sábado, 14 de fevereiro de 2015

O PREJUÍZO QUE A POSTERGAÇÃO TRAZ AO ESTADO

Por jornalista Érico Firmino
O padre Gotardo Lemos, que morreu na semana passada, era um dos professores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) que venceram ação contra o Estado desde 1996, mas ainda não receberam. A pendenga atravessou oito mandatos de cinco governadores. Mais de mil professores seriam beneficiados, mas 241 morreram a espera de que se concretize o direito que foi reconhecido até no Supremo Tribunal Federal (STF).
Professores das universidades estaduais reivindicam pagamento de piso estabelecido pelo decreto 18.292, de 1986, do então governador Gonzaga Mota. Ao assumir o Executivo, em 1987, Tasso Jereissati cancelou o decreto. Os docentes foram à Justiça do Trabalho e venceram. A questão transitou em julgado em 1996.
Então, o governo foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionar a competência da Justiça do Trabalho para decidir a questão. Nova derrota, confirmada em 2007, quando o governador era o hoje ministro da Educação, Cid Gomes. Desde então, sucedem-se as iniciativas da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para postergar o pagamento.
A demora provocou situações constrangedoras, no mínimo, para o Estado. Foram aplicadas multas por litigância de má-fé e recursos das universidades chegaram a ficar bloqueados. Foi pedida, pela Justiça, instauração de inquérito criminal pela Polícia Federal contra o procurador-geral, o secretário do Planejamento e os três reitores, pela demora em cumprir a decisão.
A juíza do Trabalho Christianne Fernandes Diógenes escreveu que o governo “abusa do seu direito de defesa ao querer postergar para o dia que nunca há de vir o cumprimento da obrigação de fazer”. A também juíza do Trabalho Karla Yacy da Silva disse que “só resta à Justiça, para que a mesma não fique desmoralizada, requisitar intervenção federal no ente estadual, por reiteradas desobediências às ordens judiciais”, embora admita que a medida seria extremamente controversa, por não ser tema pacífico no STF.
A essa altura, nem importa discutir se o piso de 1986 era correto ou não. A Justiça deu sua palavra final. Há o aspecto humano, de professores que tiveram direito reconhecido, mas não conseguem receber. Há o Judiciário, que se desmoraliza pela decisão que não é cumprida. Mas há ainda o problema criado para o próprio Estado.
O impacto da aplicação do teto é calculado pelos professores em algo como R$ 4,65 milhões ao mês. Com o acumulado, já seria um custo próximo de R$ 400 milhões. E que seguirá crescendo enquanto não for pago. Há divergências sobre esse valor, mas já passa – há muitos anos – da hora de se chegar a entendimento sobre o montante e começar a pagar ao menos daqui para frente, para essa bola de neve não seguir crescendo. E que se negocie os atrasados. A se continuar empurrando com a barriga, só crescerá uma bola de neve que cairá na cabeça de algum governador.
Fonte: O Povo, Coluna Política, de 13/02/2015. p.18.

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