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segunda-feira, 5 de maio de 2025

Câncer na boca e no dente: prevenção e diagnóstico

Por Davi Cunha (*)

Embora o câncer de dente seja menos comum, é essencial compreender o panorama geral do câncer oral para enfatizar a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do acompanhamento profissional. Em geral, as principais causas estão relacionadas ao tabagismo, ao consumo excessivo de álcool e à exposição ao vírus HPV, além de condições de higiene bucal inadequadas e do uso de próteses dentárias mal ajustadas — fatores que aumentam consideravelmente o risco de lesões malignas na boca e nos dentes.

No Brasil, o câncer de boca já é o oitavo mais frequente, mesmo sendo ainda pouco conhecido pela maior parte da população. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que, até o final de 2025, a previsão é de que mais de 15 mil pacientes sejam diagnosticados com a doença. O índice de óbito também é considerado alto, entre 43% e 45%, e o grande problema desse percentual ainda é o diagnóstico tardio.

A doença, que costuma atingir fumantes crônicos a partir dos 45 anos, com maior prevalência entre os 50 e 60 anos, pode afetar diversas regiões da cavidade oral, como lábios, gengivas, língua, palato e os dentes. Os sintomas são muitas vezes sutis e fáceis de ignorar, o que torna o diagnóstico precoce desafiador. No entanto, alguns sinais, como feridas que não cicatrizam após duas semanas, manchas vermelhas ou brancas na mucosa bucal, dor persistente ao mastigar ou engolir, dificuldades para falar e perda de dentes sem explicação aparente, devem ser observados com atenção.

Os dentistas desempenham um papel vital na identificação de lesões precoces e na orientação sobre medidas preventivas, que são sempre os maiores aliados na luta contra o câncer bucal e dentário. Ao buscar acompanhamento profissional e adotar um estilo de vida saudável, podemos aumentar as possibilidades de prevenção e de recuperação, com grandes chances de cura.

(*) Cirurgião-dentista.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/04/2025. Opinião. p.16.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

UM TUMOR CEREBRAL E UMA JORNADA

Por Saulo Teixeira (*)

No imaginário coletivo, um tumor na cabeça é um dos diagnósticos mais assustadores da medicina. Mesmo para nós, neurocirurgiões, que lidamos com essa realidade talvez uma ou duas dezenas de vezes por semana, cada exame que revela a presença de uma lesão tumoral vem acompanhado de uma infinidade de sentimentos.

A comunicação desse diagnóstico aos pacientes é uma das tarefas mais delicadas. Enfrentamos o medo de causar sofrimento desnecessário e a dificuldade de equilibrar a transparência sobre prognósticos sombrios com a necessidade de manter alguma esperança. Além disso, temos a responsabilidade de explicar que a cirurgia, apesar de necessária e segura, acarreta riscos significativos.

A habilidade manual, por si só, não basta. A estratégia é fundamental para um bom resultado. Muitas vezes, o tumor se encontra em áreas chamadas "eloquentes", regiões do cérebro responsáveis por funções vitais como fala, compreensão, visão, movimento e comportamento.

As relações pessoais no tratamento também evoluíram. Na minha geração, o neurocirurgião assistente deixou de ser o "tutor" absoluto do paciente. Hoje, as decisões são frequentemente colegiadas, discutidas com médicos parceiros e até mesmo com familiares leigos. Essa abordagem colaborativa frequentemente leva às melhores decisões.

Após a cirurgia, começa uma nova fase repleta de medos e incertezas, onde a reabilitação é crucial. Muitas vezes, é necessário um tratamento complementar, mas a esperança renasce. Nosso oponente, o tumor, terá sido em grande parte removido ou, ao menos, compreendido.

Claro que há algumas perdas pelo caminho. Há solidão, há infecção, há sangramento, há déficit neurológico, há abandono e muito medo. Mas preciso contar uma coisa: essa saga, que começou com a assustadora sentença do primeiro parágrafo, que já testemunhamos tantas vezes em tão pouco tempo, tem muito, muito mais finais felizes do que você, leitor, imagina.

Para mim, só existem duas certezas. A primeira é que o paciente com um tumor cerebral atualmente pode viver mais e melhor do que no passado. A segunda é que só enfrentamos esse desafio se permanecermos juntos!

(*) Médico neurocirurgião. Professor do IDOMED.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/12/2024. Opinião. p.16.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

A CRIMINALIZAÇÃO DOS CIRURGIÕES PLÁSTICOS

Por Daniel Maia (*)

Assim como no Brasil usam pejorativamente a expressão "Advogado porta de cadeia" para se referir a Advogados ruins, baratos e desqualificados, os quais somente pegariam causas em porta de cadeias, no desespero de quem está sendo preso, nos Estados Unidos usam a expressão "Advogado porta de hospital" para os Advogados que nas últimas duas décadas criam uma verdadeira indústria do dano moral, fomentada principalmente por ações judiciais contra médicos, em especial os que realizam procedimentos estéticos.

