Por Leonardo Bezerra (*)
O ano de
2019 será, sem dúvidas, um marco na história médica do Ceará. As pesquisas na
área de atenção à saúde da mulher estão avançando a passos largos, seja pelo
uso da robótica na rotina de cirurgias, seja na utilização de materiais
substitutos. Em relação ao segundo ponto, um sentimento que inevitavelmente me
invade é a gratidão. Não só como idealizador do uso da pele de tilápia como
primeira prótese biológica de origem de animais aquáticos em Ginecologia, mas,
sobretudo, como ser humano. Saber que um produto genuinamente cearense está
promovendo realizações de alto impacto na vida de tantas pacientes, faz tudo
valer a pena.
Os
procedimentos já têm demonstrado resultados satisfatórios, tanto no tratamento
de queimados, como nos casos de agenesia vaginal congênita (Síndrome de
Rokitansky) e pós radioterapia vaginal por câncer de vagina. Entretanto, esse material
agora aplicado com a finalidade de reconstruir o canal vaginal de mulheres
trans, após insucesso funcional da cirurgia de redesignação sexual, passa a
outro patamar.
Descortinam-se
grandes possibilidades para o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de
Medicamentos da UFC (NPDM-UFC).
É de
grande orgulho para o Ceará que uma técnica desenvolvida em universidade
pública tenha um espaço de caráter tão valoral, ficando na história como o
primeiro procedimento com pele de tilápia, pós redesignação sexual no mundo.
Porém, o maior significado na vida de um médico é calculado pelo tamanho do
benefício proposto ao seu paciente. E é nessa seara que nos encontramos
(pesquisadores e instituições) nesse momento.
A cirurgia
foi bem-sucedida. Acreditamos, com base nos casos das outras 10 pacientes que
foram submetidas a cirurgias de reconstrução vaginal realizadas na
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), vinculada à Empresa Brasileira
de Serviços Hospitalares (Ebserh), que dentro de 60 dias a paciente estará
liberada para ter uma vida sexual satisfatória. Nossa ideia é fazer com que a
pele da tilápia seja usada, em breve, nas cirurgias de redesignação sexual,
evitando casos como o da paciente.
Mais que
inovação e ineditismo, o maior impacto que prevejo nesse caso, que é o primeiro
de muitos, é o seu poder de transformação e inclusão de gêneros.
(*) Médico
e professor de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/05/2019. Opinião. p.21.
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