Certas atitudes devem ser
tomadas, mesmo quando é sabido seu efeito modesto. Do episódio recente –
cancelamento da instalação de uma refinaria no Ceará – nada mais eloquente do
que o silencio de alguns personagens. Ciro Gomes é um deles.
Ciro é, dos políticos cearenses,
o de maior projeção. Lidera o grupo político de maior expressão no Ceará de
hoje. Fizeram eleitos por ele e seus aliados o governador do estado e o
prefeito da capital. No Ceará de hoje, se elege para o que bem quiser.
Sua força não decorre apenas do
que mantém preso a seus cordões, mas também da boa expectativa que a população
tem sobre ele. Uma liderança que resulta mais de seu esforço individual e de um
senso de oportunidade que desconhece limites.
Poder. Ele é bom nisso. No Ceará,
sua família entrou para o clube em meados da década de 70 e nunca mais se
afastou: são 40 anos à sombra frondosa. No plano nacional, correu riscos
calculados e deles sempre resultou acumulação de força.
Ciro sempre esteve comprometido
com a causa da refinaria que, em plena atividade de sua cadeia produtiva, faria
crescer em mais de 30% o PIB cearense. Cancelada a obra, cala-se a liderança
estadual de maior peso e popularidade. Por que?
É sabido: um dos gargalos de
produtividade da Petrobras está no número insuficiente de refinarias. E, ainda:
a descentralização das unidades de refino ampliaria em muito a contribuição da
empresa, estatal, ao desenvolvimento equilibrado do país.
Pois Ciro, que nunca economizou
gramática para defender o que lhe convém, não fez, até este momento, nenhuma
menção ao episódio. Se concorda, ou pelo menos compreende, as razões do governo
federal, tenha a coragem de nos pedir paciência.
Mas não. Age como se a coisa não
fosse com ele. Mas é: foi para eleger os seus (e os dela) que a presidente
Dilma assegurou a obra em palanque, reiterando Lula. E os investimentos feitos
pelo estado antes e durante o governo de seu irmão? Nada.
Que se dê, de barato, a omissão
de seu irmão: Cid Gomes é ministro da Educação. Suas responsabilidades
institucionais tornariam onerosa a confissão de seu desagrado. Discordo, por
desproporção, do argumento, mas é real sua dificuldade.
Mas, e o Ciro? Seus desafetos
aproveitam a injustificável omissão para acusá-lo de pagar com silêncio pelos
proventos polpudos de seu novo emprego na CSN. Teriam colocado em sua boca
(dizem) as coisas que tornam dóceis os críticos mais ferozes.
O fato é que desde 1982, quando
pela primeira vez elegemos um governador pelo voto direto, nunca houvera
tamanha demonstração de subalternidade das forças políticas estaduais às
imposições discriminatórias dos que operam em Brasília.
Conclusão: se o Ceará não tem
prestígio, seus caciques passam bem, obrigado!
(*) Jornalista e escritor. Publicado In:
Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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