domingo, 26 de junho de 2016

Constrangimento de uma nota


Por Tânia Alves – Ombudsman de O Povo.
Uma nota publicada na coluna Lúcio Brasileiro, edição da quinta-feira passada (23/6), causou incômodo em leitor que se manifestou. No conteúdo, o colunista, em tom jocoso, se apresentava para receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Como catedrático de Bom Tom via Jangadeiro presumo que já posso pretender doutor honoris causa da UFC” (ver fac-símile).
O usuário classificou de inadequado o comportamento do colunista. “Ele utiliza o precioso espaço do jornal para pedir medalhas e condecorações. Ele usa o espaço em benefício próprio. É uso inapropriado do (espaço) jornal”. Ressaltou ainda que não foi a primeira vez que o jornalista cobra homenagens. Lembrou que, na época em que Lúcio Alcântara era governador (2003/2007), o colunista “fez campanha” para receber a Medalha da Abolição. O assunto, destacou, chegou a ser tema de coluna externa do então ombudsman Plínio Bortolotti, hoje diretor institucional do O POVO.
A indignação do leitor faz sentido. Há 13 anos, O POVO publicava a terceira edição do “Guia de Redação e Estilo”, em que estabelece normas a serem seguidas pelos jornalistas da casa. No capítulo VI – “Normas jornalísticas do O POVO”, item “Colunas”, entre outras coisas está escrito: “O colunista não pode utilizar o espaço das colunas para promoção de interesses particulares. Também deve ficar atento à utilização excessiva de alguns personagens. Nas duas situações, cabe à direção de Redação alertar o colunista e adotar as medidas cabíveis para casos reincidentes”. Portanto, não tem razão para um colunismo social do O POVO fazer esta abordagem. Mesmo que em tom espirituoso, a nota, com forte interesse particular, funciona como coerção para a UFC, e como um vexame para o jornal.
O leitor também está correto quando destaca que problema não é de agora. Ele lembrou, corretamente, que Plínio Bortolotti escreveu parte de uma coluna externa criticando nota em que o colunista cobrava do governador a indicação para a Medalha da Abolição. Foi em novembro de 2006. Escreveu Plínio, para finalizar a escrita: “O colunista não tem o direito de constranger o governador do Ceará, de forma extremamente deselegante e desrespeitosa, na tentativa de arrancar-lhe benesses. Coluna não é feudo pessoal, da qual cada colunista pode dispor como quiser. O POVO tem de zelar pela sua credibilidade, portanto, a obrigação de conter tais investidas”. O colunista recebeu a medalha em 2012 por indicação do governador Cid Gomes.
Enviei email para o editor do Núcleo de Conteúdo Social e Relacionamento, Clóvis Holanda, responsável pelas colunas, com pedido para destacar as providências a serem tomadas no caso. Não recebi resposta.
Confesso que, quando li a nota da coluna, após ser advertida pelo leitor, de tão inacreditável, pensei que poderia se tratar de uma brincadeira. Mas como ser brincadeira se O POVO é uma empresa que trabalha com notícia? E notícia pressupõe verdade. Citar-se como merecedor de comenda não é papel para colunista. Uma nota com aquele teor jamais poderia passar pelo crivo de qualidade do jornal, pois é apenas um constrangedor momento de um jornalista movido por vaidade, que um dia tende a se extinguir. Aliás, o esnobismo não deveria ter prioridade sobre as muitas histórias de interesse público que o colunista, por sua longa caminhada no jornalismo, adquiriu e pode contar naquele espaço.
Fonte: O POVO, de 26/06/2016. Coluna do Ombudsman. p.11

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