quê? O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é dividido em três partes iguais:
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida e educação. Os dois
últimos indicadores dependem fortemente do gasto público, o que torna evidente
a relação causal com a arrecadação.
Até pode haver
países em que o aumento do PIB ocorreu com arrecadação baixa, mas isso nem
sempre se traduz em melhoria de outros indicadores, caso a arrecadação
tributária — especialmente a per capita — não aumente. Foi o que se observou em
países europeus, inclusive no Leste Europeu após a década de 1990, e também em
alguns países asiáticos.
Dois economistas
da mesma escola teórica, Ludwig von Mises e William Stanley Jevons, pensavam de
forma oposta sobre a causalidade na economia. Mises negava que esse campo
pudesse ser uma disciplina empírica capaz de estabelecer relações causais. Já
Jevons adotou a posição oposta, recorrendo à construção de números-índice para
demonstrar a ligação entre o aumento dos estoques mundiais de ouro e a inflação
após 1849.
Do ponto de vista
pragmático, a análise causal em economia busca respostas para as seguintes
questões: a) qual o uso prático das relações causais? Se acreditamos que X
causa Y, como podemos confiar na estabilidade dessa relação? Apenas depois de
responder a essas perguntas é que o conhecimento causal pode ser utilizado para
explicar fenômenos, fazer previsões e orientar intervenções em política
econômica.
A busca por
explicações causais não é exclusiva da economia. Trata-se de uma atitude que
integra o conhecimento científico desde suas origens na filosofia. Na linguagem
corrente, “causa” é entendida como “razão de ser, explicação, motivo ou aquilo
que faz com que algo aconteça”.
Em abril deste
ano, completou-se uma década da publicação de O Capital no Século XXI, de
Thomas Piketty. tese central segue atual: a riqueza sempre foi concentrada e,
enquanto a taxa de lucro superar a de crescimento da economia, a desigualdade
tende a aumentar.
Em 2023, os
pesquisadores Heather Boushey, J. Bradford DeLong e Marshall Steinbaum,
organizaram uma coletânea com apresentação de 20 autores, incluindo Paul
Krugman, Robert Solow, Branko Milanovic e Elisabeth Jacobs. A obra revisita o
tema da desigualdade econômica sob o prisma de Piketty e reforça a tese de que,
quanto maior a arrecadação, maior o IDH.
Nesse mesmo
sentido, realizamos um estudo publicado pela editora Contracorrente, intitulado
Solidariedade Fiscal — desmistificando o nível de tributação e seu impacto no
crescimento econômico, em parceria com Pedro Humberto e Cláudia Decesares.
Comparamos a arrecadação tributária e o gasto público do Brasil com os de 126
países e demonstramos, com base em análise robusta e econométrica, que os
caminhos para combater a desigualdade e melhorar a posição do Brasil no ranking
do IDH são: 1) Implementar uma reforma tributária; 2) Fortalecer a tributação
progressiva; e 3) Investir em educação.
Segundo o estudo,
se o Brasil elevar sua arrecadação em 7 pontos percentuais do PIB — passando de
3,8% para 10,8%, patamar similar ao da Áustria e da Holanda —, o coeficiente de
Gini cairia para 0,4894, representando uma redução significativa da desigualdade.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e
Planejamento do Eusébio-Ceará.
Fonte: O Povo, de 1/05/25. Opinião. p.23.
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