Em 30 de junho de 1829 nascia no Rio de Janeiro – pelas
mãos do doutor Joaquim Cândido Soares de Medeiros – a primeira sociedade de
médicos no Brasil, depois Academia Imperial e logo Academia Nacional de
Medicina. Esta sempre foi mais carioca, paulista, gaúcha e mineira do que dos
outros brasileiros, especialmente destas bandas setentrionais do
Norte/Nordeste. Apenas três cearenses são ali membros titulares, os doutores
Ernane Aboim, Mário Correia Lima, e Manassés Claudino. Como sócio honorário foi
recentemente aceito nosso conterrâneo Djacir Figueiredo.
No Ceará, 149 anos após, surgiu a Academia Cearense de
Medicina, patronada por Antônio Justa, em 12 de maio de 1978, à qual tenho a
honra de pertencer desde janeiro de 2001. Esta teria sido concebida como outro
palco para a pioneira Faculdade de Medicina do Ceará, criada ao lado do Theatro
José de Alencar, em 12 de maio de 1948. Realizava-se assim o sonho do doutor
Jurandir Picanço, acolitado por José Carlos Ribeiro, Newton Gonçalves, Waldemar
Alcântara e Walter Cantídio, seus fundadores, historicamente reunidos em
conhecida fotografia. A Comissão Organizadora da novel instituição ostentava
Haroldo Juaçaba, um dos ícones da cirurgia no Ceará. (In Newton Gonçalves
“Prosa Dispersa”. Editora da Universidade Federal do Ceará, 1995, e “Medicina
na Terra da Luz – AMC 100 anos”, de Garcia, A.K., Neves, F.C., e Sales T. C.
Fortaleza, 2014).
As academias datam da Idade Média, como grêmios de
indivíduos instruídos, zelosos do progresso nas artes, na literatura, ciência,
música e/ou outras atividades intelectuais. Uma das mais antigas é a de
Florença (Itália, 1442) e famosíssima ficou a Academia dela Crusca, ali, em
1582. “Crusca” significa “farelo”, ou aquele joio, daninho que contamina o
trigo. A missão desse colegiado era purificar o toscano, a língua literária da
Renascença. Tais congregações literárias têm como meta precípua (principal)
cultivar sua respectiva linguagem, e divulgar a escritura dos seus membros,
assim tornando-a imortal, posto serem terrenos próprios, transitórios.
Por original índole primam sobremaneira na preservação da
sua memória, mercê de um compromisso de solidariedade com seus mortos.
Exercendo tão louvável, cristã deferência, o atual presidente da Academia
Cearense de Medicina – doutor Vladimir Távora Fontoura Cruz – costuma abrir
suas reuniões lendo atas de sessões de décadas passadas, em reverência a atores
já ausentes daquele palco. Comporta-se atanasicamente, i.e., do grego “a” =
sem, e “tanatos” = morte. Por inspiração sua prestou-lhes enaltecedora
homenagem em dezembro último, em solenidade denominada “1ª Sessão Remêmora”,
recordando seis colegas desaparecidos esse ano ou então centenários.
Foram estes os doutores “encantados”, como chamou o
também médico Guimarães Rosa, e os seguintes aqueles que lhes fizeram o
merecido panegírico (elogio público): João Barbosa Pires de Paula Pessoa (dr.
Sérgio Pessoa), Artur Enéas V. Filho (dr. Flávio Leitão), Edilson Gurgel Santos
(dr. Evangelista B. Filho), Alber F. Vasconcelos (dr. Vladimir Távora), Aluysio
Soriano Aderaldo (dr. George Magalhães), e F. Aluísio Pinheiro (dr. Ronaldo
Mont’Alverne). Na plateia, como diria o/a romancista inglês/a George Eliot (+
1880), ouvia-se ao longe o coro invisível daqueles imortais que viviam de novo.
(*) Médico,
ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 27/1/2015. p.8.
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