quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

DE CORRUPÇÃO, PROMESSAS E VASSALAGEM

Por Ricardo Alcântara (*)

O problema mais objetivo de um esquema de poder sustentado em um concerto político justificado apenas pelas vantagens da corrupção é este: uma vez aceita a ilicitude como base de sua permanência, o poder, que se nutre de sua capacidade de regular continuamente os limites de sua potência em cada circunstância, já não pode estabelecer limites a nenhum outro agente do processo de decisão pública.
A certa altura, já não dá mais para dizer: ‘aqui sim’, ‘isso não’. Fica, de fato, refém aquele que, obrigado a zelar pela norma, aceitou rompê-la. Resta somente o direito de ficar calado ao poder que já não pode nada porque, para que muito pudesse, pagou com a moeda podre da corrupção, julgando comprar potência quando, na verdade, pagava por sua própria servidão. Eis aí o Lulismo em um breve 3x4.

A Petrobras é só a fratura exposta de um corpo em coma. No último trimestre, o faturamento caiu 38% em relação ao período anterior. Em três dias, o valor de suas ações caiu 20%. Apresentou um balanço tenebroso e já anuncia cortes na produção. Contudo, continua (assim quer a presidente) sob a direção de quem já não recebe retorno de suas ligações de mais ninguém. Enfim, zumbis gerindo escombros.
Dilma não demite a ‘melhor amiga’ Graça Foster porque traria o líquido viscoso do escândalo para a rampa de seu palácio. O que falta para incriminar a presidente? Uma prova. Nada que um calhamaço de indícios não possa substituir, se a medicação amarga do ajuste fiscal tardio provocar na sociedade as náuseas que os apertos de cinto costumam causar. No Alvorada, foram-se as boas noites de sono.
O anúncio de cancelamento da instalação de uma refinaria, solenemente prometida nos palanques eleitorais para um estado que deu à presidente 80% de votos, é apenas mais um ato vil neste circo de horrores. É a segunda notícia que a presidente dá ao Ceará. A primeira foi a nomeação do ex-governador Cid Gomes para a pasta da Educação, de onde ainda não pronunciou uma única palavra sobre o assunto.
De onde se conclui: o estado vai mal, mas seus caciques passam bem, obrigado. O prefeito de Sobral, Clodoveu Arruda, sugeriu, durante reunião recente de prefeitos, a assinatura de uma ‘moção de protesto’ contra o cancelamento da refinaria. Há certo tipo de protesto, como o sugerido pelo alcaide, que, de tão ornamentais, mais reforçam do que enfraquecem as decisões que simulam a pretensão de anular.
É grande, o aperreio dos petistas cearenses: sua presidente nos prometeu a refinaria e nosso povo garantiu sua reeleição. Como irão agora justificar a vassalagem que com toda certeza continuarão prestando a Brasília? Cancelada a refinaria, vai começar o jogo do faz de conta. Seremos, uma vez mais, ludibriados: agora, com os artifícios cênicos de uma indignação tão genuína quanto uma nota de dois reais.
Aprendamos, pois: não apenas somos pobres, como seremos tratados como tal enquanto permitirmos que, por nossa pobreza, sejamos reféns das gorjetas assistencialistas de governos que atendem ao comando dos agentes econômicos mais poderosos. Se assim for, assim será: o estado estará mal, mas seus caciques estarão bem, obrigado.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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