Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Há perigo de volta do fascismo?
Permita-me passar a palavra ao Umberto Eco1 (1932-2016).
“O fascismo eterno ainda está ao
nosso redor, às vezes em trajes civis” …
Se a reconciliação significa compaixão e
respeito por todos aqueles que lutaram sua guerra de boa-fé, perdoar não
significa esquecer. Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em
sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu
e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram. Em
nosso futuro desenha-se um populismo qualitativo da TV ou internet, no qual a
resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e
aceita como a “voz do povo”.
Creio que estamos atravessando no Brasil um
período de incertezas, insegurança, revolta, de desagregação do meio político
em geral, de uma mídia escandalosa que pode levar a algum salvador da pátria.
... Devemos recordar que o mais
belo exemplar atual de fascista é um pretenso antifascista que se devota a
tratar defascistas os que não o são.
Triste do povo que necessita de um salvador,
condutor, ungido para dirigi-lo. Esses tipos não possuem nenhuma filosofia,
apenas retórica. Retórica entendida aqui como eloquência afetada, repleta de
presunção, um debate desnecessário e o emprego de mecanismos contundentes e
ostentosos para ludibriar ou vangloriar-se.
Não tenho dúvida da revolta e estupefação do
povo diante de tamanha corrupção e desmando que estamos testemunhando. Ouvíamos
dizer essas coisas, do país dos 10%: do ‘sabe com quem está falando’; ‘quem pode,
pode, e quem não pode, se sacode’, etc., mas diante da grandeza da corrupção e
extensão dos malefícios sobretudo o desemprego e a paralisação do país, ficamos
abismados, chocados, desesperados e pior — assombrados e desesperançosos.
E o desespero do povo leva ao aparecimento de
um salvador da pátria, o que leva inevitavelmente ao fascismo.
Devemos recordar que o mais belo exemplar
atual de fascista é um pretenso antifascista que se devota a tratar de
fascistas os que não o são.
Insisto em acautelar a todos:
O fascismo não é vencido somente nos campos
de batalha, deve ser combatido nos nossos cérebros, nos nossos corações, na
nossa alma. Não passa de uma palavra nova para um estado de espírito velho. O
fascismo é um gigante de papel que com um sopro voa para longe. Basta
enfrentá-lo. Por isso, tenham cautela no processo eleitoral deste 2018.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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