terça-feira, 4 de junho de 2019

AVANÇOS DA CIRURGIA GINECOLÓGICA


Por Leonardo Bezerra (*)
O ano de 2019 será, sem dúvidas, um marco na história médica do Ceará. As pesquisas na área de atenção à saúde da mulher estão avançando a passos largos, seja pelo uso da robótica na rotina de cirurgias, seja na utilização de materiais substitutos. Em relação ao segundo ponto, um sentimento que inevitavelmente me invade é a gratidão. Não só como idealizador do uso da pele de tilápia como primeira prótese biológica de origem de animais aquáticos em Ginecologia, mas, sobretudo, como ser humano. Saber que um produto genuinamente cearense está promovendo realizações de alto impacto na vida de tantas pacientes, faz tudo valer a pena.
Os procedimentos já têm demonstrado resultados satisfatórios, tanto no tratamento de queimados, como nos casos de agenesia vaginal congênita (Síndrome de Rokitansky) e pós radioterapia vaginal por câncer de vagina. Entretanto, esse material agora aplicado com a finalidade de reconstruir o canal vaginal de mulheres trans, após insucesso funcional da cirurgia de redesignação sexual, passa a outro patamar.
Descortinam-se grandes possibilidades para o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC (NPDM-UFC).
É de grande orgulho para o Ceará que uma técnica desenvolvida em universidade pública tenha um espaço de caráter tão valoral, ficando na história como o primeiro procedimento com pele de tilápia, pós redesignação sexual no mundo. Porém, o maior significado na vida de um médico é calculado pelo tamanho do benefício proposto ao seu paciente. E é nessa seara que nos encontramos (pesquisadores e instituições) nesse momento.
A cirurgia foi bem-sucedida. Acreditamos, com base nos casos das outras 10 pacientes que foram submetidas a cirurgias de reconstrução vaginal realizadas na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que dentro de 60 dias a paciente estará liberada para ter uma vida sexual satisfatória. Nossa ideia é fazer com que a pele da tilápia seja usada, em breve, nas cirurgias de redesignação sexual, evitando casos como o da paciente.
Mais que inovação e ineditismo, o maior impacto que prevejo nesse caso, que é o primeiro de muitos, é o seu poder de transformação e inclusão de gêneros.
 (*) Médico e professor de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/05/2019. Opinião. p.21.

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