sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ESCRAVIDÃO DE BEBIDAS

Regina Stella Elias
Psicóloga e mestre em Saúde Pública pela Uece
Há uma ameaça grave entre nós. Setores que lucram com as bebidas alcoólicas estão querendo usar os portos e a localização estratégica do Ceará para fazer entrar no território brasileiro uísques e outras bebidas importadas a custo mínimo.
O Governo do Ceará sinaliza a intenção de facilitar essa invasão alcoólica com a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O projeto tramita na Assembleia Legislativa. A ilusão dos defensores dessa proposta é que a chegada de bebidas em grande volume traria um aumento da arrecadação do Estado.
Muita gente encara o consumo de bebidas alcoólicas com tanta naturalidade que nem se dá conta dos perigos e danos que ela acarreta. Só percebe o lado bom e lucrativo da questão.
Há mais de 100 anos, a escravidão dos negros também era encarada com naturalidade. Fazia parte da cultura e do cotidiano. Pessoas tidas como inteligentes lucravam com a servidão, sem se preocupar com o sofrimento decorrente.
Partiu do Ceará a histórica iniciativa de romper com o pacto da escravidão. Um corajoso cearense, “Chico da Matilde”, líder dos jangadeiros na época, decidiu que, pelos portos cearenses, não mais seriam transportados escravos, por mais dinheiro que isso representasse. Pelo seu ato de bravura ficou conhecido como “Dragão do Mar” e o Ceará, um dos primeiros Estados a abolir a escravidão, passou a ser considerado “Terra da Luz”.
O desafio de hoje é muito parecido. Querem usar nossos portos para fazer adentrar, em imenso volume, bebidas que escravizam muita gente; trazem doenças, violência, sofrimento e morte. Embora o álcool gere lucro para alguns, nada justifica que nossos governantes se omitam diante das desgraças que seu abuso acarreta.
Pedimos ao nosso governador e aos nossos deputados que se inspirem na coragem de Dragão do Mar para romper com esta outra forma de escravidão que tenta também fazer uso de nossos portos. Cancelem, revoguem, repudiem a indecente proposta de reduzir os impostos das bebidas alcoólicas quentes importadas. Optem pela saúde , pela Vida, pela Luz.
* Publicado no caderno Opinião, do Jornal O Povo, dia 25/11/2010.

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