Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
Em
plena quarentena, observei, diante de minha casa, sete homens flanando, como
diziam os escritores na Paris da Belle Époque. E lhes perguntei: "Vocês assim, sem máscaras, passeando livremente em meio ao
isolamento social não têm medo do coronavírus?".
Um deles, talvez o líder do grupo, respondeu: "Essa doença eu não pego, porque tenho fé em Deus".
O
fato me fez lembrar o mestre de obras João Severo, encarregado-mor das
construções do Farias Brito de antigamente. Indaguei-lhe: "As aulas do Colégio serão reiniciadas na próxima segunda. Em
que dia será o fim da reforma?". Ele, na
simplicidade do seu linguajar, me disse: "Se
Deus quisé, no sabo, nós termina". Então,
fiz a provocação: "E se Deus não quiser?". O mestre virou filósofo:
"Aí né bom nós questioná não".
Depois
desses dois episódios e de outros casos, preocupa-me o enfrentamento da
pandemia, principalmente o ataque do vírus àqueles que se dizem, às vezes,
pobres, infelizes ou, ainda, excluídos porque "Deus quis". Na
realidade, mais correta é a fala do professor Luís Carlos Landim ao dizer:
"Os planos de Deus se realizam quando você os torna seus".
Bill
Gates, financiador de potenciais vacinas contra a Covid-19, impressionou-se ao
saber que em muitos países algumas crianças têm como causa mortis a diarreia. Ao ler sobre o assunto em um artigo, sua
mulher, Melinda Gates, afirmou: "Isso é
inacreditável. Se meus filhos têm esse sintoma, eu vou à farmácia ou os levo ao
médico, e a situação fica resolvida". O
casal dedicou-se à resolução do problema e salvou muitas vidas.
Afinal,
de quem é a culpa de tantas mortes injustas? É do Ser Supremo? É do presidente,
do governador, do prefeito? Não. É de toda a sociedade, onde também estamos
inseridos.
Aproveitemos,
pois, este período de pandemia, com o aumento do índice de solidariedade
mundial, para que as atitudes entre seres humanos sejam cada vez mais
fraternas. Não precisa ser tão rico, quanto Bill Gates, ou diligente, como João
Severo, para ser capaz de um gesto de doação. Até um abraço amigo, nos dias em
que pudermos, é de grande valor, irrefutável lição da quarentena.
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 4/06/20. p.16.
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