Tal movimento também passou a ocorrer no Brasil, onde o aumento de procedimentos estéticos e cirurgias plásticas disparou nos últimos anos, sendo hoje o segundo país no mundo em que mais se realiza esse tipo de intervenção médica.

Muitas dessas ações são movidas sem nenhuma razão jurídica que as justifiquem, pois não apontam qualquer erro ou pratica antiética dos profissionais médicos envolvidos, trazendo apenas ou uma sede enorme de enriquecimento sem causa ou uma busca para a sanar o inconformismo sobre o resultado que a cirurgia feita não obteve.

Essa banalização das ações judiciais no Brasil, já ocorre há anos no Âmbito da Justiça do Trabalho, em que muitos trabalhadores ajuízam ações sem direito nenhum contra os seus ex-empregadores, prática nojenta e que também deve ser combatida com a aplicação pelo Judiciário de condenações por litigância de má-fé.

Ocorre que no que se refere às ações judiciais contra médicos, a gravidade é maior, pois geralmente são ações criminais, as quais, por si só, independentemente do resultado final que terão, trazem de imediato um prejuízo incalculável aos médicos que passam a ter suas carreiras e credibilidade abaladas pelas notícias de que estão respondendo a um processo criminal, mesmo que no final sejam absolvidos, o estrago em suas carreiras já estará feito.

Dessa forma, é necessário que o Judiciário e principalmente o Ministério Público estejam atentos para rechaçar aventuras jurídicas ajuizadas de forma irresponsável e que visam, na prática, extorquir os médicos, com pedidos de indenizações milionários por algo que não tem culpa nenhuma. A medicina tem que parar de ser injustamente criminalizada.

(*) Advogado. Pós-doutor em Direito. Professor da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/12/24. Opinião. p.20.

terça-feira, 25 de junho de 2024

O TEMPO OPORTUNO PARA O CORAÇÃO DAS CRIANÇAS

Por Valdester Cavalcante Pinto Jr. (*)

Para tudo há um tempo? Aprendi a empreender os melhores esforços para mudar o que, ao meu julgamento, precisa de uma nova direção. No cotidiano das operações do coração das crianças, vivo desafios que não representam privilégios pessoais - são de todos com quem divido essa tarefa. Falta compreensão das necessidades básicas ao exercício profissional, o que nos impõe conviver com conflitos morais e éticos.

É necessário sentir o problema, enxergar que você não está sozinho e, em seguida, propor a união de todos no mesmo propósito. Aqui deparamos a necessidade de respeitar os distintos pontos de vista e negociar em prol do bem comum, a sociedade. Para tanto, é necessário tempo que, na maioria das vezes, não é aquele da necessidade.

Nesse contexto, o Departamento de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica (DCCVPed) da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), fundado há 21 anos, pleiteia sua área de atuação – houve resiliência para juntar os iguais, maturar ideias, consolidar objetivos, estabelecer e difundir conhecimentos.

E, por que uma área de atuação? - Porque cuidamos de crianças; porque têm doenças diferentes dos adultos (preferencialmente as congênitas que somam, a cada ano, 23 mil novos casos); porque há necessidade de treinamento específico; e porque precisa de dedicação para melhorar resultados.

À extensão do tempo, foi amadurecido dentro da nossa sociedade o fato de ser oportuna a concessão desse título. Como algumas coisas não se rompem tão facilmente com o tempo, muitos dos pontos que discutimos na contemporaneidade de nossa especialidade - Cirurgia Cardiovascular - precisam ser apreciadas num contexto de divergências no campo das ideias. Nesse processo, o DCCVPed tem debatido com a comunidade da cirurgia cardiovascular no sentido de esclarecer dúvidas quanto à formação e ao exercício profissional daqueles que enveredarem por esse caminho.

O tempo oportuno, que faz esse acontecimento ser especial e memorável, é sua significância quanto ao impacto na qualidade de vida das crianças e adolescentes cardiopatas, propósito de um Cirurgião Cardiovascular Pediátrico.

(*) Médico cirurgião cardiovascular pediátrico.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/06/2024. Opinião. p.16.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

CIRURGIA ROBÓTICA EM CABEÇA E PESCOÇO: avanço contra o câncer

Por Bonfim Júnior (*)

No cenário médico atual, a tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante na busca por tratamentos mais eficazes e menos invasivos. Um dos avanços mais marcantes nesse sentido é a cirurgia robótica, uma técnica que está revolucionando o tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Esse impacto é especialmente evidente no Ceará, onde já se opera por este meio.

A cirurgia robótica, originária da Inglaterra em 1980 e introduzida no Brasil em 2008, oferece uma maneira precisa e menos invasiva de remover tumores nessa região delicada do corpo. Por meio de braços robóticos controlados por nós, cirurgiões, por meio de um console computadorizado, procedimentos complexos podem ser realizados com maior precisão e menor trauma para o paciente.

