A Parquelândia dos tempos do Véi
Babau
O amigo Magno conta duas
pérolas. Década de 1990. No nosso bairro de nascença, a sensação era o Bar da
Chiquinha, na rua Padre Guerra, referência em atendimento, qualidade dos
serviços e preços. Vez ou outra, por falta de quem mais habilitado, assumia o
caixa do estabelecimento o marido da valorosa comerciante, de nome Mário Alves,
homem de alma pura, coração bom, mas chegadíssimo a uma pôde.
Por trás do
estabelecimento da inesquecível amiga havia uma feira livre, precisamente na
Rua Dom Manuel de Medeiros, entre a Dom Lourenço e a Pedro Queiroz, em frente
ao INSS dos dias atuais. De mais a mais, nesses tempos as mudanças da moeda
nacional eram frequentes. Padrão monetário mudava como quem muda de cueca na
Patagônia. Réis, Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro
Real...
Na dita feira havia uma
senhora, freguesa demais conhecida por ser especial. A debilidade mental fazia
dela figura super. Passeava por todas as barracas. No vai e vem da feira,
ganhava moedinha de um aqui, de outro ali, daquele acolá mais. Levava os
troquinhos pra casa e escondia no cofre. Fez isso por 20 anos.
Certo dia foi tomar um
caldo no Bar da Chiquinha, e quem estava no caixa? Mário Alves, já naquela base
- sereno de cana. Tomado o caldo, paga com um punhado significativo de moedas.
Dois exemplares de Réis, dois de Cruzeiro, cinco de Cruzeiro Novo, dois de
Cruzado, uma de Cruzado Novo, nove de Cruzeiro Real...
Combalido de tanta cana
que entornara no dia, Mário Alves olha pras moedas de toda ordem (de tantos
governos e eras) e fala sincero à senhora especial:
- Moça, pelo amor de Deus,
me perdoe! Eu só não tenho é troco pra lhe dar agora!
Tejo, calango gigante de papudim
E o Mário Chiquinha teve
mais uma crise de tanto entornar a água que papacu não bebe. Internaram o moço
no Hospital Menino Jesus, para fins de desintoxicação. Lá ele ficará por
eternas duas semanas.
Ocorre que mulher também
estava em crise, mas de asma. Chiquinha sofria muito com a falta de ar e a
tosse aos tirinetes. Tentara de tudo pra curar do mal do "fôrgo
curto". E nada até agora.
Até que uma vizinha, a já
falecida dona Maria, recomendou fosse a mulher de Mário Alves à feira pássaros
de então comprar um tejo e fazer uma garrafada com a banha do lagarto terrestre
da família dos teiídeos. O "tiú" foi enfim comprado e trazido pra
casa numa gaiola de arame. Bicho ficou no quintal. Em breve seria sacrificado e
a banha, aproveitada na asma de Chiquinha.
Era tempo de trazer Mário
de volta à casa, saturado já do Menino Jesus. Limpo da bebida, ele agora curte
o lar numa boa. Está tranquilo, bem-comportado. De repente, alguém grita do
quintal:
- O tejo sumiu!!!
O animal desaparecera da
gaiola. Chiquinha corria prum lado, o filho pra outro e nada do onívoro. Mário,
calmamente, responde à inquirição da esposa acerca do paradeiro do animal que
dar-lhe-á a banha curativa. Mário Alves...
- Eu vi ele! Tava atrepado
no muro. Mas se eu dissesse que tinha um calango daquele tamanho na parede,
vocês iam pensar que eu tava doido e iam me internar de novo!
Fonte: O POVO, de 21/9/2018.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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