domingo, 6 de novembro de 2016

CAPELO, O MÃO-ABERTA


Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Instada a falar sobre o marido, Glória Wanderley, viúva de Capelo, relatou o seguinte:
“Os causos são muitos, mas me lembro bem que, quando os meninos eram pequenos, com crises de amigdalite recorrentes, eles tomavam ilosone, e logo no início do tratamento, o remédio, com muita freqüência, sumia; depois de muito procurar, o Capelo dizia que tinha dado para o filho de um funcionário da Fisiologia, que também estava doente, e o pai não tinha como comprar. Assim acontecia com os "Kichutes", que os meninos usavam para ir à escola, ele, "escondido" da família, também levava os pares que estavam às suas vistas, para os filhos do funcionário, que não devia ter como comprar “calçados”, tal qual o uniforme exigia”.
No dia do pagamento da universidade, segundo a sua viúva, ele fazia questão de ir ao banco com todos os funcionários do Departamento; a fila que se formava ao redor dele, tinha um aglomerado de “amigos” que tinham, com certeza, uma "pontinha" dada por ele, subtraída dos seus parcos vencimentos de docente.
Esse Capelo, que era Recamonde e que também era Luiz, lembra um outro, o Fernão Capelo Gaivota, autor da sentença que se tornou célebre: “Longe é um lugar que não existe”. É isso mesmo: o Capelo da gente, continua no meio da gente, protagonizando “causos”, como este contado, “gloriosamente”, por sua parceira de profissão e de vida.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. Capelo, o mão-aberta. In: SOBRAMES – CEARÁ. Semeando cultura. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2016. 320p. p.234.
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.75-80.

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