Os benefícios dessa tecnologia são inegáveis. A precisão dos movimentos dos braços robóticos permite procedimentos delicados em áreas complexas, enquanto os sistemas de câmeras proporcionam uma visão detalhada, preservando áreas críticas. Além disso, a capacidade de acessar áreas de difícil alcance e a redução do trauma cirúrgico resultam em uma recuperação mais rápida e menos dolorosa para os pacientes.

É importante ressaltar que a cirurgia robótica é uma técnica complexa que exige habilidades especializadas por parte dos cirurgiões. Aqui no Ceará, já temos profissional habilitado para realizar procedimentos robóticos em cabeça e pescoço, o que destaca a necessidade de investimento em treinamento e capacitação nessa área.

Além da remoção de tumores, a cirurgia robótica pode ser aplicada em uma variedade de procedimentos, incluindo tireoidectomias, cirurgias de glândulas salivares e reconstruções complexas. Isso representa uma esperança significativa para os pacientes, não apenas em termos de resultados médicos, mas também em relação à sua qualidade de vida pós-operatória.

A cirurgia robótica em cabeça e pescoço é um exemplo notável de como a tecnologia pode ser integrada à medicina para oferecer tratamentos mais avançados e menos invasivos. É um testemunho do compromisso contínuo da comunidade médica em melhorar a vida dos pacientes e enfrentar o câncer com inovação e excelência. Com mais investimentos e avanços nessa área, podemos esperar que essa técnica continue a desempenhar um papel crucial na luta contra o câncer.

(*) Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Especialista em Cirurgia Robótica no Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/24. Opinião. p.21.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CIRURGIA PLÁSTICA — procedimentos mais naturais

Por Davi Pontes (*)

Com a crescente busca pela estética e o aumento da aceitação social das intervenções cirúrgicas, o mercado da cirurgia plástica no Brasil tem apresentado tendências e perspectivas interessantes em 2024. Observa-se uma demanda crescente por procedimentos menos invasivos e mais naturais. A busca por resultados sutis e menos perceptíveis têm levado os pacientes a optarem por técnicas como a lipoaspiração a laser, a rinoplastia não cirúrgica e os preenchimentos faciais com ácido hialurônico. A tendência é uma guinada na percepção da beleza, priorizando a harmonia e a individualidade.

A tecnologia, por sua vez, tem desempenhado um papel fundamental no avanço da cirurgia plástica. Equipamentos de última geração, como os simuladores de imagem em 3D e os robôs cirúrgicos, estão possibilitando uma precisão e uma personalização maior. As ferramentas permitem aos cirurgiões planejar procedimentos de forma mais detalhada e oferecer resultados mais satisfatórios aos pacientes.

Atualmente, na lista das cirurgias mais procuradas estão: lipo bodytite, rinoplastia, facetite, prótese glútea, mastopexia, com ou sem prótese, bem como procedimentos que envolvem face, glúteo, botox, enzimas, retirada de sinal e laser íntimo.

Outro aspecto é a preocupação crescente com a segurança e a ética na prática da cirurgia plástica. O aumento da fiscalização por parte dos órgãos reguladores e a maior conscientização dos pacientes sobre os riscos envolvidos nos procedimentos têm levado os profissionais a adotarem práticas mais transparentes e responsáveis. A busca por certificações e a atualização constante são cada vez mais valorizadas no mercado. O mercado da cirurgia plástica no Brasil segue em transformação, impulsionado por uma demanda crescente por procedimentos estéticos e pela evolução tecnológica.

No entanto, para se manterem competitivos e sustentáveis, os profissionais da área precisam estar atentos às tendências, investir em capacitação e ética profissional, e adaptar-se às mudanças do ambiente econômico e social.

(*) Médico cirurgião plástico.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/04/2024. Opinião. p.20.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO IJF

Por Daniel de Holanda Araújo (*)

Plantão de fim de semana no Instituto Dr. José Frota (IJF). Ambulâncias chegam aos montes e às pressas vindas de todo o Ceará - às vezes de outros estados - transportando vidas. Vidas que precisam ser salvas. Pessoas com histórias, famílias e planos a se realizarem. Muitas nem sabem que o IJF é um hospital da Prefeitura de Fortaleza. Tampouco os socorristas param e pensam sobre a origem do financiamento da saúde antes de embarcarem o paciente numa viatura rumo à capital. Nem deveriam. Não há tempo e essa é uma questão humanitária, de respeito ao direito básico à saúde. Direito à vida.

O IJF funciona 24 horas por dia com equipes multiprofissionais e estrutura para diagnóstico por imagem, laboratórios, centros cirúrgicos, enfermarias, consultórios e áreas de observação. São mais de vinte especialidades médicas ou odontológicas em atuação na unidade.

Para se ter uma ideia, a média de atendimento na emergência do IJF ultrapassa os 6.000 pacientes ao mês, o que corresponde a mais de 200 por dia, portanto. São vítimas de quedas, acidentes de trânsito, queimaduras e armas de fogo. Historicamente, os pacientes provenientes de fora de Fortaleza representam metade das internações. Nosso hospital é de referência. Recebemos todos, indistintamente. Somos servidores públicos e trabalhamos para salvar vidas. É essa a nossa missão.

