Por Saulo
Teixeira (*)
No imaginário coletivo, um tumor na cabeça
é um dos diagnósticos mais assustadores da medicina. Mesmo para nós,
neurocirurgiões, que lidamos com essa realidade talvez uma ou duas dezenas de
vezes por semana, cada exame que revela a presença de uma lesão tumoral vem
acompanhado de uma infinidade de sentimentos.
A comunicação desse diagnóstico aos
pacientes é uma das tarefas mais delicadas. Enfrentamos o medo de causar
sofrimento desnecessário e a dificuldade de equilibrar a transparência sobre
prognósticos sombrios com a necessidade de manter alguma esperança. Além disso,
temos a responsabilidade de explicar que a cirurgia, apesar de necessária e
segura, acarreta riscos significativos.
A habilidade manual, por si só, não basta.
A estratégia é fundamental para um bom resultado. Muitas vezes, o tumor se
encontra em áreas chamadas "eloquentes", regiões do cérebro
responsáveis por funções vitais como fala, compreensão, visão, movimento e
comportamento.
As relações pessoais no tratamento também
evoluíram. Na minha geração, o neurocirurgião assistente deixou de ser o
"tutor" absoluto do paciente. Hoje, as decisões são frequentemente
colegiadas, discutidas com médicos parceiros e até mesmo com familiares leigos.
Essa abordagem colaborativa frequentemente leva às melhores decisões.
Após a cirurgia, começa uma nova fase
repleta de medos e incertezas, onde a reabilitação é crucial. Muitas vezes, é
necessário um tratamento complementar, mas a esperança renasce. Nosso oponente,
o tumor, terá sido em grande parte removido ou, ao menos, compreendido.
Claro que há algumas perdas pelo caminho.
Há solidão, há infecção, há sangramento, há déficit neurológico, há abandono e
muito medo. Mas preciso contar uma coisa: essa saga, que começou com a
assustadora sentença do primeiro parágrafo, que já testemunhamos tantas vezes
em tão pouco tempo, tem muito, muito mais finais felizes do que você, leitor,
imagina.
Para mim, só existem duas certezas. A
primeira é que o paciente com um tumor cerebral atualmente pode viver mais e
melhor do que no passado. A segunda é que só enfrentamos esse desafio se
permanecermos juntos!
(*) Médico
neurocirurgião. Professor do IDOMED.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/12/2024. Opinião. p.16.
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