segunda-feira, 12 de maio de 2025

Janus, a transição e a mudança

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Não sou afeito a extremismos, talvez pela vida que levo desde a minha infância. Com ela, aprendi sobre a contradição como característica da nossa humanidade.

A atual escrita nasceu de um presente, de uma irmã de alma, daquelas cuja empatia vem de outras vidas. O texto discorre sobre política, ilusão, paixão e mentira coletiva.

A paixão que busca o gozo e dele não se pode afastar. A mentira coletiva das mitificações como um alento a sensação de orfandade causada pela crise, e consequentemente pelas mudanças.

O texto me remeteu à concepção freudiana, que trata da projeção em nossos líderes das características do ideal do eu, uma imagem do perfeito que construímos.

A publicação de “Psicologia das Massas e do Eu”, antecedeu ao fascismo, é uma análise sobre o comportamento das massas, quando as pessoas assumem atos contraditórios aos valores individuais, permitindo-se a prática de atos de violência.

Tal abordagem auxilia na compreensão dos dias atuais, exercidos por aqueles que aparentemente guardam diferenças nos discursos, e se assumem como direita e esquerda. Porém, ambos flertam com o bloqueio do diálogo e do contraditório, essenciais à democracia.

São tempos do anti-iluminismo, do fundamentalismo religioso e ideológico, muitas vezes incentivados nas mídias sociais, onde há espaço para um comportamento intolerante. Se é verdade que as mídias sociais livres permitem a expressão democrática, longe das manipulações da informação e do constrangimento ao jornalismo, que tem compromisso com a verdade; quando polarizadas, induzem a uniformização do comportamento, onde a massa não é simplesmente a soma de cada um, e sim a amplificação dos desejos mais íntimos.

Mas o que nos leva aos extremos? Da adoração aos totens nas sociedades primitivas às civilizações atuais, à necessidade de um deus pai, ideal, ao invés de lidarmos com a imperfeição, o amadurecimento psíquico?

Prefiro aceitar o destino, onde nosso constante aperfeiçoamento se transmite geneticamente às próximas gerações, passa a incrementar uma atitude atávica. Ou seja, um bom hábito pode se transmitir geneticamente para outras gerações.

"São os mortos que governam os vivos", pelo exemplo e pela construção da nossa consciência e do nosso futuro.

Janus, Deus da mitologia romana, reconhecido pela prudência, é representado por duas faces orientadas em sentidos opostos, simbolizando a compreensão do passado e do futuro, simultaneamente.

A evolução exige a compreensão do ser humano em seus múltiplos aspectos, bem distante das afirmações dogmáticas.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/04/2025. Opinião. p.15.

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