E isso não é somente com pacientes de traumatologia. Somos referência também no tratamento de queimaduras e na assistência toxicológica, acolhendo e acompanhando. O IJF dispõe do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), que realiza mais de 200 atendimentos iniciais por mês, além do acompanhamento destes pacientes, atingindo mais de 800 atendimentos. O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) provê suporte aos pacientes com intoxicações por produtos químicos usuais, medicamentos, envenenamentos, além de picadas de animais e contato com plantas.

Diante da inestimável contribuição desse hospital em prol da nossa gente, registro toda gratidão aos meus colegas profissionais de saúde, de todas as categorias, do maqueiro ao médico, que se dedicam diuturnamente a salvar vidas e realizar um atendimento de excelência e humanizado.

(*) Médico. Superintendente do IJF.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/04/2023. Opinião. p. 17.

terça-feira, 30 de maio de 2023

NEUROCIRURGIA PARA PARKINSON

Por Rafael Maia (*)

Receber diagnóstico de doença de Parkinson pode ser muito impactante. Ainda não há cura, porém, felizmente, existem tratamentos eficientes, tanto farmacológicos como não-farmacológicos, que podem melhorar sobremaneira a qualidade de vida da pessoa com Parkinson. Dentre essas terapêuticas, está a neurocirurgia.

Existem dois tipos de cirurgia para tratar a doença de Parkinson: palidotomia e estimulação cerebral profunda (mais conhecida como DBS, do inglês Deep Brain Stimulation). A primeira técnica consiste em lesionar a estrutura neuroanatômica Globo Pálido: é um procedimento irreversível e com indicações que ficaram mais restritas após o advento da técnica do DBS - essa sim, a alternativa operatória para tratamento cirúrgico que deve ser vista como preferencial.

A técnica do DBS consiste em implantar eletrodos intracerebrais conectados a um gerador de pulsos elétricos, similar a um marcapasso cardíaco (motivo pelo qual pode ser popularmente chamado de "marcapasso cerebral"), que ficará na altura do peitoral debaixo da pele. A cirurgia deve ser executada por neurocirurgião com formação específica, e a pessoa com Parkinson deverá ser submetida, ambulatorialmente, a diversas sessões de programação do gerador, a fim de encontrar a combinação de parâmetros que poderá melhor lhe beneficiar. Essas sessões, que devem ser feitas por médico neurologista ou neurocirurgião, é que permitirão que a técnica alcance todo potencial.

É muito importante frisar que nem todos os parkinsonianos terão benefícios com a cirurgia. A boa indicação, a correta seleção do candidato, é parte inerente ao sucesso do tratamento. Também é imprescindível que o neurocirurgião esteja sempre disponível, não deixando nenhuma dúvida sobre o que será feito... por exemplo: quais os sintomas podem melhorar? Quais são os riscos envolvidos? Quanto tempo dura a cirurgia?

A correta informação é a melhor arma para pessoas com Parkinson e seus familiares. Conhecer suas alternativas, e ter plena confiança no que é proposto, é o melhor caminho para cuidar da saúde e buscar uma melhor qualidade de vida.

(*) Neurocirurgião.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/04/2023. Opinião. p. 18.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

TRANSPLANTE PENIANO

Um cara, 20 anos de casado, sofre um acidente de carro e seu pênis é dilacerado.

Seu médico assegura-lhe que a medicina moderna poderá trazer o seu pênis de volta, através de um transplante, mas o plano de saúde não cobrirá a cirurgia, pois é considerada estética.

O médico diz que os preços da cirurgia são os seguintes:

R$ 4.000,00 - tamanho pequeno;

R$ 9.000,00 - tamanho médio;

R$15.000,00 - tamanho grande.

O homem aceita o transplante, só ficando em dúvida quanto ao tamanho: P, M ou G. O médico o aconselha a conversar com a esposa antes de decidir e sai da sala para deixá-lo à vontade.

O homem telefona para a esposa e explica a situação.

Voltando à sala, o médico encontra o homem profundamente deprimido e pergunta:

- Então, o que você e a esposa resolveram?

O cara responde:

- Ela disse que prefere reformar a cozinha!!!

Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Sem autoria definida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O CIRURGIÃO CLANDESTINO

 

Hamilton Naki, um sul-africano negro de 78 anos, morreu no final de maio. A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20. “The Economist” contou-a em seu obituário desta semana.

Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky em dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida.

É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história. Mas não podia aparecer porque era negro no país do apartheid.

O cirurgião-chefe do grupo, o branco Christiaan Barnard, tornou-se uma celebridade instantânea. Mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipe.

Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia.

Tinha largado a escola aos 14 anos. Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso. Tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos.

Começou limpando os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo experiências com animais. Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que Barnard requisitou-o para sua equipe.

