Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A mídia costuma apregoar que as Instituições no Brasil estão resguardas
e funcionando, por isso a Democracia no país “está a salvo”. Muito embora
desconheça melhor forma de Churchill — 1874-1965), tenho dúvidas sobre a
condição de liberdade que a nossa proporciona ao indivíduo.
Devemos nos lembrar de que as Instituições são filhas do Poder e são
por ele apoiadas ou criadas. Como toda modalidade de Poder, tendem a oprimir
(não poucas vezes a individualidade). Qualquer feitio de Poder é despótico,
porém ninguém suporta viver estritamente dentro da ordem. Contudo, uma pessoa
relativamente normal poderá viver dentro dessa camisa de força regulatória.
Somente um paranoico pode obedecer a todas as limitações impostas pelas
Instituições.
Digo: É muito difícil conformar-se com uma determinação criada por
outro. Isso, em qualquer circunstância.
Reagimos com depressão, na maioria das vezes, a tantas ordens, causando
o mal-estar da civilização. Imaginem o que ocorre em Estados e regimes
totalitários, onde o Poder é hipertrofiado e a vigilância sobre os indivíduos é
enorme e atemorizante.
Não posso fugir ao fato de que a barbárie, o crime, os genocídios fazem
parte da natureza humana. Enfatizo: é uma característica do animal Homem (como
espécie). Nascemos com esse software
do mal. Torturadores, pedófilos, estupradores, etc. não estão desprovidos do
que denominamos “humanidade”. A besta-imunda, designação dada por Bertolt
Brecht (1898-1956) para nomear a maldade, está sempre prenha para parir
monstros, mesmo após a derrocada do nazismo, do fascismo e do comunismo. E é o
que se perpetua a cada oportunidade, como vem ocorrendo em diversos lugares.
Enquanto o noticiário nacional entope os brasileiros com denúncias, prisões,
roubalheiras da classe política e empresarial e os grandões são presos – e
depois soltos, o Mundo caminha e se transforma.
Na Alemanha, Espanha, França o centro político perdeu terreno e os
extremos se empoderaram.
Enquanto nossos políticos (dos 3 Poderes) não olham para nada a não ser
salvar a sua pele, com as exceções de praxe, o Brasil fica à deriva. Sem rumo
certo, ao sabor dos acontecimentos.
Por maior que sejamos como Nação, fazemos parte do Mundo e o nosso
entorno são os países da Terra.
Caindo no lugar comum falo: “A História é a mestra da vida”. Lembro aos
nossos mandatários que estudem a Revolução Francesa. Enquanto o povo passava
fome os nobres e aristocratas estavam ocupados com as intrigas palacianas.
Brasília e Versalhes se identificam. Apesar de a revolução francesa ter
acontecida entre 1789-1799, temos hoje 13 milhões de desempregados. A
violência, sob todas as formas e modalidades, impera e número de vítimas atinge
cifras de guerra.
Onde está a cabeça dos nossos atuais mandatários?
Não existe resposta simples para coisas complexas.
A Constituição e o Poder judiciário não foram constituídos para tudo.
Nessa situação a Besta-Fera pode parir um monstro psicopata, seja nas eleições
de 2018 ou muito antes ou depois.
Termino essas advertências citando Sigmund Freud no livro Mal-estar da
Civilização (1929)
“Os
homens de hoje levaram tão longe seu domínio sobre a Natureza que, com a ajuda
dela, tornou-se fácil exterminar uns aos outros, até o último. Eles sabem muito
bem e é isso que explica boa parte de sua
atual agitação, de sua infelicidade e de sua angústia”. Imagine agora, com o avanço técnico-científico que alcançamos neste
século XXI.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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