Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Não sou afeito a extremismos, talvez pela
vida que levo desde a minha infância. Com ela, aprendi sobre a contradição como
característica da nossa humanidade.
A atual escrita nasceu de um presente, de
uma irmã de alma, daquelas cuja empatia vem de outras vidas. O texto discorre
sobre política, ilusão, paixão e mentira coletiva.
A paixão que busca o gozo e dele não se
pode afastar. A mentira coletiva das mitificações como um alento a sensação de
orfandade causada pela crise, e consequentemente pelas mudanças.
O texto me remeteu à concepção freudiana,
que trata da projeção em nossos líderes das características do ideal do eu, uma
imagem do perfeito que construímos.
A publicação de “Psicologia das Massas e do
Eu”, antecedeu ao fascismo, é uma análise sobre o comportamento das massas,
quando as pessoas assumem atos contraditórios aos valores individuais,
permitindo-se a prática de atos de violência.
Tal abordagem auxilia na compreensão dos
dias atuais, exercidos por aqueles que aparentemente guardam diferenças nos
discursos, e se assumem como direita e esquerda. Porém, ambos flertam com o
bloqueio do diálogo e do contraditório, essenciais à democracia.
São tempos do anti-iluminismo, do
fundamentalismo religioso e ideológico, muitas vezes incentivados nas mídias
sociais, onde há espaço para um comportamento intolerante. Se é verdade que as
mídias sociais livres permitem a expressão democrática, longe das
manipulações da informação e do constrangimento ao jornalismo, que tem
compromisso com a verdade; quando polarizadas, induzem a uniformização do
comportamento, onde a massa não é simplesmente a soma de cada um, e sim a
amplificação dos desejos mais íntimos.
Mas o que nos leva aos extremos? Da
adoração aos totens nas sociedades primitivas às civilizações atuais, à
necessidade de um deus pai, ideal, ao invés de lidarmos com a imperfeição, o
amadurecimento psíquico?
Prefiro aceitar o destino, onde nosso
constante aperfeiçoamento se transmite geneticamente às próximas gerações,
passa a incrementar uma atitude atávica. Ou seja, um bom hábito pode se
transmitir geneticamente para outras gerações.
"São os mortos que governam os
vivos", pelo exemplo e pela construção da nossa consciência e do nosso
futuro.
Janus, Deus da mitologia romana,
reconhecido pela prudência, é representado por duas faces orientadas em
sentidos opostos, simbolizando a compreensão do passado e do futuro,
simultaneamente.
A evolução exige a compreensão do ser
humano em seus múltiplos aspectos, bem distante das afirmações dogmáticas.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/04/2025. Opinião. p.15.
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