Era uma quebra das leis sul-africanas. Naki, negro, não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma exceção para ele.

Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia.

Hamilton Naki ensinou cirurgia durante 40 anos e aposentou-se com uma pensão de jardineiro, de 275 dólares por mês. Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honoris causa. Nunca reclamou das injustiças que sofreu a vida toda.

Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Sem autoria definida.


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Defesa de Memorial de Mauro Gifoni para Professor Titular de Cirurgia da UFC

Aconteceu na manhã desta quarta-feira (12/08/20), por meio de videoconferência, na Universidade Federal do Ceará, a Defesa de Memorial, seguida da avaliação de desempenho, para a promoção funcional da classe de professor associado 4 para Professor Titular do Departamento de Cirurgia, da Faculdade de Medicina da UFC, na área de Anestesiologia.

A Comissão Especial Julgadora, composta pelos Profs. Drs. José Huygenes Parente Garcia (presidente), Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Maria da Silva Pitombeira e Marta Maria das Chagas Medeiros, sob a presidência do primeiro, e secretariada pelo professor Gustavo Coelho, aprovou o Memorial apresentado pelo professor doutor JOSÉ MAURO MENDES GIFONI.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor do PPSAC-UECE

terça-feira, 4 de junho de 2019

AVANÇOS DA CIRURGIA GINECOLÓGICA


Por Leonardo Bezerra (*)
O ano de 2019 será, sem dúvidas, um marco na história médica do Ceará. As pesquisas na área de atenção à saúde da mulher estão avançando a passos largos, seja pelo uso da robótica na rotina de cirurgias, seja na utilização de materiais substitutos. Em relação ao segundo ponto, um sentimento que inevitavelmente me invade é a gratidão. Não só como idealizador do uso da pele de tilápia como primeira prótese biológica de origem de animais aquáticos em Ginecologia, mas, sobretudo, como ser humano. Saber que um produto genuinamente cearense está promovendo realizações de alto impacto na vida de tantas pacientes, faz tudo valer a pena.
Os procedimentos já têm demonstrado resultados satisfatórios, tanto no tratamento de queimados, como nos casos de agenesia vaginal congênita (Síndrome de Rokitansky) e pós radioterapia vaginal por câncer de vagina. Entretanto, esse material agora aplicado com a finalidade de reconstruir o canal vaginal de mulheres trans, após insucesso funcional da cirurgia de redesignação sexual, passa a outro patamar.
Descortinam-se grandes possibilidades para o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC (NPDM-UFC).
É de grande orgulho para o Ceará que uma técnica desenvolvida em universidade pública tenha um espaço de caráter tão valoral, ficando na história como o primeiro procedimento com pele de tilápia, pós redesignação sexual no mundo. Porém, o maior significado na vida de um médico é calculado pelo tamanho do benefício proposto ao seu paciente. E é nessa seara que nos encontramos (pesquisadores e instituições) nesse momento.
A cirurgia foi bem-sucedida. Acreditamos, com base nos casos das outras 10 pacientes que foram submetidas a cirurgias de reconstrução vaginal realizadas na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que dentro de 60 dias a paciente estará liberada para ter uma vida sexual satisfatória. Nossa ideia é fazer com que a pele da tilápia seja usada, em breve, nas cirurgias de redesignação sexual, evitando casos como o da paciente.
Mais que inovação e ineditismo, o maior impacto que prevejo nesse caso, que é o primeiro de muitos, é o seu poder de transformação e inclusão de gêneros.
 (*) Médico e professor de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/05/2019. Opinião. p.21.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

POR QUE COLONOSCOPIA?


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
O intestino grosso (cólons) divide-se em cólon ascendente (direito), donde pende a apêndice vermiforme, ou íleo-cecal; cólon transverso (entre o fígado (D) e o baço (E)), e cólon esquerdo, ou descendente (sigmoide) abocando o fim do tubo digestivo: reto e canal anal. Integra a colo-proctologia (incluindo-se o intestino delgado terminal), especialidade que adotamos há 50 anos, após treinamento em São Paulo (HCUSP), Londres (St. Mark's Hospital), e Alemanha (DKD) (Wiesbaden). Antes, por 4-5 anos, havíamos sido treinados em São Paulo e praticávamos cirurgia geral (estômago, vesícula, tireoide, hérnias etc.). Nessa área anatômica descrita surgem nos cólons os pólipos, os divertículos, e o câncer (mais à esquerda), preveníveis por dieta, ou operados, com resultados diversos. Até o fim dos anos 1960, os pólipos, pequenas lesões assintomáticas - e muita vez - pré-cancerosas, só eram ressecados mediante laparotomia (abertura do abdômen) e colostomia (abertura dos cólons). O exame data de 1971 (Wolff e Shinya). Permite o diagnóstico (através de biópsias), e tratamento (retirada de pólipos; seguimento nas reto-colites; coagulação a laser nas retites pós irradiação), leia nosso "Câncer nos cólons e no reto", UFC, 1984.
Revisões estatísticas maiores, como das 45.000 colonoscopias desses autores, em 1982 revelaram a assustadora incidência de 20% de cânceres e pólipos colo - retais em indivíduos com parentes já acometidos por idênticas moléstias (Bull Soc Int Chir 1971; 5:525-7 / N. Engl. J. med. 1973; 288:329). Tal ratifica o valor deste procedimento no diagnóstico precoce, oportuno, dessa malignidade. Dispensa anestesia, sendo realizado com sedação endovenosa. O realizamos, geralmente em 15 minutos, liberando o paciente meia hora depois. A colonoscopia, assim, tornou-se tão importante como o toque retal, máxime na detecção conveniente de afecções malignas desse setor anatômico. Lembremos que essas podem conferir 50-70%, de sobrevida pós-operatória, ou até mesmo 90%, quando surpreendidas no início, ver Julho Vermelho, O POVO, de 03/01/2018.
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 10/01/2019. Opinião, p.20.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A BOLSA DE BOLSONARO


