Por Sofia Lerche Vieira (*)
O mundo assiste perplexo à chegada de Trump
ao poder. Medidas comerciais extremas, que abalam os mercados mundiais, são uma
pequena amostra do que pode acontecer em seu segundo mandato. O isolacionismo
subjacente à apologia do "Faça a América Grande Outra Vez" (Make
America Great Again) se associa a perseguições de diversas ordens, a começar
pelos imigrantes. O cerco às universidades é outro componente desses tempos de
crescente intolerância, onde convive-se com reedições de racismos e ameaças à
diversidade de um passado que permanece insepulto.
Conhecidas por se constituírem como ilhas
de liberdade intelectual, ao longo de sua história, as universidades
norte-americanas se tornaram celeiros de excelência, sobretudo por abrigarem
cérebros de todas as nacionalidades, o que veio a contribuir para a pujança
intelectual expressa em prêmios Nobel em todas as áreas do conhecimento. Este
cenário começa a mudar perante a disseminação de uma "ideologia
anti-intelectual" que se expressa em um duplo movimento: gigantescos
cortes financeiros e supressão da liberdade acadêmica e individual.
Universidades de grande prestígio da chamada Ivy League, como Columbia,
Princeton, Harvard e Pensilvania, estão perdendo recursos incalculáveis de seu
orçamento. Em tempos de caça às bruxas, estudantes com manifestações pro-Palestina
estão sendo presos até mesmo na rua e sob risco de deportação iminente, caso da
estudante turca Rumeisa Osturk, aluna de doutorado na Universidade Tufts.
Embora tenha havido protestos de rua contra
essas medidas, a reação pública ainda parece tímida face à envergadura do que
ocorre. Poucos são os que se posicionam contrários a tais extremismos, como fez
Christopher Eisgruber, reitor de Princeton, em entrevista à Bloomberg, ao
afirmar que "temos de ter a disposição de dizer não a um financiamento se
isso vai restringir nossa capacidade de buscar a verdade". Afinal, como
dizia Karl Jaspers, filósofo alemão e importante pensador desta instituição:
"a universidade é o lugar da busca da verdade sem constrangimentos".
E se isso não pode ser, não faz sentido existir.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/04/25. Opinião. p.16.
Nenhum comentário:
Postar um comentário