quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ANSIEDADE NACIONAL


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Há perigo de volta do fascismo?
Permita-me passar a palavra ao Umberto Eco1 (1932-2016). “O fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis” …
Se a reconciliação significa compaixão e respeito por todos aqueles que lutaram sua guerra de boa-fé, perdoar não significa esquecer. Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram. Em nosso futuro desenha-se um populismo qualitativo da TV ou internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a “voz do povo”.
Creio que estamos atravessando no Brasil um período de incertezas, insegurança, revolta, de desagregação do meio político em geral, de uma mídia escandalosa que pode levar a algum salvador da pátria.
... Devemos recordar que o mais belo exemplar atual de fascista é um pretenso antifascista que se devota a tratar defascistas os que não o são.
Triste do povo que necessita de um salvador, condutor, ungido para dirigi-lo. Esses tipos não possuem nenhuma filosofia, apenas retórica. Retórica entendida aqui como eloquência afetada, repleta de presunção, um debate desnecessário e o emprego de mecanismos contundentes e ostentosos para ludibriar ou vangloriar-se.
Não tenho dúvida da revolta e estupefação do povo diante de tamanha corrupção e desmando que estamos testemunhando. Ouvíamos dizer essas coisas, do país dos 10%: do ‘sabe com quem está falando’; ‘quem pode, pode, e quem não pode, se sacode’, etc., mas diante da grandeza da corrupção e extensão dos malefícios sobretudo o desemprego e a paralisação do país, ficamos abismados, chocados, desesperados e pior — assombrados e desesperançosos.
E o desespero do povo leva ao aparecimento de um salvador da pátria, o que leva inevitavelmente ao fascismo.
Devemos recordar que o mais belo exemplar atual de fascista é um pretenso antifascista que se devota a tratar de fascistas os que não o são.
Insisto em acautelar a todos:
O fascismo não é vencido somente nos campos de batalha, deve ser combatido nos nossos cérebros, nos nossos corações, na nossa alma. Não passa de uma palavra nova para um estado de espírito velho. O fascismo é um gigante de papel que com um sopro voa para longe. Basta enfrentá-lo. Por isso, tenham cautela no processo eleitoral deste 2018.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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