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
O presidente eleito não será operado para retirada da bolsa de colostomia, e sim o fechamento desta. Senão vejamos.
A exteriorização no abdômen de uma alça intestinal aberta, quando perfurada acidentalmente, denomina-se colostomia (de "cólons" = intestino grosso e "estoma" = boca). Pratica-se em operações eletivas (não emergenciais), ou, nesse caso, para superficializar feridas traumáticas nos cólons. Aqui pela contraindicação de sua costura (sutura) imediata, estando o abdômen já infectado por vazamento fecal.
Terminando intervenções cirúrgicas programadas, a colostomia em alça diz-se derivativa, pois desvia o trânsito intestinal protegendo área recém-suturada. Em ambas circunstâncias quer-se passageira, temporária, a ser fechada (retirada) após tempo variável.
Para que os dejetos digestivos não jorrem sobre a pele, coletamo-los em uma bolsa apropriada, sendo tal retirada, isto é, trocada sempre que repleta.
A abertura no intestino, assim como sua passagem por onde emerge (sai), serão ocluídas quando necessário, mediante suturas antes de sua devolução à cavidade abdominal.
Para tanto servem e comportam-se assim as colostomias efêmeras, transitórias, como a do presidente escolhido, ungido pelo povo brasileiro.
Ocasiões existem quando nos obrigamos a fazer uma colostomia definitiva, permanente. Disto são exemplos alguns casos de câncer do reto, e os traumatismos perineais mutilantes, acidentais, com avulsão (arrancamento) de sua musculatura esfincteriana.
A colostomia definitiva, onde o ânus é implantado no abdômen - também descrito como artificial, "contra natura", preternatural - costuma acarretar transtornos, físicos, funcionais e emocionais. Para bem preservá-los (acompanhá-los) fundamos em Fortaleza, em setembro de 1975, o primeiro Clube de Ostomizados do Brasil.
Recomendamos a leitura de nossas monografias "Colostomias & Colostomizados" EUFC, 1981, e "Síndrome pós-colostomia", 1989.
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 13/12/2018. Opinião, p.20.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

ABRAM ALAS PARA AS AMBULÂNCIAS

Por Weiber Xavier (*)
Para que um sistema de emergência em saúde funcione adequadamente é de fundamental importância que seja de acesso rápido, eficaz e de custo adequado. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é uma das importantes conquistas no atendimento emergencial não apenas em nossa cidade, mas em todo o País. Tem um benefício enorme de melhorar o acesso da população à saúde e seu objetivo de chegar precocemente às vítimas em situação de urgência e emergência não pode ser comprometido.
Infelizmente o tempo de espera do atendimento em situações críticas é bastante prolongado e, em situações de risco de vida, tempo é ouro. Não bastassem os infames trotes (cerca de 30% das ligações, principalmente crianças), a falta de modernização e manutenção preventiva constata-se ainda a dificuldade com que as ambulâncias têm em chegar ao local de atendimento pelo trânsito caótico de Fortaleza. Só quem já esteve dentro de uma ambulância em movimento por nossas ruas irregulares e esburacadas sabe a dificuldade em se equilibrar, somadas ao estresse da situação e da ansiedade da família e equipe em chegar à emergência mais próxima, que muitas vezes já está sobrecarregada.
Protocolos internacionais recomendam 10 minutos como o tempo máximo de espera entre o momento da solicitação e a chegada da ambulância. Estamos longe disso. Após a estabilização inicial da vítima, a ambulância precisa seguir para o hospital com a maior brevidade possível e, nesse trajeto, vê-se que habitualmente não se dá espaço para a ambulância, muitas vezes por falta de sensibilidade e indiferença de muitos motoristas.
Nós brasileiros somos famosos por sermos um povo que gosta de celebrar e se divertir, muitas vezes em excesso e de forma rápida e espontânea em questões como futebol e Carnaval. Precisamos também de maior sensibilidade no trato de questões importantes como a saúde e cidadania. A população precisa se conscientizar não somente sobre o uso responsável do 192, mas também abrir alas para as ambulâncias, de forma rápida e espontânea como na marchinha de Carnaval.
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/4/2018. Opinião. p.24.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)

As populares hemorroidas afligem mais de 50% dos cinquentões. Não cabe maçar o leitor de jornal com sisudos e elaborados raciocínios científicos. No desenvolvimento dessas varizes, muito conta a constipação intestinal (prisão de ventre), e na gênese dos seus sinais sobressai a dieta como fator primordial. O retardo no trânsito intestinal determina constipação, com maior esforço às dejeções, e seu consequente crescimento, mais sintomas (sangramento e prolapso) de varizes retais antes silenciosas.

