Por João Soares Neto
No próximo dia 10 deste fevereiro, a Academia
Cearense de Letras, a mais antiga das academias brasileiras, realizará sessão
eleitoral para preencher a vaga aberta com a perda do grande poeta, ensaísta,
professor e cidadão Artur Eduardo Benevides. São quatro os candidatos.
Esta introdução serve apenas para analisar artigo de
Mário Sérgio Conti, jornalista e escritor, sob o título “Conformismo e
coonestação”, publicado em 28 de novembro de 2014, em que critica a Academia
Brasileira de Letras, a maior e a mais bem aquinhoada em nomes e prendas.
Ele começa dizendo: “A desimportância da Academia
Brasileira de Letras emudeceria até Lobão (refere-se ao cantor, grifo meu).
Ninguém liga para ela, exceto os 40 autoproclamados imortais. Que eles
desfrutem em sossego do privilégio de se fantasiarem de fardão pela eternidade
afora”.
Uma primeira observação: por que Mário Sergio Conti
não emudeceu. Se ninguém liga para ela, qual o sentido e a razão de seu artigo
tão candente?
Ele argui, em seguida: “A Academia é um clube cujos
sócios, em graus variados de senectude, se reúnem para tomar chá e trocar dois
dedos de prosa acerca de seus sublimes antecessores”. Não precisa ter lido
Freud, Jung ou Melanie Klein, para ver réstias de ressentimento explícito em
cada frase do articulista.
Ele continua: “É perda de tempo criticar a
Academia. Não importa que ela sobreviva à sombra do Estado. Que jamais tenha
emitido um sussurro contra a censura e os outros paus-de-arara na vida
cultural”. E aduz: Que cultive a mediocridade literária (Nélida Pinõn, Murilo
Melo Filho etc.) e a bajulação de poderosos (Fernando Henrique Cardoso, Marco
Maciel etc.). Ninguém liga”.
Claro que alguém liga. Ele próprio, Conti, está
ligando e dando cavaco. Qual a razão desse seu artigo grave?
Mais lá na frente, passo para evitar detalhes
menores, ele se contradiz, ao afirmar: “A Academia só deixa de ser inócua
quando nela entra um poeta de verdade. Isso é chato porque as más companhias
têm influência e a instituição os diminui individualmente: todos os ratos são
pardos no Petit Trianon” (nome da sede da ABL).
Ele está falando do poeta Ferreira Gullar e
acrescenta texto do próprio vate maranhense: “A Academia já fez tudo para eu
entrar lá, e eu digo: não. Jamais entrarei para a Academia... Como eu não tenho
cabeça acadêmica, como não é a minha, não vou entrar lá”.
Parêntesis meu: Ferreira Gullar entrou na ABL em
dezembro do ano passado.
Sem esquecer que havia elogiado Gullar (poeta de
verdade, ele disse), mais a frente, muda de ideia e o ataca: “Nem sempre
conseguiu o que buscava. Seus poemas são às vezes discursivos ou demagógicos; o
credo stalinista o fez tropeçar; seus versos perderam voltagem com a passagem
do tempo”. Em seguida, elogia: “O resultado final, porém, é largamente
positivo. Pelo que sua poesia tem de inventividade formal e insubmissão”.
Como se vê, há um “morde e assopra” no escrito de
Mário Sérgio Conti sobre a entrada na ABL de Ferreira Gullar, o autor, entre
outros, do “Poema Sujo”.
Como afirmou Tchekhov, escritor russo: “De inveja
fica-se estrábico”. Por outro lado, está claro que as academias brasileiras,
sejam de letras, ciências e artes, precisam repensar seus desígnios. Mudar e
evoluir, ter a coragem de ajustar-se ao tempo em que vivem, às mudanças
definitivas dos processos anacrônicos de escolhas de novos candidatos (por que
não um debate entre os candidatos? por que não uma prova de conteúdo?), dos
seus modelos de gestão em que só o presidente faz tudo. Isto não é desrespeitar
a tradição, mas ter coerência com o tempo em que se vive.
Sem menosprezar a tradição e os costumes,
incorporar o que há de saudável e lógico nestes tempos em que antigo passa a
ser tudo aquilo substituído pela voragem da inovação. A senectude, a que se
refere Conti, não é a idade dos componentes, mas a permanência de métodos e
ações que já não mais fazem sentido e pouco produzem resultados efetivos.
João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Sexta-feira, 06 de fevereiro de 2015
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