quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A BESTA-IMUNDA OU IMAGINE AGORA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A mídia costuma apregoar que as Instituições no Brasil estão resguardas e funcionando, por isso a Democracia no país “está a salvo”. Muito embora desconheça melhor forma de Churchill — 1874-1965), tenho dúvidas sobre a condição de liberdade que a nossa proporciona ao indivíduo.
Devemos nos lembrar de que as Instituições são filhas do Poder e são por ele apoiadas ou criadas. Como toda modalidade de Poder, tendem a oprimir (não poucas vezes a individualidade). Qualquer feitio de Poder é despótico, porém ninguém suporta viver estritamente dentro da ordem. Contudo, uma pessoa relativamente normal poderá viver dentro dessa camisa de força regulatória. Somente um paranoico pode obedecer a todas as limitações impostas pelas Instituições.
Digo: É muito difícil conformar-se com uma determinação criada por outro. Isso, em qualquer circunstância.
Reagimos com depressão, na maioria das vezes, a tantas ordens, causando o mal-estar da civilização. Imaginem o que ocorre em Estados e regimes totalitários, onde o Poder é hipertrofiado e a vigilância sobre os indivíduos é enorme e atemorizante.
Não posso fugir ao fato de que a barbárie, o crime, os genocídios fazem parte da natureza humana. Enfatizo: é uma característica do animal Homem (como espécie). Nascemos com esse software do mal. Torturadores, pedófilos, estupradores, etc. não estão desprovidos do que denominamos “humanidade”. A besta-imunda, designação dada por Bertolt Brecht (1898-1956) para nomear a maldade, está sempre prenha para parir monstros, mesmo após a derrocada do nazismo, do fascismo e do comunismo. E é o que se perpetua a cada oportunidade, como vem ocorrendo em diversos lugares.
Enquanto o noticiário nacional entope os brasileiros com denúncias, prisões, roubalheiras da classe política e empresarial e os grandões são presos – e depois soltos, o Mundo caminha e se transforma.  Na Alemanha, Espanha, França o centro político perdeu terreno e os extremos se empoderaram.
Enquanto nossos políticos (dos 3 Poderes) não olham para nada a não ser salvar a sua pele, com as exceções de praxe, o Brasil fica à deriva. Sem rumo certo, ao sabor dos acontecimentos.
Por maior que sejamos como Nação, fazemos parte do Mundo e o nosso entorno são os países da Terra.
Caindo no lugar comum falo: “A História é a mestra da vida”. Lembro aos nossos mandatários que estudem a Revolução Francesa. Enquanto o povo passava fome os nobres e aristocratas estavam ocupados com as intrigas palacianas. Brasília e Versalhes se identificam. Apesar de a revolução francesa ter acontecida entre 1789-1799, temos hoje 13 milhões de desempregados. A violência, sob todas as formas e modalidades, impera e número de vítimas atinge cifras de guerra.
Onde está a cabeça dos nossos atuais mandatários?
Não existe resposta simples para coisas complexas.
A Constituição e o Poder judiciário não foram constituídos para tudo. Nessa situação a Besta-Fera pode parir um monstro psicopata, seja nas eleições de 2018 ou muito antes ou depois.
Termino essas advertências citando Sigmund Freud no livro Mal-estar da Civilização (1929)
Os homens de hoje levaram tão longe seu domínio sobre a Natureza que, com a ajuda dela, tornou-se fácil exterminar uns aos outros, até o último. Eles sabem muito bem e é isso que explica boa parte de sua atual agitação, de sua infelicidade e de sua angústia”. Imagine agora, com o avanço técnico-científico que alcançamos neste século XXI.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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