Tem-se hoje cientificamente comprovada a eficácia das fibras na prevenção não somente das varizes hemorroidárias, mas também da apendicite aguda, dos divertículos do grosso intestino, e das doenças coronarianas! As hemorroidas costumam acometer mais as mulheres (52%) do que os homens, como também ratificamos em 327 pacientes por nós operados na Faculdade de Medicina da UFC entre 1969 e 1971.

A rigor, as mulheres são mais constipadas, talvez até por fatores glandulares, e os homens não engravidam (até hoje, pelo menos!). Embora assaz comuns, as hemorroidas – como doença –poucas vezes estiveram “na moda”; raramente dão ibope. Entre seus portadores abundam os que se referem sem pejo – às vezes mesmo com júbilo – ao seu calista, ao seu psiquiatra, seu dentista, otorrino ou ao seu cardiologista; poucos, porém, mencionam abertamente seu proctologista, e geralmente, quando dele sentem o bisturi, lá dizem, com eufemismo, terem sido operados das “amídalas”!

A operação não é o único tratamento destas varizes, as quais – dependendo de seu estádio, ou grau – podem ser cuidadas por meio da eventual correção dos hábitos higieno-dietéticos, ou de injeções esclerosantes (1869), ligaduras elásticas (1963), crioterapia (congelamento) (1969), coagulação infravermelha (1977), cauterização pelos raios “laser” (1981), ou com o método mais recente, a desarterialização guiada por doppler.

O tratamento cirúrgico (hemorroidectomia), racionalizado e mundialmente adotado desde 1934 fica reservado para os casos mais acentuados, às hemorroidas antigas, dita do IV grau, complicadas com prolapsos, àquelas, enfim, que chamamos hemorroidas “de estimação”! Assim, acreditamos que a operação não está indicada em mais de 35% dos hemorroidários. Deve o leitor também saber que as afecções ano-retais possuem um vocabulário reduzido (sangramento, prurido, prisão de ventre, diarreia, dor, corrimento, puxo, prolapso), e suas poucas palavras (manifestações) tanto podem significar doença benigna como moléstia maligna!

Dados recentes do Instituto Nacional do Câncer, divulgados pela revista “Arq. Gastroenterol” v. 53, nº 2 – abr./jun. 2016, revelam que este tumor foi responsável por aproximadamente 32.000 casos em 2014. Foram 15.000 novos casos em homens, e 17.530 em mulheres. Portanto, olho vivo! Nem tudo o que sangra pelo reto significa hemorroidas. Pode ser câncer!

(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.

Fonte: O Povo, Opinião, de 24/8/2016. p.10.

terça-feira, 3 de maio de 2016

OPERAÇÕES MÁGICAS


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Os chineses afirmam ser o conhecimento das palavras o reconhecimento das cousas. Pudera! Assim, oferecemos aqui um pequeno glossário (conjunto de termos pouco conhecidos) cirúrgico: endoscopia = do grego “éndon”: dentro + “skop” = observar; “endoscópio” = tubo flexível para tal fim. Estes canos delgados com iluminação interna são introduzidos pela boca ou outro orifício natural (vagina, ânus). Teriam sido cerebrados (imaginados, concebidos) por Phillipe Bozzini, de Frankfurt (1806), usados inicialmente (1853) para examinar a uretra e a bexiga, mas difundidos apenas em 1965, por Harold Hopinks, da Universidade Reading, Inglaterra.
Atualmente viabilizam até a substituição da válvula aórtica, sem abertura do tórace, quando inseridos em vaso periférico. Laparotomia = do grego “laparon”: flanco, lombo. É a abertura do ventre; laparoscopia = observação da cavidade abdominal. Quando a inventariamos (descrevemos) com videocâmera, orientam-nos as imagens na televisão: videolaparoscopia. Esta fora originalmente empregada para diagnósticos “in anima vili” (em animais) por Kelling (1901), e em humanos (“in anima nobilis”) por Jacobeus (1910).
Desde 1918 (com Goetz) ficou facilitada pelo pneumoperitônio, ou insuflação do abdome com dióxido de carbono. Transluminal = por dentro de órgão, da sua luz (lúmen, lume). As operações videolaparoscópicas ensejaram as intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, pelos orifícios naturais, sem incisões (cortes) na parede abdominal. Tais procedimentos como as colecistectonuas (excisões, ressecções da vesícula biliar) surgiram em 1985 com Muhe, ou 1987 com Mouret. Até então vias de acesso inusitadas, hoje são adotadas em várias especialidades.
Sua aceitação beneficiou-se de certos progressos tecnológicos, como do laser (Einstein), em vez do bisturi ou do eletrocautério endoscópico. É a quirotecnia
(do grego “cheir” = mão), enriquecendo o arsenal moderno do cirurgião. Para gáudio (alegria) e orgulho nossos, na América Latina, a primeiríssima colectomia (retirada do intestino grosso) por esta técnica foi realizada por Sergio Regadas, em Fortaleza, outubro, 1991. (Ratificou o já tradicional pioneirismo do Ceará: Abolição da Escravatura: 03/1884. Academia Cearense de Letras, a pioneira do País: 08/1894; Clube dos Colostomizados do Brasil, 09/1975).
Apendicectomias endoscópicas transgástricas (por abertura no estômago) foram executadas em Hyderabad (Índia, 2005) por Rao e Reddy, e colecistectomia transvaginal no Brasil, a/c Zorrón, 2007. Esta última, esdrúxula (esquisita, excêntrica) ablação (retirada) chamou-se “operação de Anubis”, o deus egípcio que ressuscitou Osiris manejando instrumentos longos e dobradiços. São, pois, fantásticos estes atos, quase – mágicos, sabendo até a prestidigitação (epa! Aqui são os truques do operador).
Foram agrupados sob a sigla CETON (cirurgia endoscópica transluminal por orifícios naturais). Em inglês, invertendo a sequencia das letras teremos NOTES. Com serem métodos novíssimos, de percalços (vantagens e inconvenientes) pouco conhecidos, formou-se em Nova York (2005) grupo específico para deles cuidar: “Noscar” (nenhuma cicatriz). Mas isso é outra história.
 (*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 30/3/2016. p.8.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

CURSOS DE PRIMAVERA


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Na Academia Cearense de Medicina professava eu há pouco preferir o termo operação à palavra cirurgia, para designar genericamente procedimentos médicos realizados com as mãos, ou atos cirúrgicos (do grego “cheir”, mão, e “ergon”, trabalho). Assim, a redução manual de uma fratura, sua correção, é um exemplo de operação, embora incruenta (sem sangue), sem auxílio de instrumentos, mas integrando o conjunto de procedimentos da ciência denominada “cirurgia”. Igualmente, pegar uma veia, puncionando-a garantindo o acesso para administração de medicamentos líquidos, será, a rigor, melhor considerada uma operação, não uma cirurgia. Mas, não cuidemos aqui das minúcias da etimologia (estudo da origem das palavras), pois destas nos ocupamos neste jornal em 29/2/2012. Estas considerações vêm ao encontro de uma louvável preocupação já apoderada das sociedades médicas no ocidente: a segurança cirúrgica nas operações, visando à prevenção de seus contratempos.
Em julho de 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Universidade norte-americana de Harvard, desenvolveram um programa, de nome desnecessariamente comprido: “Safe Surgery Saves Lives” (Cirurgia Segura Salva Vidas), instalado em Washington, D.C., (EUA) com a divulgação de normas para aquele fim. Na América Latina, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), fundado há 86 anos (MCMXXIX), atualmente presidido pelo professor cearense Heládio Feitosa de Castro Filho, lançou há pouco o seu “Manual de Cirurgia Segura”. Tenho a honra de ser membro titular dessa colenda confraria e ter sido Mestre de seu capítulo cearense por dois anos (1986-1988).
Segundo a OMS, cerca de 254 milhões de operações são realizadas diariamente no mundo, uma média de uma intervenção cirúrgica para cada 25 pessoas. Estes números ensejam quase sete milhões de complicações pós-operatórias. Aludida estatística justifica à farta a publicação desse manual, e vem diminuindo em mais de 30% a ocorrência desses transtornos. Em Fortaleza, o médico clínico Eduilton Girão, titular da Academia Cearense de Medicina, e presidente da Associação Cearense de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar (Acecif) há muito esposava ideia semelhante. Apoiado por essas duas entidades, e pelo capítulo cearense do CBC (prof. Lusmar Veras, UFC) organizou um curso idêntico, viabilizado pela Secretaria Estadual de Saúde, esta também reconhecendo sua importância para médicos residentes em Cirurgia e Anestesia. O programa contou com a competente colaboração dos colegas João Martins, Iran Rabelo e Janedson Baima. As 20 horas/aula foram ministradas de 8 a 26 de setembro último, para 120 alunos, o que demonstrou a relevância desse seminário. Que tal chamá-los doravante “Cursos de Primavera”? Foi mais um tento logrado pela atenta diretoria (Dr. Vladimir Távora) da Academia Cearense de Medicina. Saravá!
(*) Médico. Professor Emérito da UFC. Ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 14/10/2015. p.7.
 

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