terça-feira, 7 de junho de 2016

MATA MOSQUITO (Recordação da infância)


Idealizada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872- 1917), a Brigada Mata–Mosquitos, era formada por grupos de funcionários do Serviço Sanitário que visitavam as moradias e exigiam das pessoas a eliminação das poças d’água e dos recipientes que acumulavam a água da chuva, objetivando dessa forma acabar com os focos de reprodução dos mosquitos transmissores da febre amarela. Em 1963, o Exército Brasileiro concedeu a denominação de “Batalhão Oswaldo Cruz” ao 1º Batalhão de Saúde, unidade expedicionária. Em 1969, com a extinção do 1º BS, a 1ª Companhia de Saúde herdou a denominação. Conferir:  
Mata Mosquito não é tampouco nome de nenhum repelente ou campanha contra o mosquito Ædes egygty que está, infelizmente, na moda e na mídia. 
Quando assisto o pânico midiático que está ocorrendo me recordo desses servidores que, como muita coisa boa no Brasil, desapareceram ou encantaram-se. É importante que as gerações atuais saibam do motivo que me levou a escrever esta crônica. Em especial, no momento atual, quando a mídia alardeia epidemias de dengue, chicungunha (que o povo apelidou de Chico-Cunha) e outras assemelhadas, além do nascimento de bebes portadores de microcefalia, que muitos pensam ser coisa nova. 
Fico pensando na minha rua, nos meus tempos de criança. Das casas de porta e janela, dos lampiões de gás, dos vizinhos, das conversas nas cadeiras nas calçadas e das visitas domiciliares dos guardas da higiene ou mata-mosquito. Bem como das casas que eram marcadas pelas bandeiras amarelas penduradas nos postigos quando da visita do “homem da higiene”.
A bandeirinha amarela tremulando impávida, soprada pela brisa morna da Rua da Alegria no Bairro da Boa Vista do/no meu Recife.
Lembro-me bem do gancho de arame envergado que prendia a bandeirinha, noticiando a presença do homem da higiene naquela casa, para segurança dos moradores.
Mamãe dizia que eles eram educados. Batiam nas portas e gritavam:
- Ô de casa. Ô de casa: — Higiene.
Envergavam túnica caqui-Floriano e calçavam botas de cano longo, naquele tempo denominada de perneiras ou pederneiras. Lanterna na mão e, pendurado nas costas, um cilindro meio misterioso cheio de inseticida.  Antes de entrar nas casas, limpavam o solado do calçado quase militar, esfregando a sola da bota na soleira da porta de entrada. Visita: semanal, quinzenal ou mensal. Variava. De acordo com a época do ano.
Ao entrar na casa iam direto ver o banheiro e, com sua lanterna de bolso, (como se chamava antigamente) alumiava a latrina, a pia, a descarga, a caixas d’água e frestas. Qualquer lugar onde podia existir qualquer poça d’água. Água parada merecia as devidas atenções, dando-se borrifadas do liquido misteriosamente embutido naquele estranho cilindro que portavam às costas. Além disso, suspeitavam de bacias, panelas ou depósitos de água. Seja da chuva ou de água guardada.
Ao sair, escreviam a data da visita sanitária num papel colado na parte de dentro da porta do banheiro. O mata-mosquito era respeitado por todos os moradores, pois ostentava as armas da república.
Sem saudosismos piegas ainda escuto a voz da professora louvando os feitos do doutor Oswaldo Cruz. Nome da escola em que eu estudava. 
Hoje com uma profusão de mídia, pesquisas, campanhas contra o mosquito transmissor do dengue e da zica, ‘epidemia’ de microcefalia e o pânico da população fico perguntando onde foram parar os guardas da higiene.  Desapareceram? Caíram de moda?
Fui ao Google procurar o que havia sobre Mata-Mosquito, Homem da Higiene e encontrei cerca 645.000 referências. Poucos mencionavam o Mata-mosquito. A maioria faz propaganda de marcas de repelentes, sprays e até sofisticados apetrechos eletrônicos úteis (segundo a propaganda) para o combate aos mosquitos. Depois de muito procurar, encontro um site que falava do assunto por mim buscado.
Convido-o a visitarem-no. Principalmente para vocês que são membros das gerações da internet. Certeza tenho de que vão encontrar muito mais resultados do que... eu. Não necessita procurar nos livros. É apenas uma sugestão. Basta dar um “cliquezinho”.
OK. Depois nós conversamos. Se assim o desejarem. Fica